A morte de uma livraria
Me comprometi, comigo mesmo, não reclamar do Brasil.
Afinal de contas em qual país do mundo podemos comer tão bem por preços acessíveis, ter tantos recursos naturais e blá, blá, blá.
Então, fica registrado que o assunto que vou levantar não é mais uma reclamação, é antes de tudo uma constatação.
Nos últimos anos, tenho visto, primeiramente de forma bem discreta, muitas livrarias sendo fechadas. Uma pequena ali, outra média lá; e no começo não se liga uma coisa com a outra. Mas então, mais recentemente, grandes livrarias, depois de décadas de atividades e de reconhecimento, simplesmente fecham suas portas.
Comecei a me perguntar, por que tantas livrarias estão morrendo?
Conversando com algumas pessoas, fico sabendo que a agonia, que finalmente as levou à morte, vem de longa data, em sua maioria.
Eu tinha por hábito entrar em pequenas livrarias e procurar por coisas esquecidas na prateleira. Chegava a voltar a mesma livraria depois de algumas semanas, para verificar se o "meu" livro ainda continuava ali. Quando, porventura, o livro que julgava ter a posse, não mais se encontrava na prateleira, me sentia ultrajado, afrontado. Repeti isso inúmeras vezes.
Então, me dou conta que, eu ajudei a matar estas pequenas livrarias, afinal de contas, ninguém vive só de brisa. Ao não comprar o livro, que eu já considerava meu, contribuí imensamente para a definhação e conseqüente morte de várias livrarias em minha cidade.
Hoje, me sinto péssimo a respeito. Mas tal qual um réu confesso, posso me justificar, embora isso não traga de volta à vida as livrarias de que tanto gostava. Em minha defesa alego que não possuía recursos financeiros para tal empreitada. Era viver, pagar aluguel e comer ou comprar aquele livro tão sonhado. Não tinha escolha naquele momento.
Infelizmente, viverei com este remorso o resto da minha vida.
Em contrapartida, hoje, temos as livrarias virtuais, que nem de longe têm o mesmo charme, o mesmo cheiro ou clima, mas ganham em agilidade, organização e até preço.
Como eu havia prometido, não se trata de uma reclamação do tipo "a culpa é do brasileiro que não lê". Pelo contrário, o percentual é pequeno, mas como o Brasil tem uma grande população, quando se transforma o percentual em números estes são expressivos.
Fica aqui minha constatação e saudosismo de um tempo que está passando e já foi, e um novo que inevitavelmente já está aqui.
Sandro Bier é graduado em Administração de Empresas pela FESP, e Letras com ênfase em estudos literários pela UFPR. Atua na área editorial desde 2002, como editor para Encontro Publicações, Editora Esperança e Página Nova. Professor de leitura e interpretação de textos da Faculdade de Teologia FATEV, é também consultor da ferramenta de evangelismo Curso Alpha para o Brasil.