Primeiro morro do Rio a ser pacificado, o Santa Marta voltou a conviver com o barulho dos tiros. Desta vez, porém, as balas não eram de verdade e as manchas de sangue deram lugar às marcas de tinta. Nesta quarta-feira, o Blog da Pacificação acompanhou uma animada disputa entre amigos no primeiro campo de paintball da zona sul do Rio.
Entre roupas camufladas, coletes e fuzis, as equipes Nóia, Swat, 22 Só Doidão, Titãs e Boteco Tiro a Gosto travavam uma batalha que parecia uma operação policial, cheio de sobe, desce, atira, cuidado, mas, obviamente, tudo não passava de uma brincadeira entre amigos.
Esporte praticado por mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo, o paintball consiste numa disputa entre duas ou mais equipes que, utilizando carregadores com bolinhas que soltam tinta, tentam pegar a bandeira do outro grupo.
A ideia de montar o campo foi do morador André Luis do Nascimento, de 42 anos. Praticante do esporte, ele quer aproveitar o cenário da favela e a vista exuberante que se tem do Santa Marta para atrair jogadores de toda a Zona Sul.
O aluguel de duas horas do campo, custa R$ 15, valor que também inclui a arma, as bolinhas, o colete e um capacete. Para atrair os moradores da comunidade o valor é ainda mais baixo: R$ 8.
- A comunidade aceitou de braços abertos e hoje os moradores podem brincar e se divertir com um preço bastante acessível. Além disso, muita gente vem de fora para brincar aqui. Indiretamente ajudamos com emprego, porque as pessoas podem vender água, refrigerante e salgadinho para os visitantes -- explicou André, fazendo questão de frisar que tudo está legalizado. Segundo André, os amantes do esporte já aprovaram o novo campo. Marcos Vale, da equipe Boteco Tiro a Gosto, conta o diferencial de jogar dentro da favela.
- É muito diferente estar dentro da favela. O clima aqui é outro, fica mais emocionante jogar aqui. Ficou muito bom mesmo, fora o visual aos pés do Cristo Redentor e a tranquilidade.
O paintball no Santa Marta funciona aos sábados, domingos e feriados. André está procurando um outro espaço dentro da própria comunidade para ampliar o local de disputa. Tudo com a devida autorização do comando da UPP Santa Marta. André aproveita para defender o esporte.
Antes a gente se escondia das balas, dos tiros, dos traficantes, todo mundo tinha que ficar dentro de casa. Hoje estamos curtindo os tiros de tinta, uma brincadeira sadia que vale no máximo uma sujeira na camisa. O marcador de paintball lança bolinhas de tinta, não precisa ser confundido. Isso vem da cabeça de cada um. Não existe o tiro esportivo? O tiro no prato? Nem por isso quem gosta é bandido, marginal ou pessoal de má índole. Mesma coisa é o paintball.