Para evitar polêmicas, a Globo decidiu cortar uma cena da novela das sete, "I Love Paraisópolis", em que uma jovem seria apedrejada por evangélicos na saída de um terreiro de umbanda. A cena, que iria ao ar na segunda-feira (12), foi substituída por um atropelamento que deixou a garota, Lilica (Thainá Duarte), com um corte na testa.
A cena foi censurada por decisão da alta cúpula da emissora, segundo informa o site Notícias da TV. Executivos ficaram temerosos de a sequência parecer uma provocação gratuita aos evangélicos justamente no momento em que a emissora tem tido dificuldades para vencer a batalha de audiência com a novela bíblica da Record, "Os Dez Mandamentos", e continua sofrendo rejeição dos temas mais ousados abordados em suas novelas das nove.
No desfecho original, Lilica e sua mãe, Deodora (Dani Ornellas), apareciam voltando do centro de umbanda, na favela de Paraisópolis, depois de a garota passar por um ritual de iniciação. Elas, então, seriam abordadas pelos evangélicos.
“Sua macumbeira! Não tem vergonha, não? Vai pro terreiro fazer despacho e ainda leva a filha!”, gritaria um deles. “Nós vamos fazer justiça, em nome de Jesus!”, diria outro, antes de arremessar a pedra. No final da cena, os agressores seriam expulsos por Eva (Soraya Ravenle), que também é evangélica.
Mas na cena que foi ao ar, Lilica sofreu um acidente e o batismo no centro de umbanda foi substituído por uma consulta ao dentista. “Viu, filha, como dentista não é esse bicho de sete cabeças?”, disse Deodora. “Eu é que escovo o dente direitinho, passo fio dental”, respondeu a filha, antes de se afastar bruscamente da mãe e ser atropelada.
Enquanto a menina estava ferida no chão, Eva e Paulucha (Fabíula Nascimento) chegaram para ajudar a socorrê-la. No roteiro original, Eva faria um discurso sobre intolerância religiosa, mas a fala foi substituída por um desabafo sobre violência no trânsito. “Mas o trânsito da nossa cidade está cada vez mais violento, né?”, disse Eva.
Fato real
A cena inicial retratava o fato que aconteceu em julho com Kailane Campos, uma candomblecista de 11 anos que foi apedrejada na saída de um encontro religioso. O ataque foi atribuído a um grupo de evangélicos, mas foi repudiado na mídia por diversos pastores.
"Repudiamos isso, não aceitamos. Nós entendemos que a sociedade é livre para você crer no que você quiser", disse o pastor Silas Malafaia na ocasião. "Achem os culpados, metam na cadeia, mas primeiro saibam se são evangélicos ou não", afirmou.