O juiz Marcelo Alexandrino, de 39 anos, baleado em uma blitz no dia 2 de outubro , na autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio, afirmou, após receber alta médica, nesta segunda-feira (11), que pretende entrar com alguma medida judicial contra a polícia,.
Claro que a gente vislumbra entrar com alguma medida judicial, disse ele, ao lado da mulher, Sunny Alexandrino, de 28 anos, durante uma entrevista coletiva de quase meia hora, no Hospital Pasteur, no Méier, na Zona Norte.
Entretanto, Marcelo contou que essa não é a prioridade no momento, já que seu filho, de 11 anos, e a enteada, de 8, ainda estão internados. As crianças também foram baleadas na blitz. O menino teve perfuração nos dois pulmões e a menina teve perfuração de bala no estômago, no fígado e também no pulmão. Segundo os pais, o quadro de saúde delas não é grave.
Elas foram transferidas para um hospital da Zona Sul, mas o juiz preferiu não revelar o local e informou que seguiria para lá com a mulher após a entrevista. O foco agora são as crianças. Quando elas ficarem bem eu penso nisso, disse ele.
De acordo com o hospital, Marcelo sofreu trauma no tórax por perfuração por arma de fogo. Em duas semanas, ele retornará ao hospital para fazer uma revisão.
Mulher diz que passa mal quando vê polícia
Ainda muito abalada, a mulher do juiz, Sunny, chorou em alguns momentos e afirmou que está com trauma de sair na rua e também da polícia. Eu tenho pavor de sair de casa agora. Quando vejo um policial me dá até sensação de desmaio, afirmou.
O casal contou que as crianças também estão muito traumatizadas e que toda a família precisará de tratamento psicológico. Segundo eles, a menina acorda chorando durante a madrugada e o menino não queria ser transferido de hospital porque teria que sair na rua. Ele me ligou chorando, eu tive que inventar uma história de que um amigo meu ia acompanhar eles de helicóptero até o outro hospital, contou Marcelo.
Críticas à conduta da polícia
O magistrado voltou a criticar a ação dos dois policias presos acusados de terem feito os disparos. Ele rebateu a afirmação deles de que falta treinamento na polícia. O problema não é só de treinamento, é uma questão de conduta. Não se bate pelas costas e também não se atira pelas costas. Isso não tem a ver com treinamento, isso se aprende dentro de casa, disse ele.
O juiz deixou um recado para os dois policiais: Dêem a versão correta e verdadeira. A partir daí é outra história. Para ele, a forma como a polícia se utiliza do poder tem que mudar.
Segundo Marcelo e Sunny, os policiais não estavam identificados e, por isso, o casal achou que eram bandidos e tentaram fugir da blitz. O juiz disse que vários carros conseguiram retornar, mas quando ele passou a marcha ré, havia um ônibus atrás do seu carro. Marcelo descreveu como um milagre o fato de ele e as duas crianças terem sobrevivido aos tiros de fuzil.
Ele reafirmou que sentiu muita decepção ao saber que tinha sido baleado por policiais e não bandidos. Tenho uma relação de afeto grande com a polícia civil, meus melhores amigos são da polícia civil, contou.
Perguntado se perdoaria os dois policiais que atiraram contra a sua família, ele afirmou que ainda não sabe. Não tenho condições de pensar se é perdoável ou não. Está muito cedo. Não conheço a história de vida dessas pessoas que atiraram contra mim e a minha família, disse ele.
Policial diz que nunca havia disparado um fuzil
Presos depois que uma perícia apontou suas armas como a origem dos tiros que feriram o juiz e as duas crianças em uma blitz , policiais criticaram o treinamento que receberam na Academia de Polícia Civil. Nunca havia disparado com aquele fuzil, conta Souza, um dos policiais presos pelo crime na última sexta-feira (8). A perícia ainda não identificou de onde partiu a bala que atingiu o filho do juiz, de 11 anos. A matéria foi exibida no Fantástico.
Eu tenho dois meses de polícia. Foi a primeira situação minha de confronto real. Treinamento pra blitz, nós não tivemos nenhum. Dentro da academia, isso não foi dado. Nós tivemos treinamento de uma semana de abordagem e progressão, uma semana pra tiro, sendo que desse tiro foi um dia de fuzil, com 50 disparos. Isso está dentro da nossa carga horária, que é publicada em Diário Oficial do nosso curso de formação, explica ele. Se a Academia de Policia não prepara, a preparação deles é deficiente: senhor diretor da Academia de Policia, por favor, reveja seu programa. Se o delegado não os instruiu, na academia vocês não tiveram aula de como montar uma blitz, eu vou dizer pra vocês antes de vocês irem pra rua: senhores delegados, passem a fazer isso. As responsabilidades são várias, rebate o juiz.