Diante dos distúrbios que explodiram em Paris e em outras cidades da França, no final de junho, o pastor Matthieu Sanders falou sobre como a igreja evangélica deve se posicionar diante do clima de tensão e violência entre os manifestantes e a polícia.
“As igrejas evangélicas, muitas vezes com uma grande população imigrante de segunda ou terceira geração, têm crescido rapidamente em subúrbios 'sensíveis'”, disse ele ao Evangelical Focus.
Segundo ele, isso dá a essas comunidades cristãs a chance de ser “um testemunho único, porque “elas reúnem brancos, negros, árabes e asiáticos de uma maneira que poucas instituições – mesmo as escolas – muitas vezes não conseguem”.
Na entrevista, Matthieu falou também sobre a necessidade de oração pela França como um todo, que tem uma cultura de protesto e insurreição que remonta à Revolução Francesa, com a Queda da Bastilha, que aconteceu em 14 de julho de 1789.
“A maioria dos protestos é pacífica, mas a violência não é incomum. Eu acrescentaria que existe uma cultura de confronto entre policiais e manifestantes que parece ter aumentado nos últimos anos. O governo – não apenas o atual, mas também os anteriores – tende a ser opressor, alguns diriam repressivo, na tentativa de manter a ordem”, diz.
Fator étnico e religioso
Ele explica como as manifestações acontecem na França e revela que “as pessoas são rápidas em sair às ruas e as autoridades são rápidas em reagir com força e, às vezes, excessivamente”.
Questões religiosas e sobre a imigração também estão no contexto dos episódios de violência em Paris.
“No caso dos últimos motins, o fator étnico/religioso não pode ser ignorado, embora seja um tabu na França (onde quaisquer estatísticas étnicas ou religiosas são ilegais). Os distúrbios eclodiram em áreas amplamente povoadas por pessoas de origem imigrante. A maioria dos jovens que se rebelaram são de segunda, às vezes de terceira geração, o que aponta para um problema antigo de integração”, explica.
Apesar de não descartar negociações políticas, com esforços para encorajar a integração de jovens de origem da classe trabalhadora, especialmente minorias étnicas, para Matthieu a solução para o fim da violência e divisão na sociedade passa pelo Evangelho.
“Como cristão, claro, acredito que somente o Evangelho pode trazer uma cura profunda para as feridas que há tanto tempo inflamam entre segmentos da população que parecem irreconciliáveis”, diz.
Igrejas que fazem a diferença
As igrejas evangélicas na França têm muitos imigrantes de diversos países em seus cultos. Segundo Matthieu, essas igrejas, com uma grande população imigrante, estão fazendo a diferença.
Ele explica que existem muitas “igrejas étnicas” associadas a um contexto específico, mas, em geral, as igrejas evangélicas são bons exemplos de integração e colaboração bem-sucedida entre diferentes grupos sociais/étnicos.
“Eu acredito que há uma porta aberta para o ministério nessas áreas. Parece que as comunidades evangélicas nesses subúrbios podem ainda menos do que outras ser estritamente pietistas e ‘espirituais’ em sua abordagem. Eles precisam estar enraizados nas comunidades e envolvidos em vários tipos de divulgação holística. E eles geralmente estão fazendo exatamente isso”, diz.
Oração pela França
Matthieu diz que os cristãos em todas as partes do mundo também devem orar pela França neste momento de tensão e violência nas ruas.
“Ore por reavivamento espiritual em nosso país. O movimento evangélico vem crescendo rapidamente nas últimas décadas. Se esse crescimento vai continuar e até acelerar, ou estagnar, é discutível, pois há alguns indicadores conflitantes a serem considerados”, diz.
Para que o crescimento perdure, Matthieu pede oração pelos formadores de líderes: “Ore também por treinamento bíblico e teológico sólido e para que muitos cristãos mais jovens se envolvam em ministérios de tempo integral e leigos”.
“Existe um amplo consenso sobre o fato de que o número de líderes bem treinados não está acompanhando o crescimento da igreja. No entanto, a falta de treinamento levou, não menos nos subúrbios mencionados, à crescente influência do ensino deficiente ou de heresias absolutas, como o chamado Evangelho da prosperidade”, relata.
“Ore para que a igreja francesa cresça em maturidade centrada no Evangelho e seja equipada para testemunho eficaz e pacificadora em um clima nacional muitas vezes tenso”, pede.