
Extremistas hindus obrigaram um pastor a queimar Bíblias em público durante um ataque contra dois casais cristãos e um advogado sob acusação de conversão forçada, no norte da Índia.
O ataque ocorreu no dia 7 de novembro de 2025 na vila de Titoli, no estado de Haryana, a cerca de cinco quilômetros da cidade de Rohtak. O pastor Jehovah Das, de 65 anos, e Vinod Masih, de 42, acompanhados de suas esposas, haviam sido convidados por uma família cristã da vila para celebrar o nascimento do segundo filho do casal anfitrião.
Cerca de 10 a 12 membros da Arya Samaj (Sociedade Nobre), um movimento reformista hindu, souberam da visita e convocaram outros integrantes, reunindo uma multidão de aproximadamente 50 pessoas, que invadiu a residência.
“Eles começaram a nos bater com tapas, socos, cotoveladas, nos chutaram e nos mantiveram como reféns”, disse Masih ao Morning Star News, acrescentando que foram espancados das 10h30 às 15h.
Com o grupo já somando cerca de 80 pessoas, os extremistas revistaram o carro dos cristãos, recolheram Bíblias e folhetos evangelísticos e os jogaram no chão. Em seguida, obrigaram os dois casais, visivelmente desorientados e em estado de choque, a repetir que pretendiam se “converter” ao hinduísmo e que jamais voltariam.
Masih relatou que a multidão chutou as Bíblias e declararam ofensas a Cristo. O pastor Das também foi forçado a escrever uma carta de desculpas, exibida no vídeo.
Nesse momento, um extremista entregou um frasco com líquido inflamável e obrigou três cristãos a despejá-lo sobre as Bíblias e outros materiais religiosos.
Mantidos como refém
Depois de obrigar o pastor Das a colocar fogo nas Bíblias, a multidão celebrou o deus hindu Rama e arrastaram os cristãos até o carro, onde foram mantidos trancados.
“Ficamos trancados no carro por duas horas, não nos permitiram comer, beber água ou fazer nossas necessidades durante esse tempo”, contou Masih.
Durante o cativeiro, Reena, esposa de Masih, conseguiu ligar para o advogado Satish Arya pedindo ajuda. Ex-integrante da Arya Samaj e cristão praticante há cinco anos, Arya dirigiu cerca de 10 quilômetros até à vila de Titoli.
“Enquanto dirigia até a aldeia, liguei para a polícia e os informei sobre a situação de reféns, solicitando que qualquer investigação contra os cristãos fosse conduzida na delegacia e que não permitissem que a multidão fizesse justiça com as próprias mãos. A polícia me garantiu que chegaria em breve”, informou o advogado.
Ao chegar no local, Arya presenciou cerca de 25 mulheres hindus agredindo as duas cristãs, enquanto homens atacavam os cristãos:
“Eles estavam dando tapas nas mulheres cristãs, puxando seus cabelos, socando-as. A cena era terrível. Os homens hindus estavam agredindo os homens cristãos da mesma forma”.
Enquanto aguardava a chegada da polícia, Arya foi identificado como cristão por causa da frase “Jai Masih Ki” (“Louvado seja o Senhor") escrita no vidro traseiro de seu carro.
Cerca de 12 hindus se aproximaram, ele contou que era advogado e insistiu que levassem os cristãos à delegacia e deixassem que os policiais, em vez da multidão, os interrogassem.
“Eu me opus ao ato de manterem os cristãos como reféns por quatro horas e questionei seu comportamento desumano”, relatou Arya.
Ameaçados após o ataque
Mesmo após se explicar, ele foi arrastado até o local onde os outros cristãos estavam sendo espancados e também foi agredido.
“Me despiram da cintura para cima e continuaram a me bater por 25 minutos, e isso na presença da polícia”, destacou ele.
Segundo o advogado, alguns extremistas chegaram a sugerir que os cinco cristãos fossem queimados vivos dentro do carro. Arya respondeu que tal ato teria consequências legais graves. Então, um hindu o ajudou a escapar, e o advogado deixou o local para buscar atendimento médico.
Mais tarde, a polícia levou os cristãos à delegacia. Após sair do hospital, Arya foi compareceu ao local e disse:
“Quando cheguei à delegacia, os cristãos foram pressionados a dar uma declaração por escrito afirmando que não queriam prestar queixa contra a multidão e prometendo que não entrariam naquela aldeia no futuro”.
Ao tentar entrar com uma ação judicial, Arya descobriu que a família anfitriã estava sendo ameaçada de expulsão pelos hindus da região caso apoiasse os cristãos.
“Essa família, embora praticante da fé há quase 18 anos, passou a sofrer pressão de extremistas hindus”, afirmou Masih.
No dia seguinte, cerca de 80 pastores de Haryana registraram uma queixa formal contra os agressores e encaminharam um pedido de providências ao Superintendente de Polícia. Apesar das garantias das autoridades, nenhuma prisão ou medida foi efetuada.
32 queixas foram registradas
Arya prestou depoimento à imprensa local, relatando o sequestro e a agressão. Em 23 de novembro, a polícia convocou uma reunião com o conselho da vila e os extremistas.
“A polícia se sentiu obrigada a agir e convocou o conselho da aldeia e os agressores. O chefe da aldeia pediu desculpas por escrito pelo ocorrido, beijou a Bíblia e a colocou sobre a cabeça”, contou ele.
Após o vídeo da queima das Bíblias viralizar, cristãos registraram 32 queixas por ofensa a sentimentos religiosos em diferentes delegacias.
Os dois casais ficaram profundamente traumatizados. O pastor Das deixou o distrito e passou a viver com os filhos em Bangalore, no estado de Karnataka.
Defensores da liberdade religiosa afirmam que o discurso hostil do governo da Aliança Democrática Nacional, liderado pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata Party, tem encorajado ataques contra cristãos desde que o primeiro-ministro Narendra Modi assumiu o poder, em 2014.
Atualmente, a Índia ocupa a 11ª posição na Lista Mundial de Vigilância 2025 da missão Portas Abertas, que classifica os países onde é mais difícil ser cristão. Em 2013, antes do atual governo, o país estava na 31ª colocação.
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