Ao menos 67 milhões de crianças no mundo não têm acesso à educação, especialmente em países com taxa de natalidade elevada e alvos de conflitos armados. A informação consta no relatório "A crise oculta: Conflitos Armados e Educação", do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc), que realiza nesta segunda-feira em Genebra o encontro anual com a educação como tema central.
Durante a sessão inaugural, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Joseph Deiss, insistiu na importância da educação para alcançar a felicidade individual e a prosperidade econômica, além de melhorias sociais como a autonomia das mulheres e a redução da pobreza.
Pelo relatório do Ecosoc, entre 1999 e 2008, ao menos 52 milhões de crianças foram matriculadas na educação primária, o que representou aumento de um terço com relação à década anterior. No entanto, apesar do avanço, em regiões como a África Subsaariana, 10 milhões de crianças abandonaram o colégio por ano, por isso que em 2008 havia ainda 67 milhões de crianças no mundo sem acesso à educação básica. A isso soma-se que, nos países menos desenvolvidos, 195 milhões de crianças com menos de cinco anos uma em cada três sofre de desnutrição, o que causa danos irreversíveis ao desenvolvimento cognitivo.
Mulheres menos escolarizadas
As crianças não são as únicas afetadas pelos problemas de acesso à educação, já que cerca de 796 milhões de pessoas, 17% dos adultos de todo o mundo, são analfabetas, e deste percentual dois terços são mulheres. Essa diferença de gênero é ainda notada na atualidade entre as crianças. Conforme o Ecosoc, se a paridade de gênero tivesse sido alcançada em 2008, 3,6 milhões de meninas mais teriam ido à escola.
Deiss destacou a importância de atingir a meta da educação universal para cinco anos, como indicam os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas, pelo qual são necessários mais de 1,9 milhão de professores. O cumprimento deste objetivo foi afetado pela crise, especialmente nos países mais pobres, já que sete dos 18 países de baixas receitas analisados pelo Ecosoc cortaram seus orçamentos para educação e juntos somaram 3,7 milhões de crianças sem escolarizar.
Conflitos atrapalham educação
No entanto, os países mais pobres aumentaram em conjunto a despesa em educação, passando de 2,9% de seus orçamentos em 1999 para 3,8% em 2008. O relatório analisa a maneira na qual as guerras afetam à escolarização das crianças, já que na última década 35 países sofreram com conflitos armados com duração média nos países mais pobres de 12 anos. Nesse período, 28 milhões de crianças 42% do total foram obrigadas a abandonar a escola primária por causa dos conflitos, responsáveis pela destruição das instituições de ensino e que transformam em muito perigosos os caminhos até elas.
Por exemplo, no Afeganistão foram registrados ao menos 613 ataques a escolas em 2009; na Tailândia 63 estudantes e 24 professores foram assassinados ou feridos entre 2008 e 2009, e, na República Democrática do Congo, um terço das violações ocorreu contra meninas, das quais 13% são menores de dez anos. Além disso, nestes países afetados por conflitos armados, 79% dos jovens são analfabetos, explica o relatório.
O Ecosoc lembra a responsabilidade dos países ricos, já que no conjunto das 21 economias mais desenvolvidas investem mais recursos em armamento do que na construção das escolas. Se 10% dessa despesa militar se desviasse a educação, haveria 9,5 milhões mais de crianças escolarizadas.