Série Mulher Cristã: Phoebe Worrall Palmer, Pioneira no Movimento de Santidade (Holiness)

O movimento Holiness – do inglês “Santidade” – nasceu nos Estados Unidos entre 1841 e 1850.

Fonte: Guiame, Caroline FontesAtualizado: quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024 às 17:53
Phoebe Worrall Palmer. (Foto: Domínio Público)
Phoebe Worrall Palmer. (Foto: Domínio Público)

Começo este artigo sobre Phoebe Palmer, como muitos historiadores em seus comentários iniciais o fizeram, com a seguinte declaração de espanto: “Como uma figura tão influente pode ser completamente negligenciada por mais de oitenta anos depois da morte?” Infelizmente é verdade. Pelo fato de ter sido uma das mulheres mais famosas em seu tempo, somente trinta anos depois de sua morte (1874) os tratados a respeito da vida e obra de Palmer começam a aparecer pela primeira vez.

De fato, os detalhes da vida de Palmer e o pensamento, de forma inquestionável, a posicionaram como uma figura dentro – do coração – do movimento de santidade americano do século XIX. Mas, sua influência rompe esse movimento para o protestantismo de seu tempo em geral, assim como as fronteiras da América. Phoebe Palmer, foi uma mulher cristã com reconhecimento internacional.

O movimento Holiness – do inglês “Santidade” – nasceu nos Estados Unidos entre 1841 e 1850, como uma dissidência da Igreja Metodista, esse foi o primeiro passo em direção ao avivamento. Segundo, Almeida, “especialmente a igreja Metodista buscava uma segunda benção divina, na qual os crentes seriam santificados para viverem mais próximos de Deus (ALMEIDA, p.296, 2020). Depois da conversão, de acordo com os ensinamentos de John Wesley sobre a perfeição cristã, a segunda benção era a santificação do crente, “o que requer uma vida de resignação e contínuo esforço mediante à submissão às ordenanças divinas, humildade, espírito de perdão e a glorificação do nome do Senhor pela prática do amor” (BRUNELLI, p.332, 2016). Embora, esse ensinamento pareça radical, a santificação era fundamental para consolidar a fé e prática das pessoas a verdadeira religião. Contudo, não passava pela imaginação deles, que seria o motivo impulsionador para o grande avivamento que estava por vir.

Outro ponto significativo é que o movimento da santidade promoveu a ascensão feminina, ajudando as mulheres a desenvolverem suas habilidades ministeriais e de liderança no avivamento que se seguiu. Além disso, o movimento de santidade foi um trabalho da Igreja Metodista que buscava retomar o dinamismo espiritual da primeira geração, com ênfase a igualdade bíblica de Gálatas 3:28 “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vos sois um em Cristo Jesus”. Destacava-se junto com o argumento da redenção o lema pentecostal em Joel 2:28 e Atos 2:17-18, enfatizando que o derramamento do Espírito era igualmente para homens e mulheres, assim como a capacitação de ambos para o ministério da evangelização.

Exatamente, nesse contexto, que Phoebe Palmer se destaca como pregadora metodista, sem nunca ter sido ordenada, avança na obra missionária nas favelas de Nova York, mobiliza um exército de evangelistas leigos, também escreveu argumentos bíblicos apaixonados para as mulheres no ministério, pregou em dois continentes. E ao fazer essas coisas ajudou a iniciar um reavivamento que mudou uma nação. Em sua teologia ela destacava o Batismo com o Espírito Santo como subsequente à conversão. A descrevem com a mais notável professora de Bíblia e evangelista de seu tempo. Por essa razão muitas vezes Palmer e chamada de “mãe do movimento de santidade”.

Phoebe Worrall Palmer (1807-1874) nasceu em 18 de dezembro de 1807. Seus pais, Henry, e Dorothea Wade eram metodistas e se converteram na Inglaterra, durante o avivamento sob John Wesley. Phoebe foi a quarta dos oito filhos que sobreviveram até a idade adulta. A família dos Worral é descrita como um lar de intensa devoção religiosa. Dessa forma o desenvolvimento espiritual de Phoebe foi diretamente influenciado pelo envolvimento da família em sua igreja Metodista. Uma pessoa muito importante na vida de Phoebe, foi seu professor de catecismo, Nathan Bangs, em 1817. No entanto, “sua espiritualidade se desenvolveu em uma idade muito precoce, quando mostrou maturidade incomum em sua compreensão da teologia e na vida piedosa” (LECLERC, p.102, 2018). Todavia, seus escritos iriam evidenciar suas elaboradas percepções sobre as Escrituras e a teologia de santidade, apesar de possuir apenas uma educação escolar de oitavo ano.

Em 1826, Phoebe conheceu Walter Clarke Palmer. Walter e Phoebe se casaram em 28 de setembro de 1827. Embora, muitos dissessem que os Palmers foram feitos um para outro tanto no interesse quanto na personalidade, e que eles mantiveram um casamento muito feliz, suas vidas não foram sem dificuldade, até mesmo uma tragédia. Os Palmers tiveram seis filhos, mas três faleceram ainda bebês, o primeiro Alexander com 11 meses o que causou um grande sofrimento para Phoebe, contudo ela não questionou Deus. Um tempo depois nasceu o segundo filho Samuel, que viveu apenas sete semanas. Os Palmers sofreram muito com ambas as perdas. Depois lhe nasceu uma filha em 1835, e as suas lutas espirituais continuaram, por uma tragédia que a atingiu novamente. Pelo descuido de uma empregada que deixou uma lamparina de óleo e incendiou o berço de Eliza, sua filha caçula. Exatamente nesse cenário foi lhe aberto o caminho para buscar a Inteira Santificação mais profundamente. A perda de sua filha fez com Palmer se entregasse completamente nas mãos de Deus, em vez de fugir dele. “Ela prometeu confiar na bondade e no amor de Deus” a partir daquele momento.

Palmer, entendeu que a demora na sua santificação, se deu pela sua falta de compreensão da “profundidade” e da gravidade de não ter desistido de seus “ídolos”. Com isso ela desenvolveu o famoso “Pacto do Altar” que ajudou as pessoas a buscarem a Inteira Santificação. Com base na teologia Wesleyana, ela passou a crer que a santificação era não apenas possível, mas fundamental. Baseada na frase “o altar que santifica a oferta” (Mateus 23:19), Phoebe, começou a ensinar a “teologia do Altar”, então ela ensinava que se você colocasse sua vida em completa consagração a Deus, você receberia santificação, porque Deus santificava o que era oferecido no altar. Isso foi uma resposta ao seu clamor e de muitos outros. Posteriormente, ela tornou esse ensinamento acessível as pessoas de forma prática: (1) consagração inteira a Deus, (2) fé na promessa de Deus (o “altar santifica o dom” e (3) testemunho público. Por anos e anos esse foi o ensinamento de Palmer para santidade cristã.

Logo após essa experiência que a vida de Palmer começou a mudar e se expandir de maneira significativa e, de forma incrível. Os Palmers se mudaram para uma casa na parte baixa do lado leste de Nova York e começaram a viver com a irmã de Phoebe, Sarah e com seu marido, Thomas Lankford. Após, Sarah ter sua experiência de santificação, ela organizou e liderou duas reuniões de mulheres, que depois passou a acontecer unicamente as terças-feiras pela manhã em sua casa. Nesse mesmo período a Igreja Metodista local vivenciava um grande avivamento. Quando Phoebe assumiu a liderança e os homens também quiseram participar, alguns dos líderes Metodistas mais proeminentes do século XIX foram influenciados pelo que aconteceu naquela sala, as reuniões também influenciaram outros líderes que não eram metodistas.

Palmer baseava sua teologia da “Inteira Santificação” nos escritos de John Fletcher, que foi o primeiro a vincular a Inteira Santificação com “o batismo do Espírito Santo”. Além disso, Palmer chegou a se corresponder com Asa Mahan, que escreveu um livro de mesmo título que deu justificativa bíblica e teológica para vincular a imagem pentecostal com a experiência individual da inteira santificação. Então, Palmer chegou a um entendimento que a experiência pentecostal que tivera era uma experiência transferível a todos os crentes, dessa forma ela pregou essa necessidade imperativa em seus avivamentos e reuniões de acampamento e em suas obras escritas.

Phoebe Palmer ficou conhecida rapidamente. Os trinta anos seguintes ou mais seu ministério foi muito difundido- teologicamente rigoroso, dinamicamente reavivalista e, socialmente relevante. Em seu ministério itinerante, ela viajou extensivamente por todos os Estados Unidos – pregando em avivamentos e, mais tarde, em reuniões de acampamentos, tendo passado vários anos no exterior com a mesma vocação. Muitos acreditam que ela foi uma reavivalista no calibre e da popularidade de Charles Finney. “Ela foi descrita por um conhecido ministro coma a Priscilla que ensinou a muitos Apolos o caminho de Deus mais perfeitamente” (ALMEIDA, p. 300, 2020). Além disso, ela escreveu centenas de livros e folhetos, Phoebe também foi a editora da revista de Santidade mais influente do século. Ela foi a pioneira na famosa missão ao interior da cidade – missão dos Cinco Pontos. Ela também distribuiu folhetos nas favelas de Nova York, visitou os encarcerados, ofereceu treinamento escolar e religioso aos pobres, ela abriu um orfanato e alimentou os pobres.

De fato, os encontros de oração de Phoebe serviram de inspiração a outras mulheres, que também se engajaram no mesmo tipo de ministério, assim as reuniões se espalharam pelo país. Outras denominações evangélicas, entre elas, os congregacionais, episcopais, batistas e quacres, também foram influenciadas pelos ensinamentos de Phoebe. Ela tinha o dom do evangelismo e estima –se que trouxe mais de 25 mil pessoas para a fé em Cristo.

Sem dúvida, a vida e o legado de Phoebe Palmer, ainda é encorajador não somente para as mulheres cristãs, mas a toda igreja de Cristo no presente século. Os cristãos precisam viver as marcas da segurança de Cristo, uma vida consagrada a Deus, e o transbordar do Espírito Santo e experiência carismática. Logo, podemos perceber que Deus chama pessoas comuns, que atravessam circunstâncias extremas, mas decidem entregar tudo a Deus, ouvem o chamado, vivem na dependência do Espírito e seu poder renovador, e por mais comuns que sejam, com a mensagem do Evangelho conseguem impactar o mundo. Eu vejo que Deus continua a chamar essas pessoas comuns, pois os dias dos heróis ainda não acabaram. 

Referências:

ALMEIDA, Rute Salviano. Vozes Femininas nos Avivamentos: Europa e Estados Unidos: séculos 18, 19 e início do século 20. Viçosa, Ultimato, 2020.

BRUNELLI, Walter. Teologia para Pentecostais: Uma Teologia Sistemática Expandida – Volume 4. Editora Central Gospel.Rio de Janeiro, 2016.

LECLERC. Diane K. Phoebe Palmer- Propagando a Santidade “Acessível”. In: KNIGHT III. Henry(org). De Aldergaste a azusa: Visões de uma nova criação, Wesleyana, Pentecostal e de Santidade. Tradução de Cloves da Rocha Santos. Maceió: Editora Sal Cultural, 2018.

VASCONCELOS, Eduardo. O caminho santo de Phoebe Worral Palmer. Jornal Wesleyano do século XXI (online), 30 de dez de 2016. Disponível em: https://wesleyano.inf.br/biografia/322/. Acesso em 20 fev de 2024.

Caroline Fontes é formada Bacharel em Teologia; com pós- Ciência da Religião, formada em Pedagogia – UERJ, pós-graduação em Neuropsicopedagogia – FAMEESP. Reside no Rio de Janeiro, casada com pr. Ediudson Fontes, mamãe de Calebe Fontes. Diaconisa na Igreja Assembleia de Deus – Cidade Santa, professora na EBD, e idealizadora do Clube de Leitura da Mulher Cristã- Enraizadas em Cristo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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