O Secretário de Estado John Kerry anunciou nesta quinta-feira (17), que o governo dos Estados Unidos vai rotular as atrocidades do Estado Islâmico contra cristãos, Yazidis e outras minorias religiosas no Iraque e na Síria como um "genocídio".
"Meu propósito em aparecer diante de vocês hoje é afirmar que na minha opinião, o 'Daesh' [termo árabe usado para se referir ao Estado Islâmico] é responsável pelo genocídio contra grupos em áreas sob seu controle, incluindo yazidis, cristãos e muçulmanos xiitas", disse Kerry durante uma conferência de imprensa, às 9h. "O 'Daesh' é genocida pela auto-proclamação, pela ideologia e por ações - pelo o que ele diz, o que acredita e o que ele faz".
O anúncio de Kerry vem como uma resposta às duras críticas feitas ao Departamento de Estado dos EUA nos últimos meses sobre o fato de que tenha levado tanto tempo para reconhecer o caráter de genocídio das atrocidades praticadas pelo Estado Islâmico (também conhecido como ISIS ou ISIL), enquanto a União Europeia já havia feito a designação no início de fevereiro.
Apesar de ter sido relatado na quarta-feira que Kerry não iria anunciar sua decisão (de reconhecer o genocídio de cristãos e outras minorias religiosas no Oriente Médio) no prazo estipulado pela Câmara dos Deputados - que era esta quinta-feira, 17 de março - o Secretário de Estado assegurou que o Departamento de Estado não vai fugir da verdade por trás das tentativas do Estado Islâmico de eliminar o cristianismo e outras religiões de países, como o Iraque e a Síria.
"Nós sabemos que as ações do 'Daesh' são motivadas por uma ideologia extremista e intolerante, que castiga yazidis como 'pagãos' e 'adoradores do diabo', e nós sabemos que o 'Daesh' ameaçou os cristãos, dizendo que vai 'conquistar sua Roma, quebrar suas cruzes e escravizar suas mulheres", explicou Kerry. "Muçulmanos xiitas, por sua vez, são referidos pelo 'Daesh' como 'incrédulos' e 'apóstatas' e são submetidos a frequentes ataques e viciosos".
"Um elemento de genocídio é uma tentativa de destruir um grupo étnico ou religioso, no todo ou em parte. Sabemos que o 'Daesh' deu a algumas de suas vítimas, a escolha entre abandonar sua fé ou serem mortas. Para muitos, esta é como uma escolha entre um tipo de morte e outro", acrescentou Kerry. "O fato é que Daesh mata os cristãos, simplesmente por serem cristãos, Yazidis porque são yazidis, xiitas porque são xiitas. Esta é a mensagem que transmite às crianças sob seu controle: que toda visão de mundo é baseada em eliminar aqueles que não subscrevem à sua ideologia perversa".
Kerry acrescentou que ele não tem dúvida de que se o Estado Islâmico continuar tendo 'permissão' para construir o seu califado autoproclamado, o grupo poderá "destruir o que resta" das minorias étnicas e religiosas que, uma vez prosperaram na região.
"Eu quero ser claro. Eu não sou nem juiz, nem promotor, nem júri no que diz respeito às alegações de genocídio, crimes contra a humanidade e de limpeza étnica por pessoas específicas", Kerry afirmou. "Em última análise, todos os fatos devem ser trazidos à luz por uma investigação independente e através da determinação legal formal, feita por um tribunal competente, mas os Estados Unidos vão apoiar firmemente os esforços para coletar, documentar, preservar e analisar a evidência de atrocidades e nós, vamos fazer tudo o que pudermos para ver que os seus autores sejam responsabilizados".
A declaração de Kerry segue uma votação em unanimidade da Câmara dos Deputados dos EUA na segunda-feira, em que uma resolução foi aprovada, chamando a perseguição de cristãos e outras minorias religiosas e étnicas como um genocídio praticado pelo Estado Islâmico. A resolução, que foi introduzida pelo deputado Jeff Fortenberry (Nebraska) recebeu uma votação final de 393 a 0 e também pediu que o Departamento de Estado fizesse a mesma designação de genocídio.
"Os Estados Unidos já falaram com clareza e autoridade moral", disse Fortenberry em um comunicado compartilhado com o 'Christian Post'. "Eu sinceramente espero que a designaçã deo genocídio eleve a consciência internacional, acabe com o escândalo do silêncio, e crie as condições prévias para a proteção e reintegração destas comunidades religiosas antigas em suas terras ancestrais. Cristãos, Yazidis, e outros continuam a ser uma parte essencial da rica história do Oriente Médio, com sua diversidade religiosa e étnica. Eles agora têm nova razão para sentir esperança".
Na quinta-feira passada, as organizações 'Cavaleiros de Colombo' e 'Em Defesa dos Cristãos' divulgaram um relatório de quase 280 páginas, que descreve e relata práticas do Estado Islâmico, como "assassinatos sistemáticos, escravidão sexual e deslocamento de cristãos". O relatório já havia sido apresentado ao Departamento de Estado.
Ambas as organizações e muitos proeminentes ativistas de direitos humanos e liberdade religiosa, há muito tempo pressionavam o Departamento de Estado dos EUA para fazer uma designação de genocídio sobre o caso e argumentou que chamar os crimes do Estado Islâmico contra a humanidade de genocídio irá ajudar a estimular uma maior resposta à situação.
As organizações também alegaram que, se os EUA não chamassem as atrocidades do EI como um genocídio, isso significaria um posicionamento solitário e contrário a um consenso internacional.
"O anúncio de hoje, dado pelo secretário de Estado John Kerry é correto e verdadeiramente histórico. Para uma das poucas vezes em nossa história, os Estados Unidos designou uma situação em curso como genocídio, e o Departamento de Estado deve ser elogiado por ter a coragem de assim fazê-lo", disse o CEO da organização 'Cavaleiros de Colombo', Carl Anderson, em um comunicado.
Kerry afirmou em seu discurso que não só é importante chamar de genocídio o que o Estado Islâmico está fazendo, mas também é importante destruir o grupo terrorista e impedir o grupo de causar mais danos na região. O EI subiu ao poder em 2014 e Kerry diz que a coalizão liderada pelos EUA ajudou a recuperar 40% do território tomado pelo grupo no Iraque e 20% do território, na Síria.