Como os cristãos devem olhar para o filme 'A Cabana'? Teólogos respondem

Procurados pelo portal Guiame, teólogos responderam a questões pertinentes e polêmicas que têm sido associadas ao filme "A Cabana".

Fonte: Guiame, por João NetoAtualizado: quinta-feira, 13 de abril de 2017 às 22:01
Cena do filme "A Cabana". (Foto: Christian Today)
Cena do filme "A Cabana". (Foto: Christian Today)

Como ocorreu com sucesso literário "A Cabana", o recente lançamento do filme homônimo também está gerando grandes debates entre cristãos, sobretudo entre pastores e outros especialistas em teologia, de diferentes denominações e linhas de pensamento.

Por um lado, há um grande público que se diz edificado pela mensagem que o filme e o livro passam. Por outro, há aqueles que alertam sobre diversas heresias presentes neste enredo, que podem soar como enganosas sobre princípios bíblicos e experiências espirituais.

Vendo estes tão acalorados debates sobre a obra, sobretudo nas redes sociais, o Portal Guiame buscou a opinião de dois pastores de diferentes linhas de pensamento a respeito do filme, com o objetivo de lançar outras respostas teoligicamente embasadas sobre esta questão e estes responderam com exclusividade.

Segundo o pastor Bruno dos Santos, da Igreja Apostólica Vida Nova, o filme faz uso de uma teologia relativista para contar sua história - costume, segundo o teólogo, comumente adotado até mesmo por muitos cristãos pós-modernos.

"O deus relativizado da Cabana, se insere na fé relativizada do cristão de nossos dias, que vai ao cinema para ouvir Deus falar e vai as igrejas para ter entretenimento aos domingos", alertou conforme um artigo escrito pelo colunista, exclusivamente para o Guiame.

"A percepção é confusa e o deus da cabana é bem parecido com o deus da Tenda. Um deus misterioso, que se aproveita da dor e fragilidade, um deus moldado às nossas expectativas, um deus do liberalismo teológico, cheio de percepções humanas, gregas e universais", acrescentou.

Pastor Bruno também destacou que a caminhada cristã vai muito além de obter respostas para as injustiças da vida e que Deus não se limita a locais, como uma cabana, para se revelar.

"O Cristo de Deus revela bem mais que uma explicação para o sentido da vida. Até porque não existe sentido em encontrar sentido sem Deus na vida. Ele "tabernaculou" entre nós. Ele deixou tendas e cabanas há muito tempo. Hoje ele vive em nós pelo seu Espírito. E se revela em nós não com recados, mas pela Sua Palavra", afirmou.

Pastor Bruno também destacou "A Cabana" parece não ser apenas uma história sobre perdão e não exatamente um filme com embasamento bíblico.

"Tentar encontrar Deus em uma cabana, é tentar encontrar Deus em um lugar. Há muito tempo Deus deixou de habitar lugares. No filme 'A Cabana' você não vai encontrar nada além de uma bonita história de perdão e superação, nada mais... até porque o deus da cabana acaba, o filme termina e a vida continua... e somente um Deus que possui o controle da história nas mãos poderá nos dar paz em meio aos mais terríveis conflitos que vivemos", afirmou.

Pastor Bruno dos Santos é líder da Igreja Apostólica Vida Nova. (Foto: Facebook)


Experiências e doutrinas
Para o pastor Fábio Ciribelli - que pastoreou igrejas presbiterianas por mais de 30 anos e atualmente lidera Ministério Oásis, em Fortaleza (CE) - o filme acaba se tratando de uma experiência pessoal que o protagonista da história teve e decidiu compartilhar.

"O próprio autor disse que o livro se trata de uma ficção que ele criou para escrever aos seus filhos sobre os pensamentos que ele tem sobre o seu próprio relacionamento com Deus", lembrou. "Eu penso que o filme ainda é um pouco mais leve que o livro. O filme mostra diálogos entre pessoas e se torna mais imaginável e com as imagens, fica até mais bonito".

Porém, nem mesmo a beleza dos diálogos e dos cenários expostos no filme levaram o pastor presbiteriano a deixar de reconhecer pontos um tantos "escorregadios" nesta ficção.

"Apesar de ser uma história muito bonita, a mim parece ser um tipo de visão. Ele [protagonista] sofreu um acidente, ficou adormecido por um bom tempo e acordou com esta história pronta e contou aos filhos", disse. "O apóstolo Paulo diz na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 14, que quando recebemos algumas revelações de pessoas a respeito do relacionamento com Deus, precisamos guardar no coração e esperar acontecer para ver se aquilo de fato se concretiza".

"Muitas questões colocadas no livro e no filme aparentemente não irão sair do sonho ou da visão tida por alguém. Não se torna uma realidade nas vidas de 99,9% das pessoas", acrescentou.

Fábio Ciribelli pastoreou igrejas presbiterianas durante mais de 30 anos e hoje lidera o ministério Oásis Fortaleza. (Foto: Facebook)


Heresias
Ciribelli também destacou que de fato há pontos do filme que, conforme a teologia cristã reformada, podem ser avaliados como heresias, como por exemplo a ilustração de elementos da trindade em pessoas.

"Há uma proibição clara no Antigo Testamento, nos Dez Mandamentos, de fazer qualquer imagem de Deus (Pai ou Espírito Santo). Jesus já é esta imagem. Jesus é esta revelação. Quando falamos de qualquer imagem, também nos referimos a pessoas. Jesus disse a Tomé: 'Eu estou há tanto tempo convosco e você ainda não me reconhece", destacou. "Se esta é uma história, talvez estas personificações tenham ocorrido para que os diálogos se tornem mais evidentes. Porém não deixa de ser uma heresia".

Pastor Fábio também alertou sobre a questão do universalismo que pode ser encontrado no filme e alertou que esta é uma teoria um tanto escorregadia.

"Nem todos serão salvos. Jesus não morreu por todos. Ele morreu por aqueles que viessem a crer. Essa é uma discussão antiga, mas para nós, cristãos, esse universalismo é uma heresia", destacou.


"Qual o tamanho do perigo?"
Quando questionado qual tipo de ameaça para a Igreja e para o Evangelho de Jesus este filme ou livro poderia representar, pastor Fábio foi enfático em ressaltar que

"Nem este ou qualquer outro filme podem ameaçar o Evangelho, a Igreja, a Bíblia ou a fé dos cristãos. Paulo diz em Romanos 1:16, que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Já em Judas, capítulo 1, verso 3, que esse padrão de teologia, de fé, foi entregue para nós, que somos aqueles que crêem", explicou. "Então, livros que tragam outras teorias espirituais não podem ameaçar o Evangelho. O Espírito Santo vai colocar no coração a Palavra certa, segura".

"Quando ouvimos, lemos ou assistimos a uma história na qual os princípios não estão coerentes com a nossa fé, não há ameaça. É isso que Judas diz no capítulo 1, versículo 3, Isso nos foi dado e ninguém pode tirar de nós", finalizou.

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