“Escreva num livro o que você vê e envie a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia". (Ap 1.11)
Vamos ao contexto
A cidade ficava a uns 55 quilômetros ao norte de Éfeso e também era um porto marítimo próspero. Sua riqueza fez com que disputasse com Éfeso a honra de ser a principal cidade da Ásia. Atualmente, no lugar de Esmirna existe a cidade de Izmir, na Turquia.
Na cidade havia plantações de mirra, uma das mais finas especiarias da época, daí o nome ‘Esmirna’ que significa ‘cheiro suave’.
Esmirna tinha ajudado Roma muito antes de ela se tornar potência mundial. Em 195 a.C. seu governante ergueu um templo à deusa Roma, onde o imperador também era adorado. Em 26 a.C. diversas cidades competiam pela construção de um templo ao imperador Tibério, mas somente Esmirna teve esse “privilégio”.
Ali havia colônias de judeus que eram muito hostis com os cristãos e eles recebiam apoio das autoridades civis. Judeus e pagãos se uniram e pediram a morte do bispo da igreja, Policarpo, que foi martirizado na fogueira.
A igreja fundada ali era fruto das atividades missionárias de Paulo na Ásia e parecia ser muito saudável espiritualmente, já que na carta não há nenhuma palavra de crítica ou condenação.
Jesus se identificou na carta como “o Primeiro e o Último, que morreu e tornou a viver”. (Ap 2.8), ou seja, Jesus se apresentou como aquele ressuscitou.
Morreu e tornou a viver — a descrição de Jesus foi muito importante à igreja em Esmirna que era ameaçada pelo martírio. O futuro e a morte não precisavam ser temidos, pois Ele estava garantindo a vida.
(Captura de tela: YouTube Turquia para você)
Condição da igreja em Esmirna
“Conheço as suas aflições e a sua pobreza; mas você é rico! Conheço a blasfêmia dos que se dizem judeus mas não são, sendo antes sinagoga de Satanás.” (Ap 2.9)
Os cristãos de Esmirna eram pobres, mas ricos na fé, conforme o texto em Tiago 2.5.
“Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam?”
Essa afirmação entra em contraste com os cristãos da igreja em Laodiceia, que diziam ser ricos, mas eram pobres espiritualmente. A pobreza dos esmirneanos não era consequência da situação econômica normal, mas do confisco de suas propriedades e das ações injustas de saqueadores que se aproveitavam da hostilidade contra os cristãos.
Isso acontece até os dias de hoje no contexto da Igreja Perseguida, em países onde o cristianismo é considerado um crime. A carta aos Hebreus ilustra uma cena de perseguição aos cristãos que envolvia saque de propriedades. Relembre aqui:
“Vocês se compadeceram dos que estavam na prisão e aceitaram alegremente o confisco dos próprios bens, pois sabiam que possuíam bens superiores e permanentes.” (Hb 10.34)
Você imagina quantos cristãos passam por isso ainda nos dias de hoje? Há milhares de cristãos sendo perseguidos em pleno século XXI.
O contexto de perseguição que gerou a pobreza física e, ao mesmo tempo, a riqueza espiritual, parece ter sido uma bênção para aqueles cristãos. Em vez de ser repreendida como as demais igrejas na Ásia, Esmirna foi elogiada e consolada através da carta redigida por João. Esse "modelo" de igreja está disponível para nós, atualmente? Pense nisso.
Sinagoga de satanás
“Conheço a blasfêmia dos que se dizem judeus mas não são, sendo antes sinagoga de Satanás”. (Ap 2.9)
Os judeus eram claramente os opositores da igreja. Sendo assim, eram judeus por etnia e por religião, mas não adoravam a Deus. Por isso, quando eles se reuniram na sinagoga era a Satanás que eles adoravam, porque rejeitaram a Jesus, o Messias e confirmaram essa rejeição perseguindo os cristãos.
(Captura de tela: YouTube Turquia para você)
Consolada em vez de repreendida
“Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. Saibam que o diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida.” (Ap 2.10)
Diferentemente das demais igrejas, Esmirna foi consolada no lugar de ser repreendida.
Os judeus tinham muita influência junto das autoridades romanas e eles podiam facilmente lançar os cristãos na prisão. Quando os cristãos eram presos, a forma de provar sua fé era mostrando que estavam dispostos a morrer por Cristo, o que geralmente acontecia logo depois de um martírio.
O martírio era sinônimo de sacrifício, sofrimento, tortura ou aflição. Um tormento sofrido por causa da fé.
Sobre os 10 dias
O significado dos “dez dias” tem sido interpretado de várias maneiras. Alguns entendem como um período de tempo literal, outros como um período curto e outros ainda como um longo período.
Especialistas bíblicos sugerem que João, no caso dos esmirneanos, prevê uma perseguição local e de curta duração. Mas há outro tipo de interpretação também.
Alguns estudiosos apontam para as “dez perseguições históricas” contadas a partir do reinado de Nero até Diocleciano. Levando em conta que, as perseguições guiadas por esse último, duraram exatamente dez anos.
Outros estudiosos alertam para a simbologia do número 10, que quer dizer “máximo de intensidade” na realização de algo. Nesse caso, a citação dos “10 dias” aponta para um tempo de perseguição com força completa. Lembrando que Esmirna ficou conhecida como a “igreja dos mártires”.
Sobre a coroa da vida
A “coroa da vida” simbolizava a “vida eterna” e não era bem uma recompensa especial para os mártires, mas para todos os que fossem fiéis até o fim. Os cristãos estavam acostumados a ouvir esse termo que não vinha da monarquia, mas dos jogos atléticos.
Os competidores lutavam para alcançar uma “coroa de louros”. João introduziu a promessa da “coroa da vida” nesse contexto para lembrar os esmirneanos de que apesar da morte física, eles poderiam ter certeza do prêmio da vida eterna. Resumindo, a “recompensa do vencedor” é ter como garantia a vida para sempre.
“Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte”. (Ap 2.11)
Lembrando que a primeira morte é a morte do corpo que atinge tanto crentes como incrédulos. A segunda morte é a morte eterna. A proposta de Jesus para a Igreja em Esmirna e para cada um de nós, independente da igreja que representamos na Terra, neste tempo, é vida eterna.
Uma carta de encorajamento
Leia a carta à Igreja em Esmirna como uma carta de encorajamento para mim e para você. Apesar das palavras que descrevem o sofrimento dos cristãos e a pobreza física, são também palavras que falam de riqueza espiritual.
O encorajamento de Deus não tem a ver com o encorajamento humano. Nós pensamos na vida aqui e queremos conforto, prazer e bem estar. Mas Deus nos encoraja a fazer o que deve ser feito, mesmo que isso envolva desconforto, dor e morte.
A carta de Jesus à Igreja Dele não tem a ver com bajulação, mas com consolo. Nós temos que escolher se queremos ser bajulados ou consolados; se queremos o prazer desta vida terrena ou se vamos lutar pela eternidade.
Lutar pela eternidade requer construir no invisível, naquilo que não se vê. Às vezes, nossa fé poderá enfraquecer por não ver o mundo espiritual. Nossa tendência humana é ver para crer, é ter segurança ou saber exatamente o que vai acontecer no futuro. Mas com Deus não é assim que funciona.
Nas palavras de Val Gonçalves, líder do JesusCopy: “O excesso de segurança gera uma espiritualidade rasa”. Então, saia do barco, como Pedro fez, e ande sobre as águas profundas. Deus quer nos tirar do barquinho do comodismo e das águas rasas para um relacionamento íntimo com Ele.
Então: “Não tenha medo do que você está prestes a sofrer”, pois o que mais importa é que não passaremos pela segunda morte, mas teremos a vida eterna com Cristo. Deus conhece nossas aflições e nossas pobrezas, mas Ele é o nosso maior tesouro, a nossa riqueza e tudo o que precisamos para sermos mais que vencedores. A maior riqueza não está no que temos, mas na forma como Cristo nos vê. Permaneça fiel até a morte e Deus lhe dará a coroa da vida!
E esse foi o estudo desta semana. Espero ter tirado sua dúvida e também colaborado para seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!
Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.
*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: Entenda o que Jesus disse às 7 igrejas de Apocalipse: Éfeso
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