Com exceção da passagem pelo Chelsea, em que a responsabilidade de sua queda é repassada a alguns dos famosos jogadores do clube inglês, Luiz Felipe Scolari é conhecido por unir atletas em torno do objetivo que traça. O técnico, porém, sente dificuldades para fazer isso nesta segunda passagem pelo Palmeiras após discutir com comandados como Valdivia e Kleber.
O treinador só não vai abrir mão de sua sinceridade e rigidez para conquistar o elenco. "Não tenho cara para mentir e dizer que estou contente se a coisa está errada. Os jogadores podem gostar ou não, mas no dia a dia mostro minha forma de trabalhar dizendo 'está errado'. E meu relacionamento com 99% dos atletas que já passaram por mim é de grande amizade no final", avisou.
Aos insatisfeitos, o recado é para que se pense mais à frente. "Aqui vou ter um ou outro que eu não posso atingir ou mostrar o que é melhor. É normal e natural que alguns gostem ou não gostem momentaneamente. Mas, no futuro, vão dizer: 'aquele xarope me deu linhas que vou poder seguir'", comentou Scolari, que gosta também de levar fama como "protetor dos comandados".
Desde seu retorno, em julho de 2010, contudo, já ocorreram momentos em que "ser xarope" não bastou para Felipão. O primeiro entrevero veio com Valdivia, que sentia dificuldades para recuperar sua forma física, mas, mesmo assim, deixava clara sua irritação ao ser substituído. O meia chegou a definir sua relação com o treinador apenas como "profissional".
Internamente, o chefe também se desentendeu com o atacante Ewerthon, dispensado no início do ano, e Lincoln, que segue afastado dos jogos até com a conivência da diretoria, disposta a economizar com seu salário. O mais recente caso, entretanto, mexeu com o pentacampeão: Kleber, capitão e um dos homens de confiança de Felipão ao lado de Marcos e Marcos Assunção, se revoltou com a bronca pública que levou por curtir o Carnaval machucado e reclamou de falta de elogios e proteção do chefe com o grupo.
"Tenho um bom ambiente com este grupo, mas tem um ou outro com quem tenho mais amizade, são mais receptivos. Com outros, mantenho distância porque não consegui captar algo que me aproximasse. Sempre existe uma situação em que você não tem o conhecimento diário e momentâneo de alguns episódios. Sabemos isso e cabe a nós detectarmos e olharmos situações com aquela célebre frase: ou toma decisão ou não toma. E que arque com as consequências", analisou Scolari.
Com nove meses de trabalho e sem os reforços renomados que tanto pediu - principalmente um centroavante -, Luiz Felipe Scolari resolveu inspirar seus atletas com elogios ao limitado elenco. "Já disse muitas vezes ao (presidente Arnaldo) Tirone: vocês têm que agradecer por este grupo, porque eles exigem o normal e não extrapolam em nada. Tem tanta coisa que poderiam encher o saco, e não fazem", apontou.
"Posso ser um dos ídolos, reconhecido como uma pessoa que o palmeirense gosta muito, mas preciso do apoio dos meus jogadores para que cresçamos. Tanto que estou colocando jogador jovem que é desconhecido para que chegue a um determinado nível maior no futuro", concluiu Felipão.
Por William Correia