A reflexão sobre a verdade, e o que ela de fato é, remonta à existência da humanidade, e é muito mais antiga do que a filosofia tal qual a conhecemos. Entretanto, a relativização sobre a ideia da verdade e da própria realidade nunca esteve tão próxima da vida comum da humanidade como neste tempo em que vivemos.
Faço então um convite, a refletirmos semanalmente sobre temas que envolverão a busca pela verdade, pela sabedoria, pelo entendimento, pelo conhecimento e pela inteligência, tudo isso, sob uma cosmovisão cristã, com luz na mente e fogo no coração, afinal, como disse R. C. Sproul: “Você não precisa desistir do seu intelecto para crer na Bíblia. Você precisa desistir do seu orgulho.”
Costumo dizer que Deus não quer que deixemos nosso cérebro para trás em nossa jornada cristã mas sim, os nossos pecados!
Bem, qualquer sistema de pensamento que nega a verdade nega-se a si mesmo. Em outras palavras, é fundamental que entendamos a importância universal da lei da não-contradição: se você diz que não existe a verdade, então, você disse algo que não faz sentido algum, sem coerência com o próprio ato de dizer o que disse! Afinal, se a verdade não existe, não pode ser verdade a afirmação que você acabou de fazer!
Quando falamos sobre o conceito de verdade precisamos levar em conta duas grandes dimensões: primeira, qual é a definição de verdade que utilizamos e, segunda, quanto é possível conhecer sobre o que é verdade.
(Imagem: Landsat, 2013 Google. US Dept of State Geographer)
Já deu uma olhada na imagem acima? Conhece o planeta a que esta imagem se refere? Sim, é o nosso planeta, mas sob um ângulo pouco retratado. Você conhecia este ângulo? Pois bem, muitas vezes, o que estamos acostumados a ver sobre uma pessoa, sobre situações e sobre a vida, é apenas um dos ângulos possíveis de se ver sobre o que observamos. Pense nisso por um instante!
Se me pedissem para descrever a geografia do planeta Terra, visto do espaço, seguramente eu descreveria o outro lado globo terrestre, pois é este lado que é mais familiar e memorável a todos nós, e isto seria uma descrição “verdadeira”, porém uma descrição incompleta.
O conceito daquilo que é “verdadeiro” difere do conceito do que vem a ser “a verdade”, no que tange a completude do fato ou realidade observada e descrita. Assim, posso dizer algo que seja verdadeiro que, porém, se tomado como verdade absoluta, pode comunicar uma grande mentira!
É nesta esteira de consequencias da reflexão sobre a verdade que surge o momento histórico em que vivemos, quando existe a certeza coletiva quase que absoluta de que a verdade é relativa, e ouvimos quase que diariamente, que “existe a minha verdade e a sua verdade”. Pelo que já construímos aqui, sabemos que na verdade (!!!) pode existir algo que é verdadeiro para mim e que difira do que é verdadeiro para você, mas de fato só existe uma verdade.
Fato é que sobre muitas questões, não estamos prontos espiritualmente, psicologicamente e até fisicamente para compreender e absorver a verdade sobre todos os aspectos da existência. Assim como uma criança de 5 ou 6 anos não está pronta para absorver a verdade sobre como foi parar na barriga da mamãe, existem verdades (no plural por se tratar de diferentes áreas da existência, e não por serem versões da mesma realidade) sobre as quais não temos capacidade estrutural para compreender. Vou dar um exemplo.
Todos nós nascemos, ou seja, temos um início, um dia zero, em que a nossa história começou. Desta condição imposta à nossa existência, deriva a percepção óbvia de que tudo ao nosso redor um dia não existiu. Pergunto: como imaginar um Deus que não teve começo? É bem possível imaginar um Deus que não tenha fim, pois em geral acreditamos na vida eterna, mas acreditar em alguém que não tem começo? Não sei no seu caso, mas eu sempre acabo pensando na linha tempo para trás, e a conta não fecha pela razão material de que sempre há um começo! Esta conta fecha pela fé e pela lógica, mas isso é assunto para outra coluna!
Prometo que voltaremos ao assunto da verdade, mas quero deixar um ensinamento prático. Citei Deus no parágrafo acima, e conhecer a Deus é uma busca e um desafio diário que todo cristão deve buscar, mas é necessária uma correção. Apenas o conhecimento sobre Deus não é suficiente para que possamos desenvolver uma vida alinhada aos propósitos divinos. Certamente o diabo conhece mais de Deus do que eu e você, mas ainda assim não lhe serve em propósito. Conhecimento não é suficiente, mas é necessário, e consequência de caminhar com Deus, de absorver seus traços, seus jeitos, sua forma, até se tornar um “pequeno Cristo”, alguém que pode ser confundido com Ele!
O apóstolo Pedro nos ensina que devemos estar prontos para darmos razão da nossa fé. Vivemos em um tempo em que a razão é instrumento necessário para a prática do evangelho e de evangelizar e, infelizmente isto parece ser um desafio a muitos cristãos.
Para mim, é uma oportunidade e um prazer incrível, de colocar nosso intelecto a serviço do Criador! Nossa inteligência a serviço do professor da sabedoria!
Mais uma vez: Não deixe seu cérebro para trás na caminhada do evangelho!
Até a próxima!
Marcio Scarpellini é Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, Pós-Graduado em Educação, Política e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada à Aprendizagem, Psicanálise e Ciências da Religião. Diretor Escolar, professor e palestrante, é casado há 20 anos com a Patrícia e pai do João Pedro e da Manuella.
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