
Não estamos sugerindo com isto que Jesus fosse indiferente à pobreza e a fome. Ele sentia compaixão pelos neces¬sitados e alimentava os famintos, e disse aos seus discípulos que fizessem o mesmo, segundo Stott. Mas a bênção do seu reino não era primordialmente uma vantagem à uma classe social específica. Os pobres de espírito aos quais Jesus faz mensão neste sermão são aqueles que entendem que não possuem recursos próprios capazes de salvá-los; que não possuem nada que os tornem merecedores da graça de Deus. São aqueles que percebem que nada tem a oferecer em troca de perdão e da misericórdia. Sim, estes são os pobres de espírito. Não são aqueles que ostentam ou exibem uma espiritualidade impecável e uma santidade elevada.
Em outras palavras o reino não pertence aos que “acham a ultima bolacha do pacote”. Pelo contrário, o reino pertence aqueles que são humildes o bastante para reconhecerem sua pobreza espiritual. São os maltrapilhos espirituais, aqueles que, enquanto escutam o fariseu dizer “graças te dou oh Deus por não ser como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros”, sequer são capazes de levantar os olhos aos céus, mas dizem humildemente: “Ó Deus, sê propício a mim pecador!” (Lc 18.9-14). Esses, e tão somente esses, recebem o reino de Deus. Pois o reino de Deus que produz salvação é um dom tão absolutamente de graça quanto imerecido (Stott). Tem de ser aceito com a humildade daquele que se vê como pobre, incapaz de fazer por merecer tal dádiva.
Desta forma gostaria lhe perguntar: você percebe essa qualidade espiritual em si mesmo? Bem, existe algumas maneira de descobrir isto. A mais facil é examinarmos o modo como nos relacionamos cotidianamente com Deus e com as pessoas. Se no dia a dia recriminamos as pessoas com quem convivemos no trabalho, na faculdade ou até mesmo em casa, nos arvorando como seus juízes, colocando-nos numa posição de superioridade moral e ética sempre condenando-os é porque provavelmente não enxerguemos ainda com clareza nossa própria fraqueza moral. Do mesmo modo, quando nos relacionamos com Deus diariamente e não somos capazes de perceber sua graça e de nos sentirmos extremamente favorecidos por ele é porque não somos conscientes ainda de nossa ultrajante pobreza espiritual. Seja como for, meu convite a você hoje é este: seja humilde em seu relacionamento com as pessoas com quem convive e com Deus e, então, você descobrirá a felicidade de ser surpreendido cotidianamente pela graça de Deus. Pois como disse o Mestre: “Felizes são os pobres de espírito, pois deles é Reino de Deus” (NVI).
- Missionário Kássio Lopes
Referência:
STOTT, John R.W. Contracultura cristã. ABU, São Paulo, 1981.