“Escreva num livro o que você vê e envie a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia". (Ap 1.11)
Vamos ao contexto
Comercialmente falando, Pérgamo não era tão importante como Éfeso e Esmirna, mas mesmo assim era importante como centro político e religioso. Enquanto as duas cidades eram portuárias, Pérgamo ficava em cima de uma montanha.
A cidade se destacou bastante depois da morte de Alexandre o Grande, em 333 a.C. O nome Pérgamo quer dizer “elevação”. Por ser uma cidade ‘nas alturas’ era muito difícil atacá-la e a vista panorâmica era um privilégio, além de ser uma segurança para os moradores.
Apesar de não ser tão rica quanto Éfeso e Esmirna, a cidade tinha seu ponto de destaque — Pérgamo era um grande centro cultural — onde ficava a segunda maior biblioteca do mundo, com 200 mil pergaminhos. A primeira ficava em Alexandria.
Como acontece até os dias de hoje, o espírito de competição existia. O líder de Pérgamo queria ser referência por ter a primeira maior biblioteca do mundo e não a segunda. Conforme lembra o arqueólogo Rodrigo Silva, ele teve um problema político com o líder do Egito, que fornecia papiro (papel da época feito com as folhas do rio Nilo).
O Egito não forneceu mais papiro a Pérgamo, e seu decidiu inovar criando uma nova tecnologia para fazer livros usando como matéria-prima o couro de animais. O produto final (papel) ficou conhecido como “pergaminho”, nome que se origina do nome Pérgamo.
Pérgamo ficou conhecida por comercializar o principal material para a escrita em parte da Antiguidade e da Idade Média. Só perdeu sua importância quando o papel foi popularizado na Europa, a partir do século XIV.
Pérgamo e a medicina
Pérgamo também tinha a maior escola de medicina da época. Por ter muita ligação com o misticismo, a cidade acreditava num deus com forma de serpente, considerado o ‘deus da cura’. O símbolo é usado até os dias de hoje pela medicina.
Além disso, os moradores daquela cidade acreditavam que todo imperador que morria virava um deus. Por isso, eles incentivaram abertamente o culto ao imperador, antes mesmo de sua morte. Zeus foi considerado deus mesmo estando vivo. No ano 29 a.C., foi dedicado também um templo “ao divino Augusto e à Deusa Roma”.
Com o tempo, essa adoração passou a ser uma prova de lealdade a Roma, pois o culto ao imperador era o ponto central da política do Império e quem se recusasse a adorá-lo era considerado um traidor.
Muitos outros deuses eram adorados nesta cidade, onde havia muitos templos pagãos. Entre eles estavam: Atenas e Asclépio. Realmente, Pérgamo era um local difícil para o crescimento de uma igreja cristã.
Cristo se identificou na carta como “a espada afiada de dois gumes.” (Ap 2.12). Gume é a parte cortante de uma lâmina. Na metáfora, a espada é cortante dos dois lados, tornando-se capaz de separar até o que parece impossível de ser separado.
Nesse contexto, a espada representa a palavra de julgamento pronunciada à igreja de Pérgamo que estava se distanciando do comportamento cristão adequado, aderindo práticas pagãs.
“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12)
Eu conheço as suas obras
“Sei onde você vive, onde está o trono de Satanás. Contudo, você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim, nem mesmo quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto nessa cidade, onde Satanás habita.” (Ap 2.13)
Apesar de todo o paganismo que estava ao redor da igreja de Pérgamo, os cristãos foram elogiados por não se desviarem dos caminhos de Deus. Vale lembrar que a pressão deveria ser forte já que a maioria dos convertidos vinha do paganismo e a tentação para retornar às práticas pagãs deveriam ser enormes.
Sobre o ‘Trono de Satanás’
Trono de Satanás quer dizer “lugar onde Satanás exerce autoridade”. O problema não era especificamente a construção que indicava um trono satânico, mas o sistema que estava totalmente dominado pelo mal. A mentalidade daquela cidade era totalmente distorcida.
Possivelmente, esse termo foi usado porque a cidade era um centro religioso pagão, além disso, um dos deuses adorados, Asclépio, tinha uma aparência que lembrava Satanás aos cristãos, já que sua imagem era uma serpente.
O altar de Zeus também era um ponto forte do paganismo ali e o culto ao imperador estava se tornando um grande perigo para a igreja cristã. Antipas, provavelmente um discípulo de João, foi morto por um levante popular que desencadeou uma sentença judicial das autoridades locais.
Tudo leva a crer que ele foi o primeiro mártir que se recusou a adorar o imperador. Alguns estudiosos sugerem que ele foi um líder ou pastor da igreja de Pérgamo. Segundo a tradição, ele foi assado lentamente até morrer num caldeirão de bronze, durante o reinado de Domiciano.
Repreensão à Igreja em Pérgamo
“No entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade sexual. De igual modo você tem também os que se apegam aos ensinos dos nicolaítas.”(Ap 2.14-15)
Balaão foi um profeta contratado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar o povo de Israel (Números 22). Ele passou a ser mencionado na Bíblia como exemplo de “falso profeta” porque ensinou o rei a fazer o povo de Deus tropeçar. Foi um homem conhecedor da Palavra, mas não foi fiel. Ao contrário disso, ele aceitava fazer o mal por dinheiro.
Sobre os alimentos sacrificados, o problema em questão não era tanto a carne comprada no mercado, que antes tinha sido sacrificada em algum templo pagão. A questão era participar das festas onde havia essa carne, e onde as pessoas honravam aos diversos deuses.
Paulo já havia advertido sobre essa prática, dizendo que nada em si é impuro. Relembre aqui:
“A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos.” (1 Co 8.8)
O problema era que os cristãos em Pérgamo estavam participando ativamente das festas pagãs, prostituindo-se espiritualmente, além do pecado da imoralidade sexual.
Sobre os ensinos dos nicolaítas
Resumidamente, os nicolaítas ensinavam o liberalismo quanto às práticas pagãs. Em sua doutrina, corpo e espírito estavam separados, logo, o que o corpo fazia não comprometia o espírito. As práticas sexuais ilícitas, então, não se classificavam como pecado para eles. Se os cristãos continuassem seguindo esses ensinos, eles seriam punidos por Deus.
Os cristãos, tanto daquela época quanto dos dias atuais, precisam entender que a graça de Deus salva, mas também ensina a viver em santidade. Veja o que a Bíblia diz sobre isso:
“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente”. (Tito 2.11,12)
Jesus foi claro quanto ao pecado de seguir a doutrina dos nicolaítas:
“Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve até você e lutarei contra eles com a espada da minha boca.” (Ap 2.16)
Lutarei contra eles com a espada da minha boca — quer dizer “julgarei com a minha Palavra”. Somente a Palavra é capaz de ferir e curar ao mesmo tempo.
Maná escondido, pedra branca e um novo nome
“Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei do maná escondido. Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome nela inscrito, conhecido apenas por aquele que o recebe.” (Ap 2.17)
Sobre o maná — é possível que João tenha sido levado a lembrar do maná, por ter citado Balaão, já que naquele tempo Israel tinha sido alimentado com maná, milagrosamente. Era o alimento do povo de Deus.
Jesus não estava prometendo qualquer maná, mas o maná “escondido”, que está explicado em Êxodo 16.33.
“Então Moisés disse a Arão: Ponha numa vasilha a medida de um jarro de maná, e coloque-a diante do Senhor, para que seja conservado para as futuras gerações”. (Ex 16.33)
O maná escondido é o próprio Jesus Cristo, nosso alimento espiritual. Quem se alimenta de Cristo não tem mais fome das coisas do mundo. Mas o maná deve ser procurado todos os dias, sem cessar. Por esse motivo, não é suficiente ser um religioso que vai à igreja aos domingos para se alimentar. Devemos nos alimentar da Palavra de Deus mesmo em casa e em todo o tempo.
Sobre as pedras — no mundo antigo as pedras tinham várias utilidades. Num júri, a pedra branca significava a absolvição e a pedra preta condenação. Pedras brancas também eram dadas como bônus aos pobres, para que recebessem alimentos de graça ou serviam de reconhecimento a atletas e gladiadores.
Usava-se também a pedra branca como bilhetes de entrada em festivais públicos. Então, nesse contexto, receber uma pedra branca com seu nome gravado nela, pode simbolizar a entrada para a grande festa messiânica.
Sobre o nome — a mudança de nome tem a ver com a mudança de destino e papel na história. Veja o que a Bíblia diz:
“Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção.” (Gn 12.2)
“Não será mais chamado Abrão; seu nome será Abraão, porque eu o constituí pai de muitas nações.” (Gn 17.5)
“Jesus olhou para ele e disse: Você é Simão, filho de João. Será chamado Cefas (que significa Pedro).” (Jo 1.42)
Resumindo, as três dádivas (o maná, a pedra e o novo nome) simbolizam a participação na vida eterna através de Cristo. Nós morremos para ressuscitar com Ele e viveremos através do ‘nome Dele’.
“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. (Mateus 28.19,20)
E esse foi o estudo desta semana. Espero ter tirado sua dúvida e também colaborado para seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!
Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.
*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: Entenda o que Jesus disse às 7 igrejas de Apocalipse: Esmirna