Os horrores da Segunda Guerra Mundial ainda estão vivos na memória de Anna Johnson, que consegue ainda hoje, passados mais de 80 anos, relatar cenas do que testemunhou durante o conflito.
“Foi um caos total. E as pessoas da aldeia estavam correndo e havia cadáveres, e os aviões estavam lançando bombas e foi um caos total”, relembra Anna.
Ela tinha 8 anos quando os russos ocuparam sua pequena cidade de Pampali, na Letônia, em 1940. Um ano depois, os exércitos de Hitler estavam se aproximando, e o pai de Anna, Arvids, disse a sua família de sete pessoas que eles precisariam fugir.
“Durante toda a noite ouvimos a frente se aproximando. E as janelas estavam tremendo”, recorda-se.
Ela conta que o plano de sua família era pegar um trem para o leste da Letônia para ficarem longe dos combates. A estação, no entanto, ficava muito distante, o que os fez primeiro andarem até a fazenda de um amigo no meio do caminho antes do anoitecer.
O pai de Anna trabalhava para o serviço florestal e pastoreava uma pequena igreja doméstica, quando fugiu levando sua esposa, Celite, Anna, seu irmão e três irmãs mais novas enfrentando a neve e o frio congelante.
A família de Anna, durante a 2ª Guerra Mundial. (Captura de tela/CBN)
“E foi assim que meu pai explicou: Se corrermos para a esquerda, podemos ser atingidos por uma bomba. Se corrermos para a direita, podemos ser atingidos por uma bomba. Então, só temos uma escolha: andar com o Senhor em paz e não em pânico”, relata Anna.
Deus estava conosco
Mas, assim que chegaram no destino, houve uma surpresa ruim. Eles encontraram a casa da fazenda ocupada pelos nazistas, que a usavam como centro de comunicações – a trinta metros das linhas de batalha onde as forças alemãs e russas haviam se entrincheirado.
“A cada explosão, eu abria os olhos e olhava para o rosto do papai, olhava para o rosto da mamãe. E havia paz, como se tudo estivesse bem”, disse Anna. “Então foi assim que conseguimos seguir nossos pais de maneira muito intencional e prática e aprender. E ganhar grande confiança de que Deus estava conosco”.
Ela diz que outro sinal de que Deus estava com eles veio três dias depois, quando a comida acabou.
“Papai foi para a floresta de manhã cedo para orar: 'Dê-nos este dia'. E quando ele terminou de orar, lá em um toco de árvore havia um pão”, disse Anna. “Ele trouxe e agradecemos ao Senhor por fornecer hoje nosso pão de cada dia.”
O pai de Anna, Arvids, que era pastor, orou pela provisão de Deus. (Captura de tela/CBN)
“Na manhã seguinte, ele saiu para a floresta, 'Dê-nos este dia.' E para o resto – 20 dias, o Senhor providenciou.”
Mas a família de Anna ainda teriam que correr para salvar suas vidas. Os russos romperam as linhas alemãs, forçando todos na casa da fazenda a evacuar. Depois de levar sua família para a floresta, o pai de Anna voltou para ajudar os outros a escapar.
“E quando ele voltou lá, o lugar foi demolido. Quero dizer, talvez nem tenhamos sobrevivido a isso”, relata.
Agradecidos pela proteção de Deus, eles retomaram sua marcha de 16 quilômetros até a estação de trem através da Letônia devastada pela guerra.
A fuga da família foi difícil. Com frio, fome e exaustos, eles finalmente chegaram à estação e pegaram um trem para a casa de sua avó, perto do mar Báltico, onde viveram em relativa segurança até novembro do mesmo ano, quando foram presos pelos nazistas porque não tinham documentos de identificação, relata Anna.
Ela e sua família foram enviadas para um campo de trabalho na Tchecoslováquia. Por cinco meses eles sofreram fome, conviveram em ambientes com condições imundas e doenças. Tudo isso está entre as memórias mais sombrias e vívidas de Anna, especialmente as de sua irmã mais nova, Ilze.
“[Ilze] era apenas uma criança. Ela perdeu a capacidade de se levantar e perdeu a capacidade de falar. E só implora por comida. Apenas balançando para frente e para trás”, lembra Anna.
Por pior que fosse, seus pais não hesitaram em ensinar seus filhos a confiar em Deus.
Na memória de Anna está esta situação: “Tenho 10 anos e estou saindo de manhã cedo, trabalho forçado do papai, saindo para trabalhar. E eu caminhei com ele até a beira do complexo. E eu disse: 'Papai, por que Deus não está respondendo nossas orações?' Meus irmãozinhos estão em minha mente. Eu sei que eles não vão sobreviver. E como era o costume de papai, sempre que fazíamos uma pergunta séria, ele colocava o polegar sob meu queixo e o puxava para que eu o olhasse nos olhos. E ele disse: 'Filha, a chuva cai sobre os justos e os injustos igualmente. Mas, lembre-se, temos um Pai celestial.' Isso é tudo que ele disse. Fiquei tão confortada com isso que voltei direto para aquele beliche sujo, subi em cima e adormeci com a barriga vazia.”
O anúncio do fim da guerra na Europa foi feito em 8 de maio de 1945, com a rendição incondicional dos alemães. Nos meses seguintes, a família juntou dinheiro suficiente para comprar passagens de trem para a Alemanha Ocidental ocupada pelos Estados Unidos, onde ficariam quatro anos em um campo de refugiados. Em 1949 eles embarcaram em um navio com destino à América. Estabelecendo-se na Filadélfia, o pai de Anna tornou-se pastor de uma comunidade russa.
“Por causa da maneira como nossos pais nos ensinaram a confiar no Senhor e amá-Lo com todo o nosso coração, nós apenas agradecemos a Ele naturalmente, você sabe”, disse Anna.
‘Deus me carregou’
Agora com 90 anos, Anna diz que teve uma vida plena. Como esposa de mais de 65 anos de seu marido Harry, mãe, avó e bisavó, ela compartilha como Deus a carregou nos piores momentos e sempre será assim.
“Nós não apenas sobrevivemos, nós vivemos isso. E passamos por isso mais do que vencedores”, disse Anna. “Porque o amor de Deus foi derramado sobre nós pelo Espírito Santo. E não desanimamos. Por causa disso."
Anna relata sua história e a de sua família durante a Segunda Guerra Mundial no livro “Our Peace Guardian” (Nosso Guardião da Paz, em tradução livre).