Presidente Dilma Rousseff recebe representantes da
Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447
da Air France (Foto: Roberto Stuckert Filho /
Presidência)
Após reunião com a presidente Dilma Rousseff nesta sexta-feira (26) , o presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Nelson Faria Marinho, disse que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) deverá entrar nas investigações das circunstâncias da queda do voo 447 da Airfrance, que matou 228 pessoas em maio de 2009.
Ele se reuniu com Dilma e com o chefe do Cenipa, brigaderio Carlos da Conceição, no Palácio do Planalto.
Nós temos dois inquéritos da Polícia Federal sobre o acidente, um em Pernambuco e um em Brasília, que estão parados por falta de conhecimento técnico. A presidente Dilma designou o Cenipa para entrar no caso. Vai haver uma investigação paralela a da França, afirmou.
Em menos de uma hora após o fim da reunião, a Secretaria de Comunicação da Presidência negou a ordem para uma "investigação paralela" do Cenipa . Segundo o Planalto, a presidente teria apenas se comprometido a "dar todo o apoio necessário" para que as famílias tenham amplo acesso às investigões realizadas na França sobre a queda da aeronave.
Segundo Marinho, o Cenipa vai, inicialmente, fazer uma análise técnica de dois documentos que juntos somam 650 páginas. Um deles é uma investigação de um especialista que aponta falhas mecânicas no avião como as circunstâncias causadoras da tragédia. O outro é uma avaliação da Associação dos Pilotos da França sobre o acidente. O que podemos dizer é que, pela primeira vez, o Estado brasileiro vai, de fato, assumir as investigações, disse.
O G1 procurou o Cenipa para obter informações sobre a investigação, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
De acordo com Marinho, Brasil e França são signatários de um tratado internacional que regulamenta aviação civil e permite investigações paralelas em casos de queda de avião em águas internacionais.
Nós temos o Tratado de Chicago, do qual Brasil, Estados Unidos, França são signatários e que permite um inquérito paralelo, disse. Marinho, que perdeu um filho de 40 anos no acidente, diz não confiar nas investigações feitas na França. Segundo ele, não é correto culpar os pilotos pela queda da aeronave.
O governo francês, que é dono tanto da Airbus quanto da Airfrance, quer proteger os empregos franceses. Com a entrada do Cenipa nas investigações, queremos a verdade, afirmou.
Relatório do Escritório de Investigação e Análise (BEA) da França diz que os pilotos executaram manobras inadequadas diante da falha nos Pitots, instrumento que indica a velocidade do avião. Em entrevista após a divulgação do relatório, o chefe do BEA, Jean-Paul Troadec, disse que os pilotos poderiam ter salvo a situação mesmo depois de a cabine parar de receber os dados de velocidade.
Acompanhamento
Em entrevista ao G1 em abril, o coronel da Aeronáutica Luís Cláudio Lupoli informou ao G1 que o Brasil conhece todas as informações que constam na apuração do órgão francês que investiga a tragédia do voo AF 447.
Lupoli acompanha a investigação francesa desde o dia em que o acidente ocorreu e é o representante creditado do Centro de Investigação e Prevenção de Aeronáuticos (Cenipa) junto à França. O coronel vê a investigação com transparência por parte do órgão francês.
Avião presidencial
Marinho afirmou ainda estar preocupado com o fato de a presidente Dilma Rousseff usar um Airbus como avião presidencial. Trata-se de uma avião muito automatizado. Depois da queda do 447 houve outros seis acidentes com Airbus 430, disse.
O atual avião presidencial é um Airbus 319 comprado durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.