Clarice Ebert

Clarice Ebert

Clarice Ebert (@clariceebert) é psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online

Músculos de um soldado?

É fantasioso achar que os recursos pessoais são suficientes para driblar o mistério da existência.

Fonte: Guiame, Clarice EbertAtualizado: sexta-feira, 28 de novembro de 2025 às 18:35
(Foto: Jonny Gios / Unsplash)
(Foto: Jonny Gios / Unsplash)

Rapidamente queremos apagar a dor como quem apaga a luz de um quarto incômodo. Fugimos dos desconfortos, dos dissabores, das angústias e inquietudes como se fossem falhas num plano de vida mal desenhado.

Imaginamos que a vida ideal é aquela sem tempestades, sem rachaduras, sem noites insones. E quando percebemos que esse ideal é inalcançável, nos acostumamos ao descontentamento como quem veste uma roupa apertada — incômoda, mas familiar, como se fosse um hábito justificável.

No entanto, é ilusório acreditar que venceremos todos os percalços com sagacidade e inteligência afiada, com estratégias bem traçadas, com a lapidação da nossa melhor versão, com heroísmos que matam tudo no peito ou com os músculos de um soldado que vence qualquer guerra pela própria força. É fantasioso achar que os recursos pessoais são suficientes para driblar o mistério da existência. Como se o controle fosse a chave para a paz.

Mas, a vida não se curva à lógica da conquista. Ela se revela nas frestas, nos tropeços, nas pausas inesperadas. Uma enfermidade, por exemplo, não é unicamente uma perturbação biológica, mas é parte essencial e inerente de um chamado.

O verdadeiro caminho não é pavimentado pela racionalidade ou pela força, mas pela entrega em humildade. Não se trata de vencer, mas de escutar o que cada dor tem a dizer. Porque há sabedoria no desconforto, há revelação na angústia, há convite na inquietude.

A alma não se expande na ausência de desafios, mas na travessia deles. E é nessa travessia que descobrimos que não somos simplesmente pessoas em construção e nem soldados em guerra, mas viajantes em busca de sentido. A dor não é inimiga — é mensageira. Ela nos chama para dentro, para o centro, para o silêncio onde mora o que é essencial.

O despertar não vem da nossa força e controle, mas da vulnerabilidade na entrega e rendição ao que está chegando. Não da fuga, mas da permanência. Não do controle do que imaginamos saber ou ter, mas da aceitação do inesperado amor pleno de Deus que vem e nos desperta.

Assim, é bem provável que seja no encontro com o que nos fere e sequestra, que começamos a compreender o que nos cura e salva.

 

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Texto de Carlos José Hernández (médico psiquiatra, doutor em medicina) e Clarice Ebert (psicóloga - CRP08/14038, terapeuta familiar e de casais, mestre em teologia).

 

Clarice Ebert (@clariceebert) é psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online (individual, de casal e de família). Membro e docente de EIRENE do Brasil.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: A dor é um fenômeno de despertamento!

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