10 anos de guerra na Síria: saiba como a Igreja quase deixou de existir no país

A maior crise humanitária do século XXI também afetou os missionários que estavam em ação.

Fonte: Guiame, com informações de Portas AbertasAtualizado: segunda-feira, 15 de março de 2021 às 14:37
Uma igreja cristã destruída perto de Tal Tamer no norte da Síria, controlado pelos curdos. (Foto: Ivor Priclett/The New York Times)
Uma igreja cristã destruída perto de Tal Tamer no norte da Síria, controlado pelos curdos. (Foto: Ivor Priclett/The New York Times)

Hoje, dia 15 de março de 2021, a guerra na Síria completa 10 anos. O conflito civil que assombrou o mundo teve um preço altíssimo para a humanidade. Mais de meio milhão de pessoas mortas, mais de seis milhões de refugiados sírios espalhados pelo mundo e mais de seis milhões de deslocados no país, segundo a Portas Abertas.

Tudo começou com a chamada Primavera Árabe. Esse movimento teve início entre o final de 2010 e início de 2011, chamando a atenção da mídia internacional. Os objetivos do movimento caracterizado por protestos e revoltas nos países de língua árabe eram derrubar os ditadores, realizar eleições e conseguir melhoria das condições de vida. Diversos governos caíram, mas a Síria acabou perdendo a sua paz. 

Como a igreja foi atingida

Em todo o país, a igreja foi tomada no meio da guerra durante os anos. Especialmente nas áreas onde os extremistas obtiveram o controle, os cristãos não estavam seguros. A maioria foi obrigada a fugir para sobreviver e muitos deixaram o país. 

Por causa disso, o número de cristãos caiu drasticamente de 2,0 milhões em 2010 para menos de 700 mil agora. Especialmente a geração mais jovem e entre eles mais homens do que mulheres, deixaram a Síria. Muitas dessas pessoas estavam ativamente envolvidas em seus ministérios na igreja.

O trabalho continua

Mesmo com tantas dificuldades, alguns líderes cristãos permaneceram no país apoiando a igreja de Cristo. “Vejo homens, mulheres e crianças chorando de fome. É trágico. Nossa igreja percebeu que era o momento de apoiar as pessoas e mostrar o amor de Jesus em tempos difíceis”, disse o pastor George.

“Não se incomode, são apenas alguns dias e depois voltaremos para casa”, essa foi a frase otimista de Demetrios Sharbak, líder da Igreja Ortodoxa Grega, em Safita e seus arredores. Ele não imaginava que a guerra duraria 10 anos. 

Safita é uma vila na província de Tartus, na Síria que, no começo do século 21, era predominantemente cristã, com cerca de 95% da população pertencente a uma igreja. Agora, apenas metade da população é cristã.

Demetrios, de 50 anos, é responsável por igrejas de 23 vilas diferentes, localizadas ao redor de Safita. Em média, 13 mil famílias estão sob a autoridade dele. Isso inclui deslocados de outras cidades e vilas ao redor. No total, 7,5 mil famílias estão envolvidas com a igreja. Ele começou ajudando pessoas desabrigadas que chegaram a Safita de cidades muito afetadas pela guerra, como Homs e Alepo. Apesar de difícil, o bispo também tem pensamentos positivos sobre o período. “É um tempo abençoado, quando nos sentamos com as pessoas e entramos em suas casas”, testemunhou.

Perseguição ao remanescente

Embora o número de cristãos na Síria seja extremamente menor do que há 10 anos, a perseguição continua. Na região Norte, a invasão das forças turcas no final de 2019 causou maior instabilidade e parece ter sido usada por alguns extremistas islâmicos como disfarce para atacar os cristãos. 

Em áreas controladas por esses grupos violentos, as expressões públicas do cristianismo são proibidas e a maioria das igrejas foi fechada ou destruída. Em áreas controladas pelo governo essa ameaça é um pouco menor — mas ainda há sequestros de jovens cristãos por dissidentes islâmicos, inclusive militantes do Estado Islâmico ainda ativos. 

A pandemia também ajudou a piorar muitas vulnerabilidades já existentes. A pressão pública sobre os cristãos continuou a aumentar, embora eles tenham enfrentado um pouco menos de pressão da família e da comunidade. 

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