Após sofrer um ataque aéreo iraniano na segunda-feira (15), o Paquistão fez uma condenação veemente à ação dentro das suas fronteiras, chamando-o de “violação não provocada do seu espaço aéreo”.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores paquistanês, o ataque ao seu território matou “duas crianças inocentes”. O país alertou o Irã que poderia haver “sérias consequências” como retaliação.
“É ainda mais preocupante que este ato ilegal tenha ocorrido apesar da existência de vários canais de comunicação entre o Paquistão e o Irã”, afirmou o ministério.
Segundo o Irã, os “ataques com mísseis de precisão e drones” serviram para destruir dois redutos do grupo militante sunita Jaish al-Adl, conhecido no país como Jaish al-Dhulm, na área de Koh-e-Sabz, na província do Baluchistão, no sudoeste do Paquistão, informou à agência de notícias Tasnim, alinhada ao governo iraniano.
Violação do direito internacional
Como resultado imediato, o Paquistão retirou seu embaixador do Irã e interrompeu todas as visitas de alto nível por parte de autoridades iranianas.
"O ataque não provocado e flagrante à soberania do Paquistão por parte do Irã na noite passada é uma violação do direito internacional e dos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas", afirmou Mumtaz Baloch, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, em um pronunciamento pela TV.
Ela afirmou que o embaixador iraniano no Paquistão não deveria retornar de uma visita atual ao Irã e advertiu que "o Paquistão se reserva o direito de responder a este ato ilegal".
Paquistão decide revidar
Nesta quinta-feira (18), o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão anunciou uma série de ataques militares contra o Irã, visando o que foi descrito como esconderijos de militantes combatentes separatistas.
Images of a destroyed house after the rockets hit Saravan and surrounding areas
— Haalvsh_english (@HaalvshEnglish) January 18, 2024
According to Haal vsh, a number of houses in Saravan city and its surroundings have been hit by Pakistani army missiles, and it is said that the residents of the houses are trapped in the basement. pic.twitter.com/WdNjGxw9lK
Islamabad, a capital paquistanesa, anunciou que suas forças conduziram uma "série de ataques militares de precisão altamente coordenados e especificamente direcionados" no sudeste do Irã, na província do Sistão e no Baluchistão, como parte de uma operação denominada "Marg Bar Sarmachar" – uma expressão que se traduz livremente como "morte aos combatentes da guerrilha".
O vice-governador da província de Sistão e Baluchistão, Alireza Marhamati, declarou em uma entrevista à televisão estatal que pelo menos sete pessoas foram mortas como resultado das explosões. Os mortos incluíam três mulheres e quatro crianças, que eram cidadãos estrangeiros.
Este incidente na fronteira agravou as tensões entre os dois países vizinhos, indicando que tanto o Paquistão quanto o Irã tomaram a medida extraordinária de realizar ataques contra militantes em território um do outro nesta semana, em meio a um aumento das tensões no Oriente Médio e em toda a região.
Segundo o Paquistão, vários militantes foram mortos durante a operação.
Escalada no Oriente Médio
O ataque do Paquistão, feito na terça-feira, ocorreu um dia após o Irã ter lançado mísseis no norte do Iraque e na Síria na segunda-feira, marcando a mais recente escalada de hostilidades no Oriente Médio. Nesse contexto, a guerra contínua de Israel em Gaza apresenta o risco de se transformar em um conflito regional mais amplo.
Os recentes ataques indicam que tanto o Paquistão quanto o Irã tomaram a extraordinária medida de realizar ataques contra militantes em território um do outro nesta semana, em meio a um aumento das tensões no Oriente Médio e em toda a região.
A China instou o Irã e o Paquistão a demonstrarem contenção na gestão do conflito em curso após o ataque fatal.
O Ministério das Relações Exteriores da China apelou na quarta-feira (17) para que ambos os países "evitem ações que possam levar a uma escalada de tensão e trabalhem juntos para manter a paz e a estabilidade na região".
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia afirmou que o ataque era "um assunto entre o Irã e o Paquistão", mas enfatizou que a Índia mantém uma "tolerância zero em relação ao terrorismo".
O grupo militante Jaish al-Adl afirmou na terça-feira (16) que a Guarda Revolucionária do Irã utilizou seis drones de ataque e uma série de foguetes para destruir duas residências onde viviam os filhos e esposas de seus combatentes.
As autoridades da província do Baluchistão informaram à CNN que duas meninas perderam a vida e pelo menos quatro pessoas ficaram feridas. As meninas, de oito e 12 anos, foram mortas em residências danificadas durante o ataque na aldeia de Koh-e-Sabz, em Kulag, localizada a cerca de 60 quilômetros do distrito de Panjgur, na noite de terça-feira, conforme relatado pelo comissário distrital Mumtaz Khetran.
Khetran também disse que uma mesquita perto das casas foi alvo e atingida nos ataques.
Preocupações com uma guerra crescente
A guerra de Israel contra o Hamas em resposta aos ataques terroristas do de 7 de outubro intensificou as hostilidades em toda a região, com os aliados e representantes do Irã – o chamado eixo de resistência – a lançar ataques contra as forças israelenses e os seus aliados.
Na terça-feira, as forças militares dos EUA realizaram novos ataques contra alvos dos Houthis no Iêmen, mirando mísseis balísticos antinavio controlados pelo grupo rebelde apoiado pelo Irã, conforme informou um oficial de defesa à CNN.
Algumas horas depois, os Houthis lançaram um míssil em direção às rotas marítimas internacionais no sul do Mar Vermelho, atingindo o M/V Zografia, um graneleiro com bandeira maltesa, informou o funcionário.
Os ataques representam pelo menos a terceira série de ações militares lançadas pelas forças dos EUA contra a infraestrutura dos Houthis desde a última quinta-feira.
Nesse dia, as forças americanas e britânicas conduziram uma operação conjunta que visava nós de comando e controle, bem como depósitos de armas utilizados pelos Houthis para lançar mísseis e drones, incluindo ataques à navegação comercial no Mar Vermelho.
Navio sendo atacado. (Captura de tela: YouTube Hoje no Mundo Militar)
As tropas dos EUA no Iraque e na Síria têm sido alvo repetido de ataques de foguetes e drones atribuídos a representantes de Teerã. Na semana passada, os EUA realizaram um ataque em Bagdá que resultou na morte de um líder de um grupo de procuradores apoiado pelo Irã. Washington responsabilizou esse grupo pelos ataques contra o pessoal dos EUA na região.
Os combates intensificaram-se entre Israel e o Hezbollah, apoiado pelo Irã, do outro lado da fronteira com o Líbano.
No domingo, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, prometeu continuar os confrontos com as forças israelenses na fronteira com o Líbano até o término da ofensiva israelense em Gaza.