Igreja na Síria sobrevive após 11 anos de guerra civil

Apesar das dificuldades para manter a fé num país que persegue cristãos e que ainda vive em guerra, há 638 mil pessoas que não negaram o nome de Jesus.

Fonte: Guiame, com informações de Portas Abertas e BBC NewsAtualizado: terça-feira, 15 de março de 2022 às 16:35
A guerra na Síria derrubou muitos prédios, mas a Igreja de Cristo permanece em pé. (Foto: Portas Abertas)
A guerra na Síria derrubou muitos prédios, mas a Igreja de Cristo permanece em pé. (Foto: Portas Abertas)

Enquanto o mundo se alarma com a guerra na Ucrânia, desde 24 de fevereiro, a guerra na Síria completa 11 anos, hoje. Ainda não há sinais de seu final. A população continua sofrendo as consequências de um conflito interminável e a pobreza se tornou generalizada.

Embora o Estado Islâmico tenha sido derrotado no país, sua influência ainda existe e os ataques mortais continuam acontecendo, principalmente nas áreas centrais do deserto. 

Até aqui, quase 500 mil pessoas morreram. Especificamente, 499.657 vítimas foram identificadas, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Se considerar os óbitos não identificados, o número sobe para 610 mil.  

A população cristã quase desapareceu. Conforme o Índice de Perseguição de Cristãos em Países no Mundo, antes da guerra havia 2,2 milhões de seguidores de Cristo na Síria. Atualmente, há 638 mil conforme a Portas Abertas. 

Cristãos no fogo cruzado

Na província de Idlib, há combates entre o Hayat Tahrir al Sham (HTS) e grupos rivais. Também há confrontos no Sudoeste e Nordeste, respectivamente entre forças do governo e ex-grupos rebeldes, bem como forças curdas e afiliadas ao governo. 

Os cristãos são pegos no fogo cruzado entre as tropas do governo e as forças rebeldes. Durante essa guerra, muitos cristãos ainda sofrem com os combates e os deslocamentos.

Mais da metade da população pré-conflito do país (de quase 21 milhões) foi deslocada — um dos maiores deslocamentos de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial.

Assim como toda a população síria, os cristãos também sofrem com a falta de acesso a cuidados de saúde, educação, habitação e alimentos. Além da falta de segurança, liberdade e emprego.

Alguns cristãos, porém, asseguram que pode faltar tudo, mas não falta a fé. “Jesus é tudo para mim. Quando eu não tinha ninguém, ele estava comigo. Falo com ele o tempo todo e confio nele, pois Jesus salvou minha vida”, disse um cristão perseguido na Síria. 

Por que a Síria entrou em guerra?

O país já sofria com a falta de liberdade política sob o governo de Bashar al-Assad. Além disso, o povo reclamava da corrupção, alto índice de desemprego e injustiças cometidas pelas autoridades. 

Algumas manifestações pró-democracia começaram a ser vistas na cidade de Dara, no sul do país, inspirando levantes nos países vizinhos contra os governos opressivos. 

No dia 6 de março de 2011, um grupo de adolescentes sírios pichou as paredes da cidade. Uma das frases dizia: “O povo quer derrubar o regime”, slogan da Primavera Árabe. 

Mais de uma dúzia de adolescentes foram presos e, de acordo com relatos locais, eles foram torturados. Essa foi a faísca que levou aos protestos nas ruas. A semente da indignação começou a brotar em vários corações.

Em 18 de março, três manifestantes foram alvejados durante protestos. Cinco dias depois, o exército sírio atacou a cidade, matando dúzias de pessoas. E esse foi o início da guerra síria. 

O povo passou a exigir a renúncia do presidente e os partidários da oposição se armaram. Assad prometeu esmagar o que chamou de “terrorismo apoiado por estrangeiros”.

Quem se envolveu na guerra da Síria?

Potências estrangeiras começaram a tomar partido, enviando dinheiro, armamento e combatentes. À medida que o caos piorava, organizações jihadistas extremistas com seus próprios objetivos, como Estado Islâmico e Al-Qaeda, se envolveram. 

Os principais apoiadores do governo sírio tem sido a Rússia e o Irã. A Turquia, as potências ocidentais e vários países do Golfo apoiaram a oposição em vários graus na última década.

A Rússia — que já tinha bases militares na Síria antes da guerra — lançou uma campanha aérea em apoio a Assad em 2015, o que foi crucial para virar a guerra a favor do governo. 

Os militares russos dizem que seus ataques visam apenas “terroristas”, mas ativistas dizem que matam rebeldes e civis regularmente, conforme a BBC News.  Acredita-se que o Irã mobilizou centenas de soldados e gastou bilhões de dólares para ajudar Assad. 

Milhares de milicianos xiitas armados, treinados e financiados pelo Irã — principalmente do movimento Hezbollah do Líbano, mas também do Iraque, Afeganistão e Iêmen — também lutaram ao lado do exército sírio.

Os EUA, Reino Unido e França inicialmente forneceram apoio para os grupos rebeldes que eles consideraram “moderados”. Mas eles priorizaram a assistência não bélica quando os jihadistas se tornaram a força dominante na oposição armada contra o governo.

Uma coalizão global liderada pelos EUA também realizou ataques aéreos e mandou forças especiais para a Síria a partir de 2014, pensando em ajudar uma aliança de milícias curdas, árabes, assírias e turcas chamada de Forças Democráticas Sírias (FDS), para defender um governo secular, democrático e federalista em território sírio.

A Turquia é um grande apoiador da oposição. A Arábia Saudita, que deseja conter a influência iraniana, armou e financiou os rebeldes no início da guerra. Enquanto isso, Israel se preocupa com o “entrincheiramento militar” do Irã na Síria e com os embarques de armas iranianas para o Hezbollah e outras milícias xiitas.

Situação atual da igreja na Síria

Segundo Geir Pedersen, enviado especial da ONU na Síria, “o andamento da negociação política no país está totalmente parado”. Isso porque os envolvidos entendem que só existe a solução militar para a crise.

De acordo com Pedersen, “não há outra saída a não ser a diplomacia”. Mas, as rodadas de negociações de paz mediadas pela ONU não avançam. Assad não demonstra vontade de negociar com os grupos de oposição.

Enquanto isso, a Igreja luta contra a perseguição diária. Para os cristãos, os desafios não se limitam às consequências da guerra. Eles não possuem liberdade para evangelizar, são vigiados, hostilizados e, muitas vezes, maltratados por seguirem a Cristo. 

Muitos prédios de igrejas foram completamente destruídos por jihadistas que controlam o território, então a igreja doméstica é a única opção para eles. 

Mas em meio a tantas más notícias, a boa é que, embora o número de cristãos tenha diminuído drasticamente, muitos muçulmanos estão se convertendo ao cristianismo. 

Isso quer dizer que a Igreja na Síria não deixou de existir. Ela pode ter passado por muitas tribulações, mas permanece em pé, proclamando o Evangelho onde ele é muito necessário. 

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