Isaac Nana Bosompem é um jovem de 24 anos que adora falar sobre futebol e sua vida. Ele também costuma falar sobre sua origem, Gana e das dificuldades que lá enfrentou. Seus pais morreram e ele foi criado pela sua avó, que o levava a uma igreja pentecostal. Mas, a história de Isaac também passa por períodos de tortura e dor. Ele foi sequestrado e vendido como escravo.
O rapaz passou três semanas preso no chamado “gueto de Sabha”, no centro da Líbia. "Eles se levantavam de manhã e nos batiam. À noite eles também nos batiam", disse Isaac. O jovem tinha o sonho de deixar a África para ter uma vida melhor. Sua viagem começou em sua cidade, Kumasi, no centro de Gana, e continua pela Costa do Marfim, Mali e Agadez, no Níger.
De lá, ele entrou no Saara com a intenção de chegar a Trípoli, mas foi sequestrado e vendido como escravo na Líbia. Em junho de 2017, ele chegou em Lampedusa, em um barco com outras 119 pessoas. De lá, ele foi para a Sicília e depois para Nápoles, onde viveu em um assentamento de migrantes.
Após duas tentativas fracassadas, ele conseguiu fugir e chegar em Barcelona. "Deus me salvou de todas essas situações. Ele fez um caminho onde não havia", diz Isaac, que chegou a Barcelona em fevereiro e, antes de morar em um albergue, passou um mês na rua. Agora ele mora em uma casa com mais quatro homens, em um município da região metropolitana.
Isaac já chegou a fazer três cursos, um de espanhol, outro de catalão e um terceiro em horticultura. Questionado sobre o motivo de ter deixado Gana para morar na Europa, ele diz: “Existem várias razões. Por exemplo, a dificuldade de conseguir um emprego. Eu decidi vir porque eu posso viver bem aqui sem me tornar um criminoso”.
“O dinheiro é tudo na África e eu tive que me sacrificar. Quando Deus me ajuda, eu posso ajudar outras pessoas, como viúvas, órfãos ou aqueles que estão dormindo nas ruas. Quem vem aqui e permanece com a mente em Cristo, tudo fica normal. Mas se você encher sua mente com a ideia do dinheiro, ele vai dominar você”, alertou.
O sequestro
Issac conta que durante sua viagem, os homens que dirigiam os carros os venderam. “De acordo com o que pude descobrir, os motoristas dos carros nos enviaram diretamente para o gueto de Sabha. Eles falavam árabe e não entendíamos nada. Eles nos levaram para uma casa onde havia mais pessoas sequestradas e espancadas. Dormimos com as costelas no chão”, lembrou.
“Eles não nos davam comida, a menos que a gente pedisse a família para enviar dinheiro como resgate. Se você não tivesse o dinheiro, você não poderia se libertar, você morria. Muitas pessoas morreram no gueto enquanto eu estava lá. Vi quatro pessoas morrerem. Naquela noite dormimos com os cadáveres e, na manhã seguinte, eles foram jogados no deserto”, ressaltou.
Issac também foi torturado no gueto. “Foi com choques elétricos. Eles fizeram isso apenas para me pressionar e chamar minha família ou alguém que pudesse enviar dinheiro para eles. Muitas pessoas ficaram sem força no gueto e morreram. Além de não comer, a gente não conseguia dormir. Um dia eles me bateram porque eu estava usando um crucifixo no meu pescoço”, lembrou.
O jovem diz que sua fé o ajudou a sair da prisão. “Deus observa o coração e os seres humanos, não. Quando você tem fé, o Deus que criou o universo protege você. Minha fé me ajudou muito. Na Bíblia eu li como Pedro foi preso. Vi como Jó perdeu todas as suas propriedades, mas manteve a esperança. Ou Ester, que era escrava e orou a Deus por seu favor e se tornou rainha”, finalizou.