Depois da morte de Mahsa Amini, os protestos se espalharam pelo Irã, desestabilizando o regime islâmico. A jovem de 22 anos foi presa por uso inadequado do hijab (véu islâmico), depois espancada pela polícia e morreu no hospital.
Até onde se teve notícias, quase 50 cidades aderiram aos protestos e o povo está nas ruas desde setembro, pedindo por justiça e pelo fim da repressão. Até agora, conforme o Gazeta do Povo, 381 pessoas já foram mortas, sendo 57 crianças, de acordo com uma avaliação publicada em 18 de novembro pela organização Iran Human Rights, com sede na Noruega.
Diante desse cenário, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas convocou uma sessão urgente, na quinta-feira (24), conforme solicitado pela Alemanha e Islândia.
O Conselho da ONU decidiu investigar a situação, mas o Ministério das Relações Exteriores do Irã condenou essa decisão, dizendo que “rejeita totalmente” a resolução que foi adotada para estabelecer uma missão de investigação de alto nível.
Movimento popular clama por justiça
“O Estado está pagando um preço alto porque continua a lutar para suprimir o movimento popular por liberdade e justiça", disse Hadi Ghaemi, diretor executivo da ONG Centro de Direitos Humanos no Irã.
O povo está nas ruas porque uma jovem inocente foi morta de maneira brutal por um motivo fútil — uma suposta violação do rígido código de vestimenta do país para mulheres.
Enquanto os cidadãos clamam por direitos humanos, os funcionários do governo preferem culpar os “motins” e os “inimigos estrangeiros” no Ocidente, a quem acusam de incitar a violação da lei.
De acordo com o The Times of Israel, o Ministério das Relações Exteriores disse que o Irã já formou uma comissão nacional de inquérito envolvendo especialistas jurídicos e “representantes independentes”.
“A formação de qualquer novo mecanismo para examinar os incidentes dos últimos dois meses no Irã é inútil e representa uma violação da soberania nacional do país”, afirmou em comunicado. O Irã “não reconhece a missão”, acrescentou o ministério.
‘Irã usa força de maneira desnecessária e desproporcional’
Enquanto isso, no Conselho da ONU, dos 47 membros, 25 votaram a favor da investigação ao Irã, houve 16 abstenções e apenas seis países — Armênia, China, Cuba, Eritreia, Paquistão e Venezuela — se opuseram.
Teerã acusou a Alemanha e outros países que apoiaram a resolução de fazer “alegações falsas e provocativas sobre a violação dos direitos de homens, mulheres e crianças, o que o Irã nega”.
“Esta resolução foi tomada sob pressão de certos lobbies políticos que dependem de informações falsas divulgadas pela mídia anti-iraniana”, acusou o Ministério das Relações Exteriores.
Ele condenou um “erro estratégico da Alemanha e de alguns países ocidentais” e disse que “essa cegueira será prejudicial aos seus interesses”.
Durante a sessão de quinta-feira, o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, insistiu que “o uso desnecessário e desproporcional da força deve chegar ao fim”.
Segundo Turk, mais de 300 pessoas já foram mortas desde a morte de Amini. Ele disse a repórteres que se ofereceu para visitar o Irã, mas não recebeu resposta de Teerã.
Governo iraniano aproveita tumulto para perseguir cristãos
O Guiame publicou na quinta-feira (24) uma matéria mostrando que a polícia do Irã está invadindo casas de cristãos.
“Eles estão em busca de cristãos. Chegam inesperadamente, invadem a casa, confiscam todos os pertences, até os móveis”, revelou Nazanin Baghstani que trabalha na Mohabat TV, especificamente para a Heart4Iran — organização de apoio aos cristãos e igrejas em crescimento.
De acordo com Nazanin, a polícia vê o cristianismo como uma ameaça à estabilidade da república islâmica.
“Eles dizem que você não vale nada, que você é um lixo e que deveria ser um mendigo por ter se tornado cristão e então dizem que você não merece ter essas coisas”, relatou ao explicar sobre o confisco dos bens dos cristãos.
Além disso, Nazanin conta que os policiais batem na porta já ameaçando que, se o cristão contar a alguém sobre o ocorrido, a punição pode ser ainda mais severa.
Ou seja, a notícia sobre a atuação da polícia não pode se espalhar: “Eles não querem ficar mal na mídia internacional”, disse. Sobre tais fatos, a Mission Network News (MNN), conclui que o objetivo final do governo iraniano é que os cristãos deixem o país.