Infância em risco: Quando a fantasia vira cúmplice da violência infantil

Homem simulando “casamento” com menina de 9 anos na Disneyland Paris deveria provocar uma profunda reflexão global sobre a fragilidade dos sistemas de proteção à infância.

Fonte: Guiame, Marisa LoboAtualizado: quarta-feira, 25 de junho de 2025 às 17:49
Jacky Jhaj está no registro de criminosos sexuais e atualmente está em prisão preventiva na França. (Foto: Metropolitan Police)
Jacky Jhaj está no registro de criminosos sexuais e atualmente está em prisão preventiva na França. (Foto: Metropolitan Police)

A recente notícia do britânico que simulou um “casamento” com uma menina de 9 anos na Disneyland Paris e encenou uma cerimônia com tapete vermelho em Londres causa perplexidade e indignação, mas, sobretudo, deveria provocar uma profunda reflexão global sobre a fragilidade dos sistemas de proteção à infância.

A informação de que este homem já estava foragido por violar regras de registro como autor de crimes sexuais apenas agrava o cenário: como alguém monitorado por esse tipo de delito pode encenar publicamente um ritual simbólico de pedofilia em pleno território europeu, sem que nenhuma autoridade o impedisse?

Vivemos tempos sombrios, onde a inocência infantil é cada vez mais sexualizada e onde, sob o manto da “liberdade de expressão” ou da “performance artística”, práticas extremamente perigosas são naturalizadas ou ignoradas.

O caso repercutido pela imprensa francesa e britânica não é uma simples excentricidade de um adulto transtornado. Trata-se de um alerta vermelho: estamos diante de uma banalização simbólica da pedofilia, que, em vez de gerar repúdio imediato das autoridades e da sociedade, é muitas vezes tratada como “provocação estética” ou “comportamento excêntrico”.

A gravidade simbólica da encenação

A Disney, como ícone mundial de fantasia e universo infantil, não é um local neutro. Utilizá-la como cenário para uma encenação como essa revela a intenção de normalizar simbolicamente o abuso, reforçando uma perigosa fantasia de domínio adulto sobre a criança.

A escolha de uma menina de 9 anos, idade marcada por vulnerabilidade, ausência de maturidade afetiva e total dependência dos adultos, torna o ato ainda mais inaceitável.

A encenação pública de um “casamento” entre um adulto e uma criança é um ultraje à dignidade da infância. Ainda que simbolicamente, esse tipo de performance reverbera como apologia ao abuso, especialmente quando feita por um foragido da Justiça com antecedentes em crimes sexuais.

Psicologia, neurociência e o trauma infantil

Sabemos, pela psicologia e neurociência, que o abuso — mesmo simbólico ou disfarçado de brincadeira — gera marcas profundas no desenvolvimento cerebral e emocional de uma criança. A exposição precoce à sexualidade, a quebra de vínculos de segurança e a inversão de papéis (quando a criança é colocada como parceira de um adulto) são elementos traumáticos que podem gerar transtornos graves como depressão, transtorno de estresse pós-traumático, distúrbios de identidade e problemas de relacionamento afetivo na vida adulta.

O cérebro infantil não está neurologicamente preparado para lidar com tais experiências, e cada vivência nesse sentido pode gerar impactos permanentes. Em termos éticos e terapêuticos, a sociedade tem a obrigação de preservar o sagrado território da infância.

Onde está o limite da liberdade?

A liberdade de expressão jamais pode ser usada para justificar a perversão, o abuso ou a exposição de menores em contextos sexuais simbólicos. A cultura da relativização ética, em que tudo é arte, tudo é performance, tudo é escolha, está abrindo brechas legais e morais para que abusadores se escondam atrás de discursos supostamente progressistas.

A criança tem direito à proteção integral — conforme assegurado pela Declaração dos Direitos da Criança (ONU) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (no Brasil). Quando atos como este são ignorados ou subestimados, toda a sociedade colabora com o ciclo do abuso e da revitimização.

Um chamado à ação

Como psicóloga, mãe, cidadã e cristã, deixo aqui um chamado à vigilância e à ação. Não podemos nos calar diante de atos que banalizam o abuso. Precisamos fortalecer os mecanismos de denúncia, melhorar a vigilância sobre criminosos sexuais e, acima de tudo, educar famílias, igrejas, escolas e lideranças comunitárias sobre o que é — e o que não é — liberdade em relação à infância.

A proteção dos pequenos é responsabilidade de todos nós.

“Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho e fosse afogado na profundeza do mar.” (Mateus 18:6)

 

Marisa Lobo é psicóloga, missionária e escritora, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Defendendo princípios cristãos com amor e sabedoria em tempos de polarização

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