Apesar dos riscos impostos pela pandemia na África, o cirurgião obstétrico missionário Andrew Browning está preparado para voltar ao continente e se diz “ansioso para ajudar” as comunidades carentes de diversos países da região onde passou mais de 17 anos.
"Depois de ter vivido a maior parte da minha vida adulta na Etiópia e na Tanzânia, tratando milhares de mulheres com fístula obstétrica e cuidando de milhares de mulheres grávidas, sinto que é onde está meu ministério", disse Browning.
O Dr. Browning ficou atraído por trabalhar na África depois de ouvir a palestra de uma enfermeira missionária na Escola Dominical, quando ele tinha apenas seis anos, em Bowral, onde cresceu.
Ele trabalhou pela primeira vez na Etiópia com a pioneira cirurgiã de fístula Dra. Catherine Hamlin em 1996 e se mudou para lá permanentemente em 2001.
O médico se casou com a professora Stephanie Hall e criaram seus dois filhos na Etiópia e na Tanzânia, enquanto ele operava em países como Serra Leoa, Chade, Quênia, Togo, Sudão do Sul, Somalilândia, Nepal, Índia, Bangladesh, Malawi e Congo.
Atendimento obstétrico
"Deus me abençoou com as habilidades cirúrgicas para poder operar com mais de 7.000 mulheres que sofreram ferimentos graves como resultado de partos obstruídos", disse Browning.
Na Austrália, uma em cada 16.000 mulheres morre de complicações na gravidez.
Na África Subsaariana, uma em 37 mulheres morre. Na região em que o Dr. Browning trabalha como missionário, o número é um em 12.
Em todo o mundo, 810 mulheres morrem todos os dias de complicações na gravidez.
Uma das complicações mais comuns é um trabalho de parto obstruído. Se uma mulher não puder chegar a um hospital para uma cesariana, ela corre o risco de desenvolver uma fístula debilitante, onde fica com urina com mau cheiro e ou fezes que vazam do corpo pelo resto da vida.
"Essas fístulas, que são buracos no interior das mulheres, ocorrem após o trabalho de parto por algumas vezes até 10 dias", disse Browning.
“Nos países ocidentais como a Austrália, as mulheres que têm bebês grandes demais ou são obstruídas por um motivo ou outro simplesmente vão ao hospital fazer uma cesariana - e o bebê é removido com facilidade e segurança pelo abdômen”, explica.
“No entanto, em lugares como a África, milhões de mulheres não têm acesso a esse tipo de intervenção; o trabalho de parto pode continuar por dias até que o bebê e a mãe morram. É uma situação incrivelmente triste”, relata.
"Se a mãe sobrevive - e muitas vezes isso não acontece - fica com orifícios internos entre a vagina, o intestino, a bexiga e outros órgãos. A vida delas agora é de miséria porque elas vazam urina e fezes. [Por isso] seus maridos costumam se divorciar delas e são banidas de suas comunidades locais”, diz.
Alegria em ajudar
O Dr. Browning fala de sua satisfação ministerial. “É uma alegria poder viver e trabalhar na África e poder curar as mulheres dessa terrível aflição - uma aflição que muitas vezes leva à depressão e à tentativa de suicídio”, diz.
Ele fala do sucesso nas intervenções realizadas na África: “Tive a sorte de operar mulheres com fístula por até 50 anos e consegui curá-las em apenas alguns minutos. Louve a Deus!"
Browning trabalhou na África durante surtos de Ebola e contraiu malária mais de uma vez. Em uma ocasião, a doença transmitida por mosquitos quase tirou sua vida. Mas, apesar dos obstáculos, o Dr. Browning vê seu trabalho como um instrumento de Deus.
Após 17 anos vivendo em países africanos, o Dr. Browning e sua família retornaram à Austrália para que seus dois filhos pudessem frequentar o ensino médio. Enquanto estiveram fora, eles não perderam o ensino primário, porque onde quer que fossem, a mãe criava escolas para eles e outras crianças que precisavam de educação.
Apesar dos anos de serviço missionário, o Dr. Browning não está preparado para descansar. Ele volta à África quatro a cinco vezes por ano para operar com mulheres que continuam sofrendo.
Ele também supervisiona os hospitais que estabeleceu na Etiópia e na Tanzânia.
"Graças às pessoas que doaram à Fundação Barbara May, fomos capazes de estabelecer hospitais não apenas para reparar a fístula, mas também para impedir que isso acontecesse - introduzindo cuidados maternos de primeira classe", disse Browning.
Pandemia
Teme-se que pelo menos um quarto de bilhão de pessoas em toda a África tenha coronavírus nos próximos 12 meses.
“Tragicamente, com a disseminação do coronavírus, as mulheres africanas - como a maioria de nós - não foram autorizadas a sair de suas cidades para ir ao hospital para serem operadas ou até mesmo para dar à luz”, diz.
Atualmente, não é permitido viajar da Austrália para a maioria dos países onde o Dr. Browning trabalha, o que impossibilita sua viagem para ajudar as comunidades neste momento.
“Me entristece saber que essas mulheres estavam ansiosas para serem curadas, e acabaram tendo suas esperanças frustradas no último minuto. Oro para que elas não pensem em acabar com suas vidas, como tantas mulheres fazem quando desenvolvem uma fístula”, disse Browning.
Andrew Browning com a equipe do Kivulini Hospital Tanzania. (Foto: Reprodução/Eternity)
Outro desafio enfrentado pelo Dr. Browning é o esgotamento de doações para sua instituição de caridade Barbara May Foundation, devido aos efeitos contínuos da Covid-19.
Fundada em 2009, a Barbara May Foundation (BMF) fornece financiamento aos profissionais médicos australianos Valerie Browning e Andrew Browning. Eles administram projetos na Tanzânia e na Etiópia que aliviam a alta incidência de mortes e ferimentos extremos na gravidez e no parto.
"Precisamos continuar administrando nossos hospitais na Tanzânia e na Etiópia se quisermos curar mulheres com fístula e, ao mesmo tempo, impedir que outras mulheres as tenham", preocupa-se o cirurgião.
“Para ajudar a erradicar essa condição debilitante, precisamos de outros 2.000 hospitais maternos na África. Agora temos três maternidades em funcionamento, então ainda temos mais 1.997 [a serem construídos]”, relata.
Browning está escrevendo um livro sobre a vida de mulheres que sofrem e que frequentemente são curadas de fístula.