Após ser mantido refém, pastor é forçado a queimar Bíblias em ataque na Índia

Os cristãos foram agredidos por horas, mantidos reféns, forçados a queimar Bíblias e impedidos de registrar denúncia após o ataque.

Fonte: Guiame, com informações de Morning Star NewsAtualizado: sexta-feira, 26 de dezembro de 2025 às 14:20
A queima de Bíblia durante o ataque. (Foto: Reprodução/Morning Star News)
A queima de Bíblia durante o ataque. (Foto: Reprodução/Morning Star News)

Extremistas hindus obrigaram um pastor a queimar Bíblias em público durante um ataque contra dois casais cristãos e um advogado sob acusação de conversão forçada, no norte da Índia.

O ataque ocorreu no dia 7 de novembro de 2025 na vila de Titoli, no estado de Haryana, a cerca de cinco quilômetros da cidade de Rohtak. O pastor Jehovah Das, de 65 anos, e Vinod Masih, de 42, acompanhados de suas esposas, haviam sido convidados por uma família cristã da vila para celebrar o nascimento do segundo filho do casal anfitrião.

Cerca de 10 a 12 membros da Arya Samaj (Sociedade Nobre), um movimento reformista hindu, souberam da visita e convocaram outros integrantes, reunindo uma multidão de aproximadamente 50 pessoas, que invadiu a residência.

“Eles começaram a nos bater com tapas, socos, cotoveladas, nos chutaram e nos mantiveram como reféns”, disse Masih ao Morning Star News, acrescentando que foram espancados das 10h30 às 15h.

Com o grupo já somando cerca de 80 pessoas, os extremistas revistaram o carro dos cristãos, recolheram Bíblias e folhetos evangelísticos e os jogaram no chão. Em seguida, obrigaram os dois casais, visivelmente desorientados e em estado de choque, a repetir que pretendiam se “converter” ao hinduísmo e que jamais voltariam.

Masih relatou que a multidão chutou as Bíblias e declararam ofensas a Cristo. O pastor Das também foi forçado a escrever uma carta de desculpas, exibida no vídeo.

Nesse momento, um extremista entregou um frasco com líquido inflamável e obrigou três cristãos a despejá-lo sobre as Bíblias e outros materiais religiosos. 

Mantidos como refém 

Depois de obrigar o pastor Das a colocar fogo nas Bíblias, a multidão celebrou o deus hindu Rama e arrastaram os cristãos até o carro, onde foram mantidos trancados.

“Ficamos trancados no carro por duas horas, não nos permitiram comer, beber água ou fazer nossas necessidades durante esse tempo”, contou Masih.

Durante o cativeiro, Reena, esposa de Masih, conseguiu ligar para o advogado Satish Arya pedindo ajuda. Ex-integrante da Arya Samaj e cristão praticante há cinco anos, Arya dirigiu cerca de 10 quilômetros até à vila de Titoli.

“Enquanto dirigia até a aldeia, liguei para a polícia e os informei sobre a situação de reféns, solicitando que qualquer investigação contra os cristãos fosse conduzida na delegacia e que não permitissem que a multidão fizesse justiça com as próprias mãos. A polícia me garantiu que chegaria em breve”, informou o advogado.

Ao chegar no local, Arya presenciou cerca de 25 mulheres hindus agredindo as duas cristãs, enquanto homens atacavam os cristãos:

“Eles estavam dando tapas nas mulheres cristãs, puxando seus cabelos, socando-as. A cena era terrível. Os homens hindus estavam agredindo os homens cristãos da mesma forma”.

Enquanto aguardava a chegada da polícia, Arya foi identificado como cristão por causa da frase “Jai Masih Ki” (“Louvado seja o Senhor") escrita no vidro traseiro de seu carro. 

Cerca de 12 hindus se aproximaram, ele contou que era advogado e insistiu que levassem os cristãos à delegacia e deixassem que os policiais, em vez da multidão, os interrogassem.

“Eu me opus ao ato de manterem os cristãos como reféns por quatro horas e questionei seu comportamento desumano”, relatou Arya.

Ameaçados após o ataque

Mesmo após se explicar, ele foi arrastado até o local onde os outros cristãos estavam sendo espancados e também foi agredido.

“Me despiram da cintura para cima e continuaram a me bater por 25 minutos, e isso na presença da polícia”, destacou ele.

Segundo o advogado, alguns extremistas chegaram a sugerir que os cinco cristãos fossem queimados vivos dentro do carro. Arya respondeu que tal ato teria consequências legais graves. Então, um hindu o ajudou a escapar, e o advogado deixou o local para buscar atendimento médico.

Mais tarde, a polícia levou os cristãos à delegacia. Após sair do hospital, Arya foi compareceu ao local e disse:

“Quando cheguei à delegacia, os cristãos foram pressionados a dar uma declaração por escrito afirmando que não queriam prestar queixa contra a multidão e prometendo que não entrariam naquela aldeia no futuro”.

Ao tentar entrar com uma ação judicial, Arya descobriu que a família anfitriã estava sendo ameaçada de expulsão pelos hindus da região caso apoiasse os cristãos. 

“Essa família, embora praticante da fé há quase 18 anos, passou a sofrer pressão de extremistas hindus”, afirmou Masih.

No dia seguinte, cerca de 80 pastores de Haryana registraram uma queixa formal contra os agressores e encaminharam um pedido de providências ao Superintendente de Polícia. Apesar das garantias das autoridades, nenhuma prisão ou medida foi efetuada.

32 queixas foram registradas

Arya prestou depoimento à imprensa local, relatando o sequestro e a agressão. Em 23 de novembro, a polícia convocou uma reunião com o conselho da vila e os extremistas. 

“A polícia se sentiu obrigada a agir e convocou o conselho da aldeia e os agressores. O chefe da aldeia pediu desculpas por escrito pelo ocorrido, beijou a Bíblia e a colocou sobre a cabeça”, contou ele.

Após o vídeo da queima das Bíblias viralizar, cristãos registraram 32 queixas por ofensa a sentimentos religiosos em diferentes delegacias.

Os dois casais ficaram profundamente traumatizados. O pastor Das deixou o distrito e passou a viver com os filhos em Bangalore, no estado de Karnataka.

Defensores da liberdade religiosa afirmam que o discurso hostil do governo da Aliança Democrática Nacional, liderado pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata Party, tem encorajado ataques contra cristãos desde que o primeiro-ministro Narendra Modi assumiu o poder, em 2014.

Atualmente, a Índia ocupa a 11ª posição na Lista Mundial de Vigilância 2025 da missão Portas Abertas, que classifica os países onde é mais difícil ser cristão. Em 2013, antes do atual governo, o país estava na 31ª colocação.

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