Após Censo, pastores dizem que crescimento de evangélicos no Brasil ‘não estagnou’

O Censo 2022 aponta que evangélicos são 26,9% da população acima de 10 anos, segundo levantamento divulgado pelo IBGE.

Fonte: Guiame, com informações da Folha de S.PauloAtualizado: segunda-feira, 9 de junho de 2025 às 11:57
IBGE divulgou a radiografia religiosa do povo brasileiro com dados do Censo 2022. (Foto ilustrativa: Unsplash/Nathan Mullet)
IBGE divulgou a radiografia religiosa do povo brasileiro com dados do Censo 2022. (Foto ilustrativa: Unsplash/Nathan Mullet)

Pastores contestam os dados do Censo 2022, divulgados pelo IBGE nesta sexta (6), que apontam que os evangélicos representam 26,9% da população acima de 10 anos, um crescimento abaixo do esperado.

Eles questionam a metodologia da pesquisa e minimizam a relevância dos dados apresentados.

"Eu não fico preocupado com essa questão numérica de percentagem, se cresceu mais, se cresceu menos. Fico até rindo", diz o pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Vitória em Cristo.

"Tem um monte de coisa para ser questionada. Eu, com todo respeito, onde a esquerda mete a mão, tenho dúvida. Só para te dizer, eu não acredito em número desses caras."

Os dados do Censo 2022 foram coletados durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e concluídos na administração de Lula (PT).

Malafaia afirma que não está “preocupado com isso”, destacando que “a igreja está crescendo, estamos pregando o Evangelho”.

Ele ressalta que quantidade não equivale necessariamente a qualidade, afirmando que, em média, os evangélicos demonstram maior engajamento em sua comunidade de fé do que outros grupos cristãos.

"Quando alguém diz que é evangélico, é que pelo menos uma vez por semana vai na igreja. É tão interessante isso que, se o cara estiver afastado da igreja, e tem muita gente afastada do Evangelho, ele não diz que é evangélico, porque sabe que, para ser, tem que praticar, tem que estar membro de uma igreja."

Segundo o pastor, muitos católicos frequentemente "não sabem nem os dogmas da sua religião, as leis que envolvem o cristianismo que eles dizem que creem".  Ele menciona os chamados católicos praticantes, que o IBGE não registra, mas que pesquisas indicam serem numerosos.

'Crescimento real é maior'

O apóstolo Estevam Hernandes, líder da igreja Renascer em Cristo e da Marcha para Jesus, acredita que “o crescimento real é maior do que o levantamento feito".

Ele menciona projeções que indicavam uma expansão maior e, com base em sua percepção pessoal, estima que essa população já ultrapassa 35%. "Sentimos nas igrejas, e também há o reflexo da presença de evangélicos em todos os setores da sociedade."

Hernandes questiona a precisão dos dados do Censo, alegando que foram coletados “no período pós-pandemia, e também pelo tempo da pesquisa”.

Ele aponta que a nova metodologia, ao excluir crianças menores de dez anos, reduziu a participação dos evangélicos na estatística: "O povo evangélico tem média de idade bem abaixo dos católicos. Não atribuo a uma falha, mas acho que precisa fazer correção do método."

César Augusto, líder da igreja Fonte da Vida, também questiona os dados do Censo, sugerindo que podem ter sido manipulados.

Segundo ele, "o que a gente vê é um crescimento muito maior. Hoje, seguramente, os evangélicos são mais de 34% da população".

Para Augusto, a presença dos evangélicos na mídia reflete a grandeza desse grupo no país. "Você vê como estão se voltando para o público evangélico, cantores gravando músicas evangélicas, porque é um crescimento visível, e em todas as camadas da sociedade."

Ele levanta a possibilidade de influência de questões ideológicas nos resultados.

"Querendo ou não, tem segmentos que se incomodam com nosso crescimento, especialmente o pessoal de esquerda. Cada dia tem uma igreja abrindo. Aluga-se um salão, põe 50, 100 cadeiras, um microfone, uma caixa de som, um violão. Daqui um mês está cheio. Então, como que pode ser só 26,9%?"

'Evangélicos serão maioria'

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da bancada evangélica e integrante da igreja de Malafaia, afirma que o crescimento do número de fiéis pode fortalecer o apoio ao conservadorismo na política.

"Evangélicos têm tendência a serem conservadores e de direita, na sua maioria. No segmento como um todo, 80% tendem a ser de direita, talvez uns 15% ainda se identifiquem com a pauta de esquerda, e 5% não têm preferência", diz, sem revelar a fonte desses números.

Sóstenes acredita que, até 2030, os evangélicos serão maioria no Brasil.

O demógrafo José Eustáquio Alves, que previa essa mudança para 2032, reviu sua projeção após os dados do Censo 2022. O parlamentar ressalta que, apesar da vantagem numérica dos católicos, muitos não praticam ativamente a fé que afirmam ter.

O pastor presbiteriano Victor Fontana, da Comunidade da Vila, adota uma abordagem diferente, sem questionar a credibilidade da pesquisa. Ele associa o menor crescimento dos evangélicos “à aparente crise de credibilidade pela qual passam pastores e igrejas evangélicas".

"Eu me refiro, por exemplo, à recente pesquisa da Atlas/Intel que mostra 73% dos participantes alegando desconfiança em relação às igrejas evangélicas. Motivos para isso? Eu diria que o número de escândalos financeiros e sexuais contribuem muito, além de uma ligação mal pensada com a política partidária."

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