O médico patologista Ricardo Tapajós classifica de discriminação por orientação sexual a decisão do Club Athletico Paulistano, nos Jardins, em São Paulo, de vetar a inclusão do parceiro dele como sócio no final do mês passado. Homossexual assumido, ele diz que a solicitação foi feita no final do ano passado. Em nota, o clube confirma que por ampla maioria de votos, indeferiu o pedido do associado.
Em entrevista, Tapajós conta que ficou triste com a decisão e queria que os conselheiros rediscutissem o assunto. Se eu apresentar uma concubina que está comigo há dois anos, pode. Em uma semana, ela é aceita no clube. Mas não posso colocar meu marido lá dentro, reclama. O Paulistano é um dos mais tradicionais da cidade e tem sócios de alto poder aquisitivo.
Pela Lei do Concubinato, o homem ou a mulher que tiver uma união estável ou filho com o cônjuge passa a ter direitos, como partilha de bens. Aos 45 anos, o médico revela que nasceu no Paulistano, uma vez que seus pais já tinham título. Até minha sobrinha-neta é sócia.
Apostando que pudesse haver resistência por parte do Conselho Deliberativo, Tapajós, que se refere ao parceiro Mário Warde, 39, como marido, revela ter adiado o pedido para que o companheiro fosse incluído como sócio até outubro de 2009. Os conselheiros analisaram a solicitação em janeiro deste ano, mas a votação ocorreu somente no dia 26 de agosto.
Justificativa do clube
Em um comunicado, a assessoria de imprensa informa que o posicionamento levou em conta o Estatuto Social do clube, o Código Civil e a Constituição Federal para chegar à conclusão de que é reconhecida como entidade familiar a união estável mantida entre homem e mulher.
Tapajós critica o resultado da reunião, afirmando que o Paulistano adotou uma solução formalista-legalista ao recorrer às leis. Se o caso não é previsto, também não é proibido, diz. Para o patologista, faltou vanguarda, vontade por parte dos integrantes do conselho.
O clube pode mudar o regulamento e me acatar hoje à noite. A desculpa deles foi um papelão, lamenta o patologista. Ele justifica o pedido para que o companheiro com quem está há seis anos possa frequentar o Paulistano. Quero que ele participe do clube como as esposas e concubinas dos meus amigos. Como os maridos de minhas irmãs, como qualquer casal, casado ou não.
Em seguida, completa: Mas meu marido, cirurgião plástico, membro da Academia Brasileira de Cirurgia Plástica, pós-graduado pela Escola Paulista de Medicina (...) não pode. Se isso não é discriminação por orientação sexual, o que será?
Classe A
Bastante tradicional na sociedade paulista, o Club Athletico Paulistano existe há 109 anos. No site, revela que o perfil do associado inclui gente com alto poder aquisitivo, totalizando 25 mil sócios proprietários de títulos sociais. Nas dependências do complexo existe até cinema. É clube de gente rica, tem que nascer sócio, conta o médico, que calcula em R$ 200 mil só a taxa de transferência de quem quer adquirir um título.
O patologista afirma não ter sido informado oficialmente da decisão do clube, mas diz que o resultado das assembleias fica exposto no quadro de avisos. Ele diz que está analisando a possibilidade de entrar com um processo na Justiça por danos morais. Eu posso colocar lá qualquer mulher, de qualquer laia, de qualquer estirpe. Mas só posso levar o Mário como convidado para almoçar. Nem no cinema ele pode ir. O clube interfere na minha vida domiciliar.
Apesar da repercussão que o caso possa tomar daqui para a frente, Tapajós diz não ter medo de retaliações no Paulistano e afirma que continuará a frequentar o local.
Postado por: Thatiane de Souza