Deus pode enxugar todas as lágrimas. Foi isso o que viveu Aisha, 28 anos, depois de sobreviver a um ataque em Kano, no norte da Nigéria. Casada e mãe de três filhos, ela foi vítima de violência e abuso sexual, mas através da fé aprendeu a perdoar e seguir em frente.
Certa noite, Aisha estava dormindo com seu marido e seus filhos, quando extremistas Fulani invadiram a comunidade e entraram em sua casa.
“Eles nos obrigaram a voltar para o nosso quarto e exigiram dinheiro. Nós dissemos a eles que não tínhamos. Eles notaram que tinha uma Bíblia na sala e supuseram que meu marido era pastor. ‘Por causa disso, devemos levá-lo embora’, eles disseram”, disse Aisha à organização Portas Abertas.
Quando levaram o marido de Aisha para fora e ordenaram que ele mostrasse as casas dos ricos da aldeia. Cerca de 10 extremistas ficaram com ela e as crianças. Foi nesse contexto que um grande trauma foi gerado em sua vida.
“Eles exigiram sexo e eu implorei que não. Eles me bateram. Um deles me estuprou, e depois uma segunda pessoa me estuprou. Depois disso, foram embora, levando tudo o que tinha valor”, relata Aisha.
“Eu pensei que eles tinham matado meu marido, mas algumas horas depois, ele voltou para casa.’O que aconteceu?’, ele queria saber. Eu não queria contar a ele, mas ele insistiu: ‘O que eles fizeram com você?’”, ela conta. “Entre soluços, eu contei o que eles tinham feito comigo — eu nunca pensei que iria dormir com outro homem. ‘Limpe suas lágrimas, não há problemas’, ele me confortou”.
Na manhã seguinte, Aisha foi com o marido ao hospital para fazer exames, mas os médicos disseram que só poderiam realizá-los depois de três semanas. “Meu marido e eu ficamos confusos, mas ele me disse: ‘Mesmo que você esteja infectada com alguma doença, eu nunca vou deixar você! Eu ficarei ao seu lado. Decidimos que não voltaríamos ao hospital”, lembra.
Imagem de mulher nigeriana cedida pela organização Portas Abertas. (Foto: Portas Abertas)
Os dias passaram a ser difíceis para Aisha. “Eu não tinha paz no meu coração. Eu não conseguia comer e dormir. Sempre que eu estava sozinha, me lembrava de como aqueles dois homens me estupraram. Eu senti tanto ódio deles em meu coração”.
Seu sentimento começou a mudar depois de participar de um programa pós-trauma da Portas Abertas. “Depois seminário, comecei a sentir paz de espírito”, afirma Aisha. “Deus me ensinou a perdoar. Quando me lembro do incidente… Não sei, mas o ódio desapareceu”.
“Deus prometeu que um dia Ele enxugará todas as nossas lágrimas, toda a dor e preocupações que enfrentamos. Mas uma coisa que eu sei é que Deus opera tudo para o bem daqueles que O temem, então eu quero que todos que passaram pela minha situação saibam que Deus está ciente disso e que Ele tirará o bem da situação”, acrescenta.
Através do apoio da Portas Abertas, em 2018, cerca de 728 cristãos da Nigéria receberam aconselhamento e treinamento, incluindo pastores que foram treinados para identificar e ajudar vítimas de traumas. Foi nesse programa que Aisha descobriu como Deus a enxerga: “Eu vi a mente de Deus a meu respeito, como Ele olha para mim. Ele é o único que pode trazer conforto em meio às coisas que aconteceram”.
“Quero que todos que conheçam a dor que eu experimentei e ainda experimento, porque esse mal não parou de acontecer na minha comunidade. Eu quero que as pessoas no mundo saibam que é muito doloroso ser estuprada. É uma ferida que leva um processo gradual para ser curada”, observa.