Após Deltan Dallagnol anunciar no domingo de páscoa que ficaria em jejum e oração durante o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal Federal, os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ) entraram com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público contra o procurador da República.
Deltan havia afirmado que o julgamento não tinha um significado apenas sobre o caso de Lula, mas sim uma abrangência mais ampla sobre a corrupção no Brasil.
"Uma derrota significará que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos, por todo país, jamais serão responsabilizados, na Lava-Jato e além. O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país”, publicou Dallagnol no Twitter.
Na peça protocolada na última terça-feira (3), os deputados alegaram que Dallagnol infrigiu o Código de Ética e de Conduta do Ministério Público da União, fazendo "proselitismo religioso nas redes sociais" e desrespeitando o artigo sobre "imparcialidade no desempenha de funções" do Código.
"III. Atuar com imparcialidade no desempenho das atribuições funcionais, não permitindo que convicções de ordem político-partidária, religiosa ou ideológica afetem sua isenção", citaram eles na representação.
Em seu texto, os deputados ainda dizem que o procurador é "um intenso usuário de redes sociais", que "lança os mais diversos comentários" em suas contas públicas de Facebook e Twitter, agindo como um "um influenciador digital, com atuação semelhante à de youtubers e blogueiros".
Os petistas pedem que um processo disciplinar seja instaurando para apurar o caso e, que seja aplicada a penalidade prevista em lei.
A assessoria de imprensa do Ministério Público Federal do Paraná informou que não irá se pronunciar.
Anteriormente, Deltan Dallagnol já havia rebatido as diversas críticas que recebeu já nas redes sociais, ao postar o comentário com a informação sobre o jejum e oração. Em entrevista à rádio "Jovem Pan", ele negou que faça mistura entre religião e política.
"Expressar sua fé faz parte da liberdade religiosa e de expressão. Promotor, procurador não deixa de ser cidadão. Me expressei em rede social pessoal", destacou o procurador, que não negar ser um seguidor de Jesus em sua conta no Twitter.
Deltan é um dos integrantes do Ministério Público e, junto a outros representantes do Judiciário, protocolou uma nota técnica em favor da prisão na segunda instância.
"Estamos prestes a jogar tudo o que foi feito no lixo por meio de uma mudança de entendimento que vai continuar a impunidade (…) Se o Supremo impedir [a prisão após segunda instância] vai impactar não só a Lava-Jato. Não tem motivo para mudar entendimento. Se mudar essa regra vai ser um marco de impunidade. Vai soltar corruptos, traficantes, pedófilos. E não é alarmismo", ressaltou Deltan em entrevista anterior.