Quase 200 líderes evangélicos e suas famílias foram expulsos na Turquia desde 2018, numa ação de repressão à pequena comunidade cristã no país.
De acordo com o A-Monitor, as deportações em massa aconteceram baseadas em relatórios secretos da Inteligência turca, a National Intelligence Organization (MIT), sob falsas acusações de risco à segurança nacional.
Trinta e cinco missionários estrangeiros foram deportados em 2019, 20 em 2020 e outros 13 em 2021, conforme um relatório da Associação de Igrejas Protestantes da Turquia, divulgado na semana passada. Junto com os cônjuges e os filhos, o total de evangélicos expulsos alcançou o total de 185.
Segundo Soner Tufan, porta-voz da associação, entre os líderes deportados, 28 eram americanos, oito do Reino Unido, outros oito da Coreia do Sul, cinco eram cidadãos de países da América Latina e o restante de outras nações.
O esforço sistemático da Turquia em expulsar missionários protestantes e impedir que outros cheguem ao país teve início após o então presidente dos EUA, Donald Trump, impor sanções à nação para libertar o pastor americano Andrew Brunson, em agosto de 2018.
Andrew serviu a uma pequena congregação na cidade de Izmir por mais de 20 anos até ser acusado falsamente de envolvimento com terrorismo e com a tentativa de golpe ao governo, em 2016. Com as sanções dos EUA, a Turquia enfim libertou o pastor em outubro de 2018, após passar 2 anos na prisão.
A Associação de Igrejas Protestantes da Turquia afirma que o governo não explica quais as razões para os missionários serem considerados uma ameaça à segurança nacional, sob o escudo de sigilo da Inteligência.
Repressão à comunidade cristã
O missionário americano Ken Wiest, que viveu na Turquia por 33 anos, está lutando uma batalha judicial contra o seu banimento do país. Em 2019, ele e a família viajaram aos EUA para visitar os parentes, como sempre faziam todos os anos. Um pouco antes deles embarcarem de volta para a Turquia, souberam que haviam sido proibidos de retornar ao país.
“Minha vida inteira mudou naquele dia no aeroporto. Eu não pude nem dizer adeus aos meus amigos”, disse Wiest ao Al-Monitor. A esposa do missionário teve permissão apenas de entrar na Turquia para recolher alguns pertences da família e vender outros.
“Começamos uma nova vida do zero aqui. Sinto uma grande dor, uma tristeza muito profunda e um pouco de raiva”, relatou Ken. Após ter seu recurso negado pelos tribunais turcos, Ken Wiest levou o caso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
“Não somos de forma alguma uma ameaça à segurança da Turquia. Somos submetidos a esse tratamento apenas porque somos cristãos. Argumentamos no Tribunal Constitucional que isso é uma violação da liberdade de religião”, declarou o líder.
A onda de deportações de missionários está impactando as igrejas na Turquia, que dependem de cristãos estrangeiros para formação e treinamento teológico de líderes locais. A legislação turca não permite que igrejas ofereçam educação religiosa aos membros.
A Turquia é listada como o 42º país onde é mais difícil para um cristão viver, segundo a lista de perseguição da organização Portas Abertas.