Infelizmente não tive um pai participativo. Na verdade, meu pai foi embora de casa aos meus onze anos de idade e nunca mais tive notícias dele. Não sei se ele está vivo ou morto, longe ou perto, com saúde ou doente! O que sei é que apesar de sua ausência, ele me ensinou algo muito importante; o de não ser ausente na vida dos meus filhos.
Deus me deu o privilégio de ser pai de três maravilhosas crianças, e gostaria muito de ao ficar mais velho, não ter a ausência dos meus filhos nesta fase da vida. Todo filho um dia torna-se pai da velhice do pai.
Há um dado momento em que trocamos os papéis com os pais, e passamos a ser cuidadores daqueles que um dia cuidaram de nós. Quando os pais se tornam lentos, enfraquecidos e com certas limitações, o filho então deve assumir o papel de pai da velhice do pai.
Hoje, nos meus 40 anos, eu ainda dou ordens, estabeleço limites, chamo a atenção, e procuro prover todas as necessidades que meus filhos possuem, mas chegará um dia em que nossos papéis se inverterão. E então eu passarei a pedir, suspirar e gemer, e a dar um pouco mais de trabalho, tudo será muito mais difícil pra mim, me esquecerei de algumas coisas, talvez até precisarei de ajuda pra mudar de roupa ou tomar alguns remédios vitais.
Meus filhos também sabem que eu mudei coisas em casa pra eles não se machucarem quando bebês. Bloqueei tomadas, coloquei tela na sacada, cercadinho na escada, protetor na quina dos móveis, alterei minha rotina, e abri mão de comprar coisas pra mim e pra minha esposa, só pra comprar pra eles. E era mesmo pra ver a felicidade sem preço e as covinhas do sorriso pelo brinquedo novo na cara de cada um deles.
Mas um dia precisarei de corrimões, de colchões especiais pra coluna, de protetores no banheiro. Um dia minha residência precisará ser preparada para receber minha velhice e conto com os meus filhos pra isso, ainda que não sejam arquitetos, engenheiros ou médicos, mas apenas filhos presentes na velhice do pai.
Uma das palavras mais belas que podemos ouvir de nossos filhos é: “Deixa que eu ajudo!” - E é triste quando o filho aparece apenas no enterro do pai, e perde esta oportunidade de se despedir um pouco à cada dia.
Enfim, talvez um dia, um dos meus filhos me pegue no colo, pra enfermeira trocar a roupa de cama, e assim, aninhado nos braços do meu filho/pai, eu, pequeno, enrugado, fraco, saberei que a maior dádiva é ter um filho presente nas nossas últimas e derradeiras horas finais. Esse é sem dúvida o maior e melhor presente que um pai pode ganhar de seu filho: A convivência até o fim de nossas vidas.
Por Bruno dos Santos