O sermão da geleira

O sermão da geleira

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

''O último desejo da economia da Islândia é que suas cinzas sejam espalhadas pela Europa'', piada de mau gosto que já circula pelo mundo, dando duplo sentido a palavra ''cinzas'', que tanto poderiam ser as cinzas de um vulcão como também de pessoas. A piada é de extremo mau gosto principalmente por causa do seu número estratosférico. Acompanhe: 313 aeroportos permaneceram fechados por 6 dias, 100.000 voos foram cancelados para garantir a segurança, 9.500.000 passageiros tiveram que esperar, 1.700.000.000 de dólares foi o prejuízo das empresas de aviação, segundo a Associação de Transporte Aéreo Internacional. Tudo isso porque o vulcão Eyjafjallajokull, da Islândia, começou a expelir uma espessa nuvem de cinzas que se espalhou por quase todo o continente.

O tão falado caos aéreo brasileiro, comparado a paralisação na Europa, fica relativamente fácil de tolerar. Lá, como pudemos acompanhar pelas notícias, a parada total e os prejuízos foram gigantescos, tudo como consequência de uma erupção vulcânica. Paralelo a tragédia, surpresos, assistimos outra erupção, carregada de protestos furiosos.

À medida que os dias passavam, os aeroportos não abriam e os vôos não eram liberados, todos os tipos de protestos e discursos políticos começaram a pipocar na mídia, cada qual defendendo seus interesses.  Governos criticando companhias aéreas, companhias criticando a falta de investimento público no sistema de aviação, empresas perdendo negócios, transações financeiras sendo adiadas. Mas os protestos não ficaram apenas nos limites comerciais. Passageiros de todo tipo e raivosos queriam voar. Na opinião deles os governos tinham de dar um jeito na nuvem de cinzas do vulcão, pois como viver, por longos seis dias, sem voar?

O paradoxo dos números negativos do enorme prejuízo está na prioritária e nobre preservação de vidas. Se aeroportos foram fechados e vôos foram cancelados, só o foram por causa do risco real, e calculado, de um festival de quedas de avião como nunca visto. No entanto, os maiores beneficiados pela prudência, cautela e decente decisão de amargar prejuízos para garantir a segurança de vidas, resolveram, muitos deles, reclamar, pois tinham compromissos inadiáveis. Reclamaram sem considerar que se tivessem voado entre as cinzas do vulcão, talvez seus compromissos inadiáveis poderiam ter sido adiados para sempre, e não por apenas seis dias.

O vulcão Eyjafjallajokull, da Islândia, tem a seguinte tradução: geleira da montanha da ilha. A revolta do povo que queria voar mas não pôde, me fez lembrar do sermão do monte do evangelho de Mateus, especificamente no capítulo seis e versículo vinte e sete, quando Cristo faz a seguinte pergunta: E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado a sua estatura?

Da pergunta feita por Jesus, destaco a palavra ''cuidados''. No trecho, Cristo está fazendo uma crítica ao excesso de cuidados com as coisas materiais. Somos exigentes, criteriosos e ambiciosos por coisas. Idealizamos realizações através de coisas. Mas coisas, via de regra, não nos realizam duradouramente, profundamente. Coisas frustram, coisas não reagem, coisas não têm vida. O sermão do monte aponta para a essência da vida, incentivando que se busque a Deus em primeiro lugar. Dedique-se a esta busca, seja um gigante no coração, busque a Deus e então conquiste a vida.

O sermão da geleira, a seu modo, também é eloqüente. Com cinzas lançadas aos céus anuncia a morte, e o faz com toda a frieza que se espera de uma geleira. Mas os cuidados com os compromissos das agendas exigem uma solução, não dá para ficar seis dias parados, o governo que se vire, agendas nos obrigam a voar! Mesmo que existam falhas nos governos e empresas aéreas da Europa, e certamente existem, a natureza está dizendo para ficar em solo firme. Nessa hora, o bom senso diz que o melhor a fazer é ouvir e obedecer.

O sermão da geleira proclama sua mensagem expelindo cinzas. O sermão do monte proclama sua mensagem garantindo que ouvir e obedecer é a única forma de ter a vida solidificada na rocha, suportando ventos, tempestades, vendavais e erupções. De qualquer forma o aviso é semelhante. Escolha ficar em terra firme, evite a inconstância da areia e a incerteza do ar. Nossos cuidados não devem estar em coisas inconstantes e incertas, antes devem estar focados no Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação! Thiago 1:17.

Paz!

Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".

Contatos com o pastor Edmilson Mendes:

www.mostreatitude.com.br  

mendeslongo@uol.com.br

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