Todo governo neste mundo é regido por leis e autoridades humanas, a quem podemos chamar de César numa alusão à resposta de Yeshua ao questionamento sobre imposto. Há outro governo muito superior que é o do Criador e Rei do universo. Sabemos que os governos mundanos foram estabelecidos por Deus e há mandamentos claros para que nos submetamos a eles. Haverá situações, no entanto, que ambas as autoridades, espiritual e mundana, entrarão em conflito. Nesses casos, devemos obedecer a Deus ou a César?
A imagem contida em algo demonstra a quem pertence. A moeda romana mostrava que ela pertencia a César e a seu império. O homem possui a imagem de Deus e, portanto, pertence a Deus. Todo ser humano pode ser reivindicado para Deus, pois foi criado por Ele e feito à sua semelhança, mesmo que seja um feto em formação, mas cujo coração bate após receber o fôlego de Deus.
O problema começa quando se confunde o que é de quem. E a frase de extraordinária sabedoria de Yeshua pôs fim a essa confusão. Entretanto, muitos ainda oscilam entre Deus e César porque não conseguem discernir essa diferença. Ou melhor, não se decidiram a quem se entregar inteiramente. Se você se rende incondicionalmente a Deus, não sobrará nada para César, e vice-versa.
Outro motivo que impede muitos de se renderem totalmente a Deus é o medo de César. Yeshua viveu uma vida santa e pura, sujeitando-se às autoridades de seu tempo. Ele deu a César o que lhe pertencia, ao determinar a Pedro que pagasse o tributo para os dois. No entanto, confrontou essas mesmas autoridades quando foi necessário, sem temer o mal que lhe poderiam causar. Um dos problemas de insubmissão a Deus é que muitos temem os governos deste mundo mais do temem a Deus.
Submissão às autoridades
“Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas” (Romanos 13:1 – NVI). Quem são essas autoridades estabelecidas por Deus? A resposta está no restante do texto que muitos ignoram, citando apenas o primeiro versículo.
“Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal. Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência.” (Romanos 13:3-5)
Primeiro, as autoridades não devem ser motivo de temor pelos que praticam o bem. Segundo, as autoridades devem servir a Deus como seu agente para punir quem pratica o mal. E terceiro, devemos nos submeter a elas para o bem de nossa consciência diante de Deus. Qualquer ocorrência ou anomalia em um governo que contrarie isso não se trata de uma autoridade estabelecida por Deus.
Paulo deixa claro que a submissão que devemos ter é a esse tipo de autoridade. Não devemos submissão alguma a autoridade que cause temor a quem pratica o bem; que pune o bem e recompensa o mal; e que não serve a Deus buscando punir o mal, mas perseguindo quem pratica o bem. Ninguém em sã consciência afirmaria que Hitler e Stálin, que assassinaram dezenas de milhões de pessoas, foram autoridades estabelecidas por Deus.
Entenda-se por bem o que a Palavra de Deus chama de bem, ou seja, a obediência aos mandamentos dados por Deus e não o que qualquer pessoa entenda por bem, seja ela quem for. Assim como deve-se entender por mal aquilo que é definido por mal em sua Palavra, ou o que a Bíblia chama de pecado. Bem e mal não são relativos, mas absolutos e estão corretamente definidos nas Escrituras.
Autoridade suprema
Em suas últimas palavras nos Evangelhos, antes de ascender ao Pai, Yeshua disse a seus discípulos: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mateus 28:18-20 - NVI). Aqui Ele deixa nítido que toda a autoridade lhe pertence, quer no céu quer na Terra, e nos dá uma missão. Não precisamos de autorização de nenhum governo deste mundo para executar sua vontade.
Quando qualquer autoridade entra em conflito com a lei de Deus, ela deve ser confrontada. O caso mais emblemático está em Atos 5:28-29, quando o sumo sacerdote instou com os discípulos para que não ensinassem no nome de Yeshua, ao que Pedro e os demais apóstolos responderam: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!”. Essa resposta define a questão primordial do dilema entre obedecer a Deus ou a César. Mediante qualquer conflito entre as ordens de Deus e César, isso resolve qualquer impasse.
Veja que não se trata de um caso de desobediência civil generalizada, mas apenas naquilo que se refere a questões impostas por autoridades que se oponham diretamente às leis de Deus. Pedro disse isso abertamente às autoridades de seu tempo, a quem devia submissão e acabou preso por desacatá-las. Ele sofreu o dano, mas permaneceu fiel. O que ocorre em seguida? O Senhor envia um anjo para libertá-lo da prisão milagrosamente. Os discípulos não cessaram de pregar as Boas Novas um só dia, em claro desafio ao sumo sacerdote que era o representante de Deus para os judeus. Contudo, sua autoridade estava corrompida. Quando deu uma ordem explícita contrária à autoridade suprema, Pedro se opôs imediatamente e com coragem, sem medo das consequências.
Nessa mesma linha, devemos nos submeter a um governo que ataque deliberadamente o Evangelho ou persiga a igreja, como ocorre em diversos governos pelo mundo? As Escrituras deixam claro que não somos obrigados a ter nenhum compromisso com um governo assim. É uma questão de saber quem realmente tem o poder e a quem devemos lealdade. Obedecer a Deus ou a César é uma questão de fé. Ademais, se Pedro estivesse em rebeldia contra Deus e sua Palavra, Ele jamais teria enviado um anjo para libertá-lo da prisão.
Temor e obediência
Voltando a Romanos 13, o tipo de governo a que Paulo se refere é aquele que espelha a autoridade de Deus, quando se torna um instrumento para punir o mal e promover o bem. Quando algum governo age em afronta aos mandamentos divinos, não temos nenhuma obrigação em obedecê-lo, pois nossa fidelidade é para com o Rei dos reis a quem pertence toda autoridade e poder. Sob a desculpa de estarem se “submetendo às autoridades”, usando uma interpretação errônea de Romanos 13, muitos cristãos na Alemanha nazista participaram da perseguição aos judeus, entregando-os ou delatando-os ao governo. Logo, foram cúmplices de seus crimes.
Aquele a quem tememos definirá nossa obediência incondicional. Quando houver conflito de ordens e leis, obedecer a Deus ou a César definirá nossos passos, guiará nossos pensamentos e ações, assim como nossa adoração. Aquele que teme a Deus e se prostra diante dele, não teme nem se prostra diante de César, nem diante de ninguém. E, ainda que seja lançado na prisão, não será desamparado pelo Deus Fiel e Justo.
Para saber mais, acesse: https://www.aoliveiranatural.com.br/2024/08/28/obedecer-a-deus-ou-a-cesar/
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
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