Característica intrínseca das grandes metrópoles, a arte de rua se modificou, conquistou espaço em galerias, e, recentemente, ganhou com as redes sociais uma ferramenta essencial de divulgação. Para o artista iniciante, existem diversos meios que podem ajudar.
Mariana Pabst Martins é uma das idealizadoras da galeria Choque Cultural, um dos espaços mais respeitados do país na área de arte urbana. Ela conta que está sempre de olho na rede em busca de novos talentos. "Boa parte dos meus artistas, conheci pela internet". Segundo Mariana, um dos principais trunfos da divulgação feita pela rede é a quantidade de informação agregada ao trabalho.
"Antes, muito da história por trás da obra era perdida, ficava restrita somente entre o círculo de amizades do artista em questão", diz, antes de explicar a importância do contexto para o valor agregado da obra. "A arte de rua não é só o material em si. É saber como a comunidade aceitou aquilo, se houve ou não repressão das autoridades e coisas do tipo."
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Existem muitas formas de divulgação no meio cibernético. Sites como deviantART, Carbonmade e Artwork Network permitem que os artistas exponham seus trabalhos, vejam o que outros artistas estão fazendo e, principalmente, troquem experiências, compartilhem técnicas e esclareçam dúvidas.
O galerista Fabio Cimino, da Zipper Galeria, no entanto, não tem dúvidas em relação a qual ferramenta é a mais importante: redes sociais. "A gente não depende mais de um veículo para divulgar uma exposição ou algo do tipo. Não precisamos da mídia para legitimar nosso trabalho, podemos fazer isso por meio das redes sociais", diz.
Segundo ele, antes da real inserção de sites como Orkut, Facebook e Twitter na vida do brasileiro, os grandes meios de comunicação faziam das galerias e artistas reféns. "Isso tirou o poder de instituições que antes se consideravam sagradas", explica.
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Para fazer um bom uso desses meios, Mariana explica que é importante ser bem relacionado com pessoas envolvidas com arte e postar com certa frequência seus trabalhos. Mas cuidado. Não pode insistir em enviar aos outros suas fotos, deixe que as pessoas cheguem até você naturalmente. "Não pode ser um desses chatos", diz a galerista entre risos.
Os grupos de arte coletiva também encontraram na web uma forma fácil de articulação entre seus membros e colaboradores. David Magila, do coletivo Base-V, conta que no site da companhia chegam trabalhos do mundo inteiro que, depois de passarem por um crivo, são publicados na edição online da revista. Daí em diante, o material ganha vida própria. "Cada vez mais os trabalhos circulam. Isso é muito louco, na verdade. Muitas vezes não temos noção de quantas pessoas tiveram acesso ao que fizemos", diz.
Mas nem tudo é perfeito no mundo virtual. A facilidade com que trabalhos podem ser copiados é um problema. "Tem menos pessoas fazendo conteúdo e muita gente replicando. O problema é que acontece de a pessoa lucrar com um trabalho alheio e sempre o artista que criou o material é o último a saber", explica Magila.
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Já o grafiteiro Zezão nunca teve problemas com a tecnologia. Ele conta que boa parte de sua fama atual foi proporcionada por conta da exposição de seus trabalhos na internet, o que o levou a diversos convites para entrevistas em documentários e para expor sua arte em diversos países. "Não interfere muito na forma de fazer arte de rua, ela (a internet) facilita, sim, o intercâmbio de informações entre pessoas de diferentes cidades", explica.
Mas se por um lado a rede encurta a distância entre artistas e fãs, por outro ela cobra um preço por isso: dedicação. "Estou há algum tempo sem internet, por isso minha caixa de e-mails e meus perfis nas redes sociais estão lotados de mensagens. Eu tento dar atenção a todos, mas muitas vezes não dou conta", confessa o artista.
Mesmo assim, Zezão faz questão de deixar claro que nada substitui o trabalho feito na cidade, e que a internet é, na verdade, um segundo passo, uma consequência. "Tem que estar na rua, melhor exposição do que isso não existe. Na rua, você atinge desde o mendigo até uma velhinha que nunca viu um computador", diz de forma bem humorada antes de concluir: "É a essência real. Ver uma obra ao vivo tem muito mais impacto do que pela tela de um computador".
Por: Rafael Bergamaschi