Capelão é perseguido por drones na linha de frente da guerra na Ucrânia

O missionário Dave Eubank, da organização Free Burma Rangers, relatou experiências durante visita à linha de frente da guerra.

Fonte: Guiame, com informações do God ReportsAtualizado: quarta-feira, 8 de outubro de 2025 às 15:20
Soldado ucraniano escolta missionários por uma cidade destruída nos arredores de Pokrovsk. (Foto: Free Burma Rangers)
Soldado ucraniano escolta missionários por uma cidade destruída nos arredores de Pokrovsk. (Foto: Free Burma Rangers)

O missionário Dave Eubank, soldado da reserva do Exército dos EUA e fundador da organização Free Burma Rangers (FBR), esteve com parte de sua equipe nas linhas de frente da guerra na Ucrânia.

Ele relata que, em meio ao caos e às tragédias do conflito – iniciado em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia lançou uma invasão em larga escala ao território ucraniano –, testemunhou intensos sofrimentos, mas também milagres.

O grupo esteve envolvido em situações de extremo estresse, como fugir em meio à queda de bombas ou ser perseguido por drones militares – experiências que se tornaram corriqueiras para aqueles que estão na linha de frente do conflito.

“Estávamos correndo por uma estrada cheia de bombas, com a floresta em chamas dos dois lados, em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia”, relata.

Edifício bombardeado em Kharkiv. (Foto: Free Burma Rangers)

“Artilharia e mísseis russos nos atingiam por todos os lados, mas nossa principal ameaça eram os novos drones FPV guiados por fibra óptica”.

Dave diz que Alex, um capelão voluntário, estava ao volante de seu Land Rover, acelerando o mais rápido que podia para nos tornar um alvo menor.

“Ele nos contou como havia testemunhado o poder destrutivo dos drones para aniquilar um veículo inteiro de pessoas. Ele próprio havia sido perseguido por um drone russo durante uma evacuação de civis e o havia ultrapassado por pouco.”

Famílias sob risco

Dave conta que naquele dia, eles foram convidados a ir a uma pequena vila a menos de dois quilômetros e meio do avanço militar russo.

“Havia algumas famílias que ainda não tinham sido evacuadas, mas agora queriam ir embora. Quando chegamos, descobrimos que se tratava de uma mulher, seu marido e dois outros homens”, conta.

lex, Mark, Sahale e Pete ajudam a evacuar as famílias. (Foto: Free Burma Rangers)

Segundo Dave, inicialmente a mulher não queria ir embora, mas com o som de foguetes e mísseis sobre eles e a destruição das casas de seus vizinhos, “conseguimos encorajá-la, dizendo que onde há vida, há esperança, e que orávamos para que um dia ela pudesse voltar.”

Dave conta que tiveram que ser francos dizendo que se ela ficasse, provavelmente morreria. “Em lágrimas, ela concordou e veio com um dos homens, mas dois decidiram ficar para evacuar mais de seus pertences.”

O grupo seguiu pela estrada até, em determinado momento, receber a informação sobre uma senhora que permanecia em sua casa correndo risco de ser atingida por algum ataque.

“Enquanto dirigíamos para o próximo lugar, estávamos olhando para o monitor do nosso drone e flagramos um drone russo, com a visão do piloto, chegando à nossa área”, relata.

“Aceleramos, desviamos e viramos em uma estrada lateral, e o drone desapareceu, atingindo um alvo diferente”.

Não há lugar seguro

Quando Dave e os demais missionários chegaram à casa perceberam que alguém ainda morava lá, pois havia um cachorro amarrado do lado de fora com uma corrente.

“Olhamos ao redor por um momento, buzinamos e chamamos a senhora, mas não houve resposta. Alex disse: ‘Bem, voltaremos mais tarde, mas agora não podemos ficar’. Buzinamos mais e chamamos novamente. Perguntei se poderíamos soltar a cadela, caso a senhora não voltasse, e Alex disse: ‘Não, ela vai voltar. Ela é fazendeira aqui e não quer ir embora, mas vamos tirá-la daqui mais tarde. Agora, temos que pegar as outras pessoas que temos e sair agora mesmo.’”

Van civil destruída por ataque russo. (Foto: Free Burma Rangers)

Depois continuaram levando a primeira mulher e o homem para uma área mais segura, onde pudessem ficar com parentes. “No entanto, não há lugar seguro na Ucrânia”, afirma.

Dave diz que naquela noite, dois mísseis caíram em cima do prédio em que estavam hospedados. “Um caiu a menos de 200 metros, atingindo nosso prédio com pedras, matando uma pessoa e ferindo outra. Teria matado mais, porém a maioria das pessoas já havia fugido.”

“Esses ataques russos mataram sete pessoas, incluindo um bebê de apenas alguns meses de idade, e feriram pelo menos outras 19 em um ataque a um complexo de apartamentos”, explica Dave.

Ataques pesados

Ele conta que durante aquela noite, houve mais ataques pesados ​​de drones russos Shahed, sistemas de armas Eskandar, bombas planadoras e mísseis.

“Descobrimos mais tarde que foi o maior ataque combinado no último mês e meio, enquanto as negociações continuavam entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, seguidas pelas [negociações] entre Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.”

Dave relata que pessoas foram mortas em diferentes cidades por toda a Ucrânia, não apenas no local onde estavam. Segundo ele, embora os russos não tenham conseguido avançar muito rapidamente, eles fizeram progressos incrementais e continuam seus ataques dia e noite.

Milhares de baixas

Desde o início da invasão, a Rússia já sofreu mais de um milhão de baixas militares, enquanto a Ucrânia contabiliza mais de 400 mil. Além disso, mais de 60 mil civis ucranianos foram mortos ou feridos.

Cerca de 11 milhões de pessoas foram deslocadas dentro do país, e mais de 6,9 milhões buscaram refúgio em outras nações.

“Nossa equipe veio à Ucrânia para cumprir uma promessa: apoiar o povo daqui. Fomos convidados há alguns anos por Julia, uma jovem ucraniana que se casou com um de nossos voluntários, Kingsley.”

Dave lembra a fala de Julia em meio à guerra: "Não alimentem o medo, alimentem a fé".

Missão Burma

Dave conta que chegaram na Ucrânia para oferecer ajuda, esperança, amor, apoio médico, treinamento médico e auxílio com suprimentos de emergência, geradores, carregadores portáteis e veículos que pudessem ser usados ​​para transportar pessoas como ambulâncias.

“Nosso papel e presença aqui são muito pequenos, pois nosso principal esforço ainda está na Birmânia e no Oriente Médio.”

Ele diz que um dos destaques da viagem foi o culto com o Pastor Yuri em uma igreja ucraniana.

“A banda de louvor naquele dia foi liderada pelo Pastor Mark, filho de um dos principais pastores da Ucrânia. Foi lindo. Mark foi prisioneiro dos russos nos primeiros dias da guerra, e sua igreja foi tomada por eles”, conta.

“A cruz foi demolida e agora é usada pelos militares. Por um milagre, Mark e sua família conseguiram escapar, e agora ele serve pessoas em toda a Ucrânia. A congregação era muito menor do que era antes da guerra, mas ele ainda adora a Deus fielmente.”

Culto com os pastores Mark e Yuri em uma igreja ucraniana. (Foto: Free Burma Rangers)

Dave diz que eles tinham uma reunião de comunhão especial para soldados, que acabaram conhecendo e ouvindo.

“Visitamos alguns para ver como poderíamos ajudar. Compramos suprimentos para a polícia local, cujos efetivos continuam caindo.”

Ele conta a história de um soldado chamado Sergei, “um dos nossos amigos de uma missão anterior, que trabalha como policial lá.”

Segundo Dave, a esposa de Sergei foi morta pelos russos na terceira semana da invasão. “Estar com ele é sempre de partir o coração”, afirma.

Sergei falou sobre como tem sido a rotina na guerra: “Meus homens estão morrendo como uma esteira rolante.”

“Não são apenas meus homens, a polícia, mas também soldados, e até civis, que estão morrendo por toda a Ucrânia. É como uma esteira rolante de corpos, mas não vamos desistir. Eu me apego a Jesus todos os dias.”

‘Jesus é nossa única esperança’

Dave afirma que ele e sua equipe ficaram impressionados com pessoas em toda a Ucrânia, que clamam a Deus e afirmam sua fé, apesar de tudo o que viram.

“Nossa única esperança é Jesus, e por isso invocamos o Seu nome”, disseram-nos.

“Por favor, digam aos americanos para não nos abandonarem. Esta não é uma guerra apenas pelo povo ucraniano que sofreu uma invasão maligna. É pela liberdade de fé aqui e pela liberdade de todos em todo o mundo. Muito obrigado pelo que vocês fizeram por nós e, por favor, agradeçam aos cristãos nos Estados Unidos por orarem por nós.”

Dave diz que depois foram a uma área fora de Pokrovsk em um dos últimos dias da viagem missionária.

“É uma área de avanço russo, com combates muito pesados. Os combates não se limitam a essa área, porque as forças especiais russas fizeram incursões bem atrás das linhas. Fomos ver uma cidade que há apenas três semanas ainda tinha grande parte de sua população”, diz.

“Desde então, houve ataques quase diários de mísseis e foguetes. Na manhã em que chegamos, bombas planadoras e drones Shahed atingiram a cidade”, relata.

Casa destruída por ataque russo que matou residente fazendeira. (Foto: Free Burma Rangers)

Dave conta que havia unidades de infiltração russas nas proximidades, além de confrontos constantes para tentar rechaçá-las.

“Fomos com Alex novamente, junto com um soldado ucraniano, para documentar o que estava acontecendo. Sky, membro da equipe da FBR, e meu filho Pete foram gravar o vídeo. Pete monitorou o scanner do drone devido à ameaça constante de drones FPV”, diz.

Dave diz que passar por aquela cidade foi como ver o fim do mundo.

“Sentimos tanto a tristeza da perda quanto o medo de sermos adicionados às perdas. Depois disso, voltamos para Kiev e passamos por um grande campo de girassóis. Há girassóis por toda parte na Ucrânia. Eles são lindos e um símbolo de esperança. Saímos para tirar uma foto e gravar um vídeo para encorajar as pessoas a continuarem orando e ajudando os ucranianos”, conta.

“Alguns de nossa equipe ficaram para trás para continuar ajudando, enquanto outros de nós estão voltando para missões na Birmânia. Muito obrigado por orar e ajudar o povo da Ucrânia. Eles precisam disso. Oramos para que os russos deixem a Ucrânia, pela liberdade e pela reconciliação entre ucranianos e russos em nome de Jesus.”

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