A visita do Papa Francisco ao Iraque revelou que na cidade de Ur, local de nascimento de Abraão, existe apenas uma família cristã. As demais abandonaram o local
Maher Tobia, de 53 anos, é o integrante desta família remanescente na cidade de Nasiriyah, a menos de 20 quilômetros do local deserto da antiga cidade de Ur, onde acredita-se que o Profeta Abraão tenha nascido.
Tobia e seu irmão chefiam as duas únicas famílias cristãs restantes em Nasiriyah - e os dois eram extremamente relutantes em compartilhar detalhes da vida cotidiana na cidade, onde a maioria dos residentes são muçulmanos xiitas e as tradições tribais costumam ultrapassar a lei.
Nos últimos dois anos, a violência em protestos antigovernamentais na cidade deixou dezenas de mortos, incluindo seis manifestantes mortos a tiros nas semanas anteriores à visita do Papa.
Não há igrejas, o que significa que Tobia tem que viajar para Bagdá ou para a principal cidade do sul de Basra para os casamentos ou funerais de outros cristãos.
Mas ele fica feliz em falar sobre a história de sua família.
Seu pai nasceu em Nasiriyah pouco antes da Primeira Guerra Mundial, filho de um empresário que havia se estabelecido na cidade quando ela estava sob o domínio otomano.
Ao longo das décadas seguintes - que trouxeram a Segunda Guerra Mundial, a ascensão e queda da monarquia iraquiana e finalmente o estado socialista Baath liderado por Saddam Hussein - a família Tobia permaneceu na cidade, agora capital da província de Dhi Qar.
Único sobrenome
Na década de 1990, o mundo impôs sanções internacionais paralisantes contra Saddam.
"Havia apenas 20 a 30 famílias cristãs na época", lembrou Tobia, dizendo que eles eram, em sua maioria, funcionários do setor público de outras cidades em pequenas missões para Nasiriyah.
Após a invasão liderada pelos EUA que derrubou Saddam em 2003, esses números diminuíram ainda mais: "Apenas duas famílias cristãs permaneceram em Nasiriyah", disse ele.
Quase duas décadas depois, o sobrenome Tobia é o único que resta, contou.
Todos os amigos cristãos que teve durante a infância partiram para a capital ou para a região autônoma curda no norte.
“Frequentemente, depois desse primeiro movimento, eles deixavam o país”, disse ele.
A dramática queda no número de cristãos foi refletida em todo o país: de 1,5 milhão antes da invasão, menos de 400.000 permanecem hoje.
A viagem de quatro dias de Francisco é a primeira visita papal ao Iraque e ele pretende usá-la para encorajar os cristãos remanescentes no país a aprofundar suas raízes.
Tobia, por exemplo, está esperançoso.
"A vinda de um homem dessa estatura com tanto peso religioso poderia beneficiar Dhi Qar e seus locais de peregrinação", disse ele.
"Se esta visita for bem-feita, pode ter um grande impacto."