Policiais realizaram dezenas de operações contra as Testemunhas de Jeová e fizeram várias prisões em toda a Rússia nesta terça-feira (24), como parte de um novo processo criminal que acusa o grupo religioso de “extremismo”, segundo o Comitê Investigativo da Rússia.
A agência russa abriu uma investigação por suspeitar que a denominação cristã esteja voltando a se reunir ilegalmente no país, apesar da proibição do governo.
A Suprema Corte da Rússia decidiu em 2017 que as Testemunhas de Jeová são uma organização “extremista” e ordenou o fim de suas atividades. A decisão levou à condenação de dezenas de seguidores em todo o país.
As buscas estão em andamento em mais de 20 diferentes regiões da Rússia, segundo o comitê. O vídeo de uma das batidas, publicado pelo Comitê Investigativo, mostra policiais quebrando a porta de um apartamento e, posteriormente, maços de notas russas e dólares são vistos dentro de uma pasta.
“Vários organizadores e participantes do movimento foram identificados e detidos”, disseram os investigadores em comunicado, sem dar mais detalhes.
O comitê justificou a ação dizendo que um “centro administrativo das Testemunhas de Jeová na Rússia” voltou a operar, apesar da decisão do tribunal. O relatório disse que uma nova filial foi iniciada em Moscou em junho de 2019.
O grupo é acusado de realizar “reuniões secretas”, estudar “literatura religiosa” e “recrutar novos membros” na capital e outras regiões. As acusações criminais no caso podem levar a uma pena de prisão de até 10 anos.
Um porta-voz das Testemunhas de Jeová, Yaroslav Sivulskiy, disse à CBS News na terça-feira que pelo menos quatro pessoas foram detidas pela polícia nas batidas. Ele negou que o grupo tenha retomado seus trabalhos na Rússia.
“Não existe um 'centro administrativo' russo no momento”, disse Sivulskiy em entrevista por telefone da Finlândia.
Restrição religiosa
Mais de 400 Testemunhas de Jeová foram visadas por agências de segurança na Rússia desde a proibição. Dentre elas, dezenas foram acusadas e condenadas, disse a denominação em seu site no início deste mês. O acesso ao site está bloqueado na Rússia.
A decisão do tribunal de 2017 foi amplamente criticada por grupos de direitos humanos como discriminação contra uma minoria religiosa. “A Rússia não tem absolutamente nada a ganhar com a perseguição inútil, cruel e abusiva das Testemunhas de Jeová”, disse a Human Rights Watch, com sede em Nova York.
De acordo com Sivulskiy, milhares das 175.000 Testemunhas de Jeová da Rússia deixaram o país desde que a decisão foi proferida. “Estamos voltando aos tempos soviéticos”, disse ele.
Em fevereiro de 2019, sete Testemunhas de Jeová russas disseram que foram torturadas durante interrogatórios por agentes de segurança. Após esses relatórios, os Estados Unidos colocaram na lista negra dois funcionários regionais do Comitê Investigativo da Rússia.
O Departamento de Estado dos EUA, que repetidamente condenou o tratamento dado pela Rússia ao grupo, disse que as autoridades da cidade de Surgut, no oeste da Sibéria, supervisionaram os interrogatórios, nos quais pelo menos sete Testemunhas de Jeová foram supostamente submetidas a sufocamento, choques elétricos e espancamentos.
As prisões de membros do grupo continuaram mesmo depois que o presidente russo, Vladimir Putin, considerou “um absurdo” as perguntas do próprio conselho de direitos humanos do Kremlin sobre a repressão em 2018.
“As Testemunhas de Jeová também são cristãs, então não entendo muito bem por que persegui-las”, disse Putin na época. Putin é membro da Igreja Ortodoxa Russa, a organização religiosa politicamente mais poderosa do país.