Gente com jeito feliz

Gente com jeito feliz carrega em si o mistério do divino.

Fonte: Guiame, Clarice EbertAtualizado: sexta-feira, 19 de dezembro de 2025 às 12:07
(Foto: Hassan Nizam/Unsplash)
(Foto: Hassan Nizam/Unsplash)

Gente com jeito feliz não se fez por esforço, nem se moldou por vontade. O seu jeito veio como presente — dado pelo Eterno, por graça e misericórdia. Não foi conquista, foi semente. Uma semente que encontrou terra afofada, revolvida por dores, fertilizada por lágrimas, preparada pelo grande jardineiro.

Essa terra não conheceu apenas o calor e a luz do sol, e a umidade da chuva mansa. Houve dias de trevas, tempestades que rasgaram o céu e o peito. Mas o jeito feliz vingou. Não por força ou mérito, mas por milagre. Brotou no meio do vendaval, como flor que insiste em nascer entre pedras e pântanos.

Gente com jeito feliz não se vangloria. Sabe que o viço da alegria não se sustenta no orgulho, nem na positividade tóxica coreografada ou nas fantasias de superação, mas permanece porque tem humanidade, autenticidade. Gente com jeito feliz não se faz deus de si nem dos outros. É na humildade que a sua alegria respira, cresce, floresce.

Como árvore plantada em jardim fecundo, junto ao rio de águas vivas, essa gente aprofunda raízes — invisíveis, silenciosas — que sustentam, alimentam e fazem florescer o invisível no visível. Cada flor é beleza, perfume e revelação. Cada fruto é alimento, nutrição e transformação.

Gente com jeito feliz carrega em si o mistério do divino. Não porque seja perfeita, mas porque foi tocada. E esse toque não se explica — se sente. É presença que acalma, palavra que cura, gesto que ilumina. É vida que se multiplica, que se espalha, que fecunda outras vidas.

Se você cruzar com essa gente, saiba: está diante de um milagre. E milagres não se entendem — se contemplam. Se acolhem. Se deixam tocar. Porque o jeito feliz é dom. E dom, quando compartilhado, vira jardim.

E em jardim fecundo brota mais gente com jeito feliz. Gente que floresce porque foi tocada, e ao florescer, toca. Nesse jardim a alegria — essa que não depende do tempo nem das circunstâncias — se desperta a cada manhã pelas novas misericórdias que chegam e se espalha como luz mansa ao entardecer. Porque onde há terra preparada e coração aberto, o Eterno continua semeando. E sempre há mais gente com jeito feliz despertando.

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Texto de Carlos José Hernández (médico psiquiatra, doutor em medicina) e Clarice Ebert (psicóloga - CRP08/14038, terapeuta familiar e de casais, mestre em teologia).

 

Clarice Ebert (@clariceebert) é psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online (individual, de casal e de família). Membro e docente de EIRENE do Brasil.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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