Experiência pessoal ou heresia? História cheia de significados ou mero entretenimento? O lançamento do filme "A Cabana" nos cinemas trouxe de volta um debate acalorado que já havia ocorrido na época da publicação do livro homônimo, escrito por William P. Young.
Apesar de muitas "heresias" denunciadas por cristãos e até mesmo teólogos na obra, as opiniões acabam sendo bem divergentes e muitos apontam a história (do filme e do livro) como uma ferramenta interessante para promover um despertar nos corações das pessoas, abordando a importância do perdão e da busca pela paz que se encontra em Deus.
Em entrevista exclusiva ao Portal Guiame, o pastor da Igreja Adventista da Promessa, escritor e conferencista sobre temas relacionados à Família, Edmilson Ferreira Mendes expressou sua opinião sobre "A Cabana" - produção ele apontou como uma forma de entretenimento com conteúdo relevante - e reforçou a questão de que a história trata de experiências pessoais do protagonista, sem o objetivo de transformá-las em doutrina ou qualquer outro tipo de "guia" para os cristãos.
Confira a entrevista na íntegra logo abaixo:
Entre elogios e críticas, o filme "A Cabana" (assim como no Livro) acabou gerando grande polêmica, devido à forma como a experiência sobrenatural de um homem com Deus é ilustrada. Em sua opinião, é possível que Deus proporcione uma experiência espiritual como aquela ao ser humano (seja em sonhos ou até mesmo visões)?
Em minha opinião, sim. Experiências pessoais, como a própria expressão indica, são experiências pessoais tão somente. Ou seja, uma experiência pessoal não ganha status de norma. Na própria bíblia existem muitas experiências que foram pessoais, não se repetiram e nem passaram a ser texto normativo para a fé cristã.
O filme acabou sendo até mesmo apontado como de cunho espírita, devido a certas cenas, como a carta que o personagem principal recebe "misteriosamente" e um tipo de reencontro que Deus permite que ele tenha com seu falecido pai. Você concorda com tais alegações? Por quê?
Não concordo. Li o livro e assisti ao filme. O próprio filme se encarrega de criar argumentos para se evitar esta interpretação, pois toda experiência que ele vive está limitada por uma batida do carro que ele dirige com um caminhão e, no final do filme o amigo dele diz que ele nem chegou a ir a cabana. No diálogo que ele tem com o personagem Papai, fica esclarecido para ele que não é possível fazer qualquer contato com a filha que se foi. Pode-se alegar que a cena é de mau gosto, que é sem pé e sem cabeça, que é desnecessária, mas entendo a dita cena tão somente como uma parte do sonho dele no sentido de liberar perdão para o seu pai.
A retratação de Deus e do Espírito Santo inicialmente pelas imagens de mulheres também gerou grande polêmica. A partir de qual ponto você acredita que estas representações poderiam se tornar blasfemas?
Não colocaria a retratação de Deus e do Espírito na figura de duas mulheres como blasfemas. Quem definiu que Jesus é um cabeludo loiro de olhos azuis? Ou um barbudo de longos cabelos pretos com olhar sofredor? Quanto as outras duas pessoas de trindade, o Pai e o Espírito, fica ainda mais difícil perguntar ou responder, afinal qual seria a representação melhor para ambos? As manifestações e teofanias de Deus somente Ele controla e decide, não temos como limitá-las. Representações blasfemas das pessoas divinas temos assistido nas manifestações populares pelas ruas do nosso Brasil e do mundo através de ativistas que não suportam os valores e os símbolos cristãos.
De forma geral, como você acredita que os cristãos devem olhar para o filme "A Cabana"?
Como entretenimento. E este é o ponto que provoca tanta discórdia e discussão. Vivemos um tempo no qual parte desta geração lê a bíblia como entretenimento e assiste a filmes como coisa séria e real, fazendo uma inversão que só atrapalha. Quando vou num cinema não espero de hollywood fidelidade a palavra de Deus, exegese bem feita dos textos bíblicos, de hollywood sei que terei entretenimento.
A preocupação dos produtores é quanto aos efeitos especiais, o desempenho dos atores, a fotografia, a luz, o áudio, a cenografia, o figurino e um roteiro capaz de provocar emoção e interesse a cada minuto. Hollywood quer enfim contar boas histórias. A bíblia é bem diferente, não é um livro que tem a pretensão de “contar boas histórias”, é um livro que TEM a MELHOR HISTÓRIA! E tudo com uma diferença crucial, não é ficção, é a história da criação, queda, salvação e redenção do homem. As grandes perguntas da humanidade, “Quem sou?, De onde vim?, Para onde vou?, Qual o propósito da minha vida?”, estão todas respondidas no livro de Deus. Portanto, quando leio e assisto A Cabana, evidentemente tem coisas que me agradam e outras não, mas eu pessoalmente não desqualifico a obra do autor por conta das coisas que discordo. Vejo o livro e o filme como ferramentas que penetram onde muitas vezes denominações e pregadores não conseguem penetrar.
Também não acho que a fé dos cristãos pode ser assassinada por qualquer “absurdo” que possa existir no filme ou no livro, se assim fosse, não teríamos mais igrejas no Brasil ou teríamos muito poucas igrejas, digo isso porque infelizmente o número de cristãos entregues a novelas, BBBs, séries decadentes, pornografias e mais um monte de lixo cultural, simplesmente não para de crescer, a vida dupla de muitos chamados cristãos vai se tornando cada vez mais comum.
Enfim, como dito por Paulo aos Tessalonicenses 5:21: “Examinai tudo. Retende o bem...”, a cultura está aí e precisamos dialogar com ela todo dia, aquilo que cada um julgar exagero artístico, basta rejeitar e orientar aos que estiverem ao alcance quanto ao perigo do erro, porém aquilo que for bom pode sim contribuir com variados benefícios.