Uma pergunta recorrente feitas pelos cristãos é se um ente querido que não tem a mesma fé em Jesus, ou cujas crenças não são conhecidas, pode ir para o céu.
Para responder à questão, Will Dobbie, um pastor britânico que se mudou para Knoxville, EUA, onde plantou a Igreja Emmanuel, oferece esperança baseada nas Escrituras e reforça que todo cristão deve confiar no julgamento justo de Deus.
“Quando um ente querido não salvo morre, é certamente uma das circunstâncias mais dolorosas”, diz Dobbie. “No entanto, é algo que a maioria dos cristãos vivencia – e acha impossivelmente difícil falar sobre”.
“A verdade é que nem sempre entenderemos os propósitos de Deus”, diz o pastor, citando Jó 26:14.
Dobbie relembra também o que Deus afirma em Isaías 55:9:
"Pois, assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos."
“Deus nos convida a confiar humildemente que Ele está agindo de maneiras que são misteriosas para nós”, afirma.
‘Reavaliar nossa teologia’
Dobbie diz que a dor da perda de um ente querido descrente pode nos fazer reavaliar nossa teologia. E levanta os seguintes questionamentos:
“Quão amoroso e compassivo Deus realmente é? Ele é um Deus que posso continuar seguindo sem ressentimento? E quanto à predestinação? E quanto aos bebês? E quanto aos severamente deficientes? E se a pessoa que eu amava agora está no inferno, como posso ter consolação, encerramento, paz novamente?”.
Dobbie diz que a Palavra de Deus oferece respostas profundas e ricas para todas essas questões. Portanto, é vital estudarmos honesta e claramente o que a Escritura diz sobre Seu julgamento.
“Confio que você descobrirá que maior clareza leva a mais conforto, não menos”, afirma Dobbie.
‘Compartilhei o Evangelho’
Falando de sua própria experiência, ele conta sobre um rapaz que conheceu ao ser enviado para a sua unidade do exército na Alemanha, e se tornaram bastante próximos.
“Eu estava sentindo saudades de casa e isolado como cristão, e ele me ofereceu sua amizade. Nós íamos correr juntos e dirigimos pela Europa nos fins de semana. Ele se tornou meu melhor amigo”, diz.
“Um fim de semana, estávamos hospedados em um albergue em Berlim. Enquanto nos deitamos em camas frágeis no escuro, eu compartilhei o Evangelho com ele. Ele era educado, mas não se comprometeu”, relembra.
Em outro momento, Dobbie acompanhou seu amigo até Amsterdam, onde ele queria apresentar sua namorada e comprar o anel de noivado que entregaria a ela.
“Alguns meses depois, eu toquei o órgão no casamento dele”, diz.
Os amigos acabaram sendo enviados para uma missão no Oriente Médio, porém em diferentes unidades.
“Logo depois, fomos enviados para o Iraque. Em unidades diferentes, nossos caminhos raramente se cruzaram, mas numa noite, enquanto a areia e o pó criavam mais um pôr do sol dolorosamente belo, eu o encontrei durante uma corrida ao redor da base e tivemos uma alegre conversa para colocar o papo em dia”.
Morte do amigo
Dobbie conta que alguns dias depois, ele estava comandando a Força de Reação Rápida quando foram acionados para responder a um incidente.
“Enquanto saíamos da base, mais informações chegaram, incluindo os números de identificação dos feridos. Um número de identificação consiste nas duas primeiras letras do nome do soldado, seguidas pelos quatro últimos dígitos de seu número militar e seu tipo sanguíneo. Passei os 20 minutos de viagem tentando identificar quem eram os feridos.”
Quando chegaram ao local, Dobbie diz que estava convencido de que não conhecia pessoalmente as vítimas. Mas ele estava errado. Uma enorme bomba à beira da estrada destruiu o veículo do seu amigo, matando-o e ao seu motorista.
“Nos meses que se seguiram, eu sofri com a forma como havia (ou não) testemunhado Jesus para ele. Eu me contorci enquanto revivia suas reações às minhas expressões imperfeitas do Evangelho. Agora era tarde demais”.
Apenas alguns meses depois de tocar órgão em seu casamento, Dobbie estava tocando o teclado no funeral de seu funeral.
“Não encontrei nenhum conforto nos versículos das Escrituras lidos durante a cerimônia enquanto refletia que, até onde as evidências apontavam, elas não se aplicavam a ele. O meu amigo tinha morrido”.
Deus responde a sofrimentos
Dobbie cita o livro de Jó, que fala de intenso sofrimento, como a perda de entes queridos.
“No rescaldo de um sofrimento devastador, incluindo a morte violenta de crianças cujo destino espiritual o preocupava, Jó clama: ‘Abomino a minha vida... Falarei na amargura da minha alma. Direi a Deus: Não me condenes; faz-me saber por que contendes comigo. Parece-te bem oprimir, desprezar a obra das tuas mãos?’” (Jó 10:3).
“No entanto, enquanto Jó luta com profunda tristeza e confusão, Deus louva Jó e repreende seus amigos que tentaram corrigi-lo: “A minha ira se acendeu contra ti [Elifaz] e contra os teus dois amigos, porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42:7).
Dobbie diz que a reação de Jó diante do sofrimento pelas perdas indica que não há vergonha em lutar para aceitar as ações de Deus, nem pecado – desde que, como Jó, nos apeguemos a uma compreensão correta de Deus.
“Então, o que Jó expressou corretamente sobre Deus? Apenas alguns versículos antes, ele diz: “Eu sei que você pode fazer todas as coisas, e que nenhum propósito seu pode ser frustrado ... Portanto, eu pronunciei o que não entendi, coisas maravilhosas demais para mim, o que eu não sabia” (Jó 42:2-3).