Martin Luther King: o pastor que usou a Bíblia para lutar contra a segregação racial

O ativista embasou seu movimento não violento pelos direitos civis nos princípios bíblicos de que todo homem foi feito à imagem de Deus e que devemos amar nossos inimigos.

Fonte: Guiame, com informações de The Gospel CoalitionAtualizado: segunda-feira, 20 de janeiro de 2025 às 13:50
Martin Luther King na Marcha de Washington. (Foto: Wikimedia Commons/National Park Service).
Martin Luther King na Marcha de Washington. (Foto: Wikimedia Commons/National Park Service).

Nesta segunda-feira (20), no feriado nacional do Dia de Martin Lyther King nos Estados Unidos, os americanos relembram o legado deixado pelo pastor batista que lutou contra a segregação racial durante o final dos anos 1950 e nos anos 1960.

Martin Luther King Junior nasceu em 15 de janeiro de 1929, em Atlanta, na Geórgia, em uma família de pregadores batistas. O pai de King era pastor da prestigiada Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta.

Mesmo recebendo uma boa educação e o amor de sua família, King experimentou a discriminação ainda na infância, no Sul americano segregado. Por volta dos 6 anos, Martin ouviu um seus colegas brancos afirmar que seus pais não permitiam mais quebrincassem com ele, porque agora as crianças brancas e negras frequentavam escolas separadas.

Em 1944, aos 15 anos, antes de iniciar a faculdade, Martin passou as férias de verão em uma fazenda de tabaco em Connecticut, onde conheceu uma realidade bem diferente do Sul segregado.

Ele ficou impressionado como negros e brancos conviviam pacificamente no Norte dos EUA. “Negros e brancos vão para a mesma igreja. Nunca pensei que uma pessoa da minha raça pudesse comer em qualquer lugar”, escreveu eles em uma carta aos pais.

Essa experiência no Norte aumentou a indignação de Martin Luther King com a segregação racial nos estados sulistas.

Formação teológica


Martin foi pastor batista. (Foto: Facebook/The King Center).

O jovem cristão estudou Medicina e Direito, mas em seu último ano na universidade, decidiu seguir o ministério e ingressou no Seminário Teológico Crozer em Chester, na Pensilvânia. 

Na universidade e no seminário, Martin teve contato com ativistas cristãos e teólogos protestantes contemporâneos, que o estimularam a agir contra a injustiça racial.

Logo depois, ele fez doutorado na Universidade de Boston, onde estudou o relacionamento do homem com Deus e formou uma base sólida para sua teologia e ética cristã contra o racismo.

Mais tarde, já casado com Coretta Scott e pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter em Montgomery, Luther King usou sua crença em que todos os homens eram iguais perante Deus para fundar a Conferência de Liderança Cristã do Sul (SCLC).

Através da organização, o pastor batista iniciou o movimento pela justiça racial, dando palestras por todo o país e discutindo questões raciais com líderes cristãos.

Luta contra injustiça baseada na fé


Luther King em protesto contra a segregação racial. (Foto: Wikimedia Commons/Hans Bosshard).

Com uma ótima retórica e personalidade inspiradora, ele se levantou como um líder do movimento pelos direitos civis nos EUA.

O pastor usava princípios bíblicos para defender a justiça racial. Ele lembro que todos os seres humanos, independente de sua cor, foram feitos à imagem e semelhança de Deus.

King defendia que todos possuem uma dignidade inerente, porque todos os seres humanos carregam a marca do Criador. Assim, leis que segregavam e discriminavam negros nos EUA eram leis imorais e contra a lei divina.

Sua fé também inspirou Martin a encorajar um movimento não-violento que amava seus inimigos, conforme ensinado por Jesus no Sermão da Montanha.

“King reconheceu que a tendência humana natural de demonizar os opressores leva a um recurso violento, e a violência nunca é construtiva. ‘Procurar retaliar com violência não faz nada além de intensificar a existência do mal e do ódio no universo’, disse King”, afirmou James S. Spiegel, professor na Taylor University, em artigo do The Gospel Coalition. 

“Racistas são irmãos desviados”

James explicou que o pastor batista não demonizava os homens brancos, como outros ativistas do movimento negro como Malcolm X

“King via os racistas brancos como filhos de Deus distorcidos por seu medo e ignorância e, portanto, precisando de ajuda, não de ódio. Os opressores brancos são irmãos e irmãs desviados e, portanto, destinatários dignos de nosso amor e generosa recusa em revidar”, comentou o professor.

Em 28 de agosto de 1963, mais de 200 mil pessoas negras e brancas se reuniram em frente ao Lincoln Memorial, em Washington, para pedir igualdade para todos os cidadãos em um EUA segregado pelo racismo.

Na “Marcha de Washington”, Luther declarou seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, que se tornou um símbolo na luta por direitos civis em todo o mundo.

Como resultado, em 1964 a Lei dos Direitos Civis foi aprovada, proibindo a segregação e a discriminação em espaços públicos e no ambiente de trabalho. Naquele mesmo ano, Martin ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo.

Responsabilidade dos cristãos no combate contra a discriminação

Logo depois, Luther King passou a receber ameaças de morte devido ao seu ativismo. Mesmo assim, em seu último discurso em Memphis, ele ressaltou a responsabilidade dos líderes cristãos em lutar pela igualdade e condenar a injustiça social.

“Quem é que deve articular os anseios e aspirações do povo mais do que o pregador? Em algum lugar, o pregador deve ter uma espécie de fogo encerrado em seus ossos, e sempre que a injustiça estiver por perto, ele deve contá-la. De alguma forma, o pregador deve ser um Amós, que disse: ‘Quando Deus fala, quem pode senão profetizar? Que a justiça corra como as águas e a retidão como um riacho poderoso’”

E continuou: “Não há problema em falar sobre ruas que fluem com leite e mel, mas Deus nos ordenou a nos preocuparmos com as favelas aqui embaixo e seus filhos que não podem comer três refeições por dia. Está tudo bem falar sobre a nova Jerusalém, mas um dia o pregador de Deus deve falar sobre a nova Nova York, a nova Atlanta, a nova Filadélfia, a nova Los Angeles, a nova Memphis, Tennessee”.

No dia seguinte, em 4 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado com um tiro, enquanto estava na sacada do hotel onde se hospedava, em Memphis.

Mesmo depois de sua morte, os ideais democráticos e cristãos do pastor batista continuaram transformando a sociedade americana e ainda hoje tem inspirado pessoas e movimentos de justiça social.

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