“Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei do maná escondido. Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome nela inscrito, conhecido apenas por aquele que o recebe”. (Apocalipse 2.17)
Vamos ao contexto
Na época em que o livro de Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João, Jesus enviou uma carta para cada uma das sete igrejas que ficavam em Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.
Em nosso texto de estudo, Cristo ele estava falando à Igreja que ficava em Pérgamo — que na época era uma cidade comercial muito importante, onde havia um centro político e religioso. Pérgamo foi a primeira cidade da Ásia que incentivou abertamente o culto ao imperador. Atualmente, a cidade que fica na Turquia, é conhecida como Bergama.
Ali, no ano 29 a.C., foi dedicado um templo ao “Divino Augusto” e à “Deusa Roma”. Com o passar do tempo, essa adoração passou a ser uma prova de lealdade ao governo romano, pois o culto ao imperador era o ponto central da política do Império e quem se recusasse a adorá-lo era considerado um traidor.
Muitos outros deuses eram adorados naquela cidade, onde havia muitos templos pagãos. Entre os deuses estavam: Zeus, Atenas e Asclépio — o deus-serpente que promovia “curas”. Com essas informações, vemos que ali era um local difícil para o crescimento de uma igreja cristã.
Mas, Jesus disse que “conhecia as obras da Igreja em Pérgamo” e que, apesar de tudo, “ela permanecia fiel ao Seu nome”. Os cristãos daquela cidade foram muito elogiados por não se desviarem dos caminhos de Deus.
Tenho porém contra ti…
Apesar dos elogios, Jesus também fez repreensões à Igreja em Pérgamo. Muitos cristãos ainda se apegavam aos ensinos de Balaão e dos nicolaítas, conforme Apocalipse 2.14-16.
Balaão foi um profeta contratado por Balaque — rei de Moabe — para amaldiçoar o povo de Israel (Nm 22). Ele passou a ser mencionado na Bíblia como exemplo de “falso profeta” porque ensinou o rei a fazer o povo de Deus tropeçar.
Ele era um homem conhecedor da Palavra, mas não era fiel. Ao contrário disso, ele aceitava fazer o mal por dinheiro e armava ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade sexual.
Quanto à questão de comer os “alimentos sacrificados”, o problema não era “comer o churrasquinho”, mas sim participar das festas onde havia essa carne, e onde os pagãos adoravam seus diversos deuses. Paulo já havia advertido sobre essa prática, dizendo que nada em si é impuro.
Relembre aqui:
“A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos.” (1 Co 8.8)
O problema era que os cristãos em Pérgamo estavam participando ativamente das festas pagãs, prostituindo-se espiritualmente, além de cometer pecados sexuais.
E sobre os ensinos dos nicolaítas, Jesus também estava se referindo ao liberalismo e às práticas pagãs — um “cristianismo mais moderno” — conforme compara o pastor e teólogo, Hernandes Dias Lopes.
Mas, Jesus disse que, se não houvesse arrependimento, eles seriam julgados através da Palavra e que haveria consequências. O pastor alerta para o atual perigo: “Corremos o risco de transformar o nosso cristianismo numa luta pela defesa da verdade, sem a prática profunda na vida cristã”.
“Ser crente não pode ser apenas a defesa intelectual das verdades bíblicas, sem a associação com a vida prática”, disse ao lembrar que não podemos nos esquecer do amor e da piedade.
“Ao vencedor darei do maná escondido”
Quando Jesus menciona a palavra “vencedor”, Ele se refere àquele que busca santificação, apesar de viver num lugar como Pérgamo. A primeira recompensa citada foi o “maná escondido”.
O maná é um símbolo de sustento e provisão de Deus. É possível que João tenha sido levado a lembrar do maná, por ter citado Balaão, já que naquele tempo Israel tinha sido alimentado com maná, milagrosamente. Mas Jesus prometeu um maná diferente daquele, ele mencionou o “maná escondido”, citado em Êxodo 16.33.
“Então Moisés disse a Arão: Ponha numa vasilha a medida de um jarro de maná, e coloque-a diante do Senhor, para que seja conservado para as futuras gerações”.
Vale lembrar também que Jesus fez menção sobre um alimento desconhecido:
“Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: Mestre, come alguma coisa. Mas ele lhes disse: Tenho algo para comer que vocês não conhecem”. (João 4.31,32)
Possivelmente, Jesus falava de um alimento espiritual que seus discípulos não conheciam. Esse alimento foi prometido, biblicamente, aos vencedores.
“Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome escrito”
No mundo antigo, as pedras tinham várias utilidades. Num júri, por exemplo, a pedra branca significava a absolvição e a pedra preta condenação. Pedras brancas também eram dadas como bônus aos pobres, para que recebessem alimentos de graça e serviam de reconhecimento a atletas e gladiadores. Usava-se também a pedra branca como bilhetes de entrada em festivais públicos.
O arqueólogo Rodrigo Silva lembra também que, na cultura romana, quando as crianças nasciam, elas não tinham um pai antes de passar por uma cerimônia.
“Quando a criança nascia, a família esperava de 8 a 9 dias e, depois, fazia um cerimonial com vários convidados. A criança era colocada aos pés do pai e ele tomava a decisão de aceitá-la ou não. Se a criança não fosse erguida pelo pai, ela seria órfã mesmo tendo um pai vivo”, explicou.
“Quando a criança era erguida, ela recebia um nome do pai e um nome de família”, disse ao mencionar que esse nome era registrado numa pedrinha branca, que passava a ser uma espécie de “certificado de nascimento”.
Então, nesse contexto, receber uma pedra branca com seu nome gravado nela, pode simbolizar uma identidade espiritual e a entrada para a grande festa messiânica. “O que Cristo promete é que, ao entrarmos no céu, teremos um certificado de nascimento, confirmando que temos um Pai — o Pai celestial que cuida de cada um de nós”, disse ainda o arqueólogo.
E, a mudança de nome, tem a ver com a mudança de destino e papel na história. Veja o que Deus disse a Abraão e a Pedro:
“Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção”. (Gn 12.2)
“Não será mais chamado Abrão; seu nome será Abraão, porque eu o constituí pai de muitas nações”. (Gn 17.5)
“Jesus olhou para ele e disse: Você é Simão, filho de João. Será chamado Cefas (que significa Pedro)”. (Jo 1.42)
Resumindo
As três dádivas — o maná, a pedra e o novo nome — simbolizam a participação na vida eterna através de Cristo.
O maná será o alimento do nosso espírito, um banquete para os vencedores. A pedra branca servirá tanto como certificado do novo nascimento quanto prova de absolvição no Tribunal de Cristo. E o novo nome será a nova identidade, um passaporte de entrada para o Reino de Deus e a indicação de quem seremos na eternidade.
Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas!
E esse foi o estudo desta semana. Espero que tenha tirado a sua dúvida e também colaborado para o seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!
Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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