Após anos de atendimento aos usuários de drogas, através da escuta e intervenção psicoterapêutica, o profissional de saúde mental, especificamente os psicólogos que atuam nessa área, conseguem reconhecer algumas características comuns nas histórias de superação da dependência química. Duas delas são marcantes e muito nítidas em praticamente qualquer cenário de escuta envolvendo o dependente: fé e família!
Na absoluta maioria dos casos de dependência química ouvimos relatos de conflitos familiares, problemas amorosos e de contexto social propensos para o uso de entorpecentes, como regiões próximas ao tráfico ou parentes que já usam de forma abusiva substâncias legais, embora danosas, como o álcool e o cigarro. Isso é fruto de problemas que vão muito além do usuário. Também envolve a cultura, nossos valores e a organização social.
A própria Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) reconhece isso, por exemplo, na 5º edição do “Manual de Prevenção do uso de Drogas: capacitação para conselheiros e lideranças comunitárias”, ao dizer que quando uma sociedade é “focada no consumo, na qual o importante é o ‘ter’ e não o ‘ser’, e a inversão de crenças e valores gera desigualdades sociais, favorece a competitividade e o individualismo e não há mais ‘certezas’ religiosas, morais, econômicas ou políticas. Esse estado de insegurança, de insatisfação e de estresse constante incentiva a busca de novos produtos e prazeres – nesse contexto, as drogas podem ser um deles” (2013, pg. 101/102), grifo meu.
Veja que a questão religiosa e moral foram postas como um dos fatores importantes nesse contexto de instabilidade social favorável ao uso de drogas, quando eles deixam de ser valorizados e estáveis, e é justamente isso que vemos nos relatos dos usuários, uma carência por estabilidade emocional e referência familiar suficientes. Moralidade tem a ver com fé. É aqui onde entra o papel da família, da igreja e das comunidades terapêuticas de confissão religiosa, fazendo a diferença na vida dos usuários.
Estrutura familiar e o resgate da fé
O dependente químico é muitas vezes uma pessoa sem esperança, desacreditada em si mesma e também no mundo. Algumas vezes também desacreditada no próximo, como se ninguém pudesse lhe ajudar. Parte desse sofrimento vem de uma sequência de frustrações passadas, onde a capacidade de confiar foi perdida. Isso também pode vim de uma família desestruturada, onde não houve a criação de vínculos positivos entre pai e filho, mãe e filha, esposos, avós e assim por diante. No lugar de boas referências, tiveram más influências.
O SENAD também confirma essa realidade no mesmo manual que citei acima, mas dessa vez na página 223: “A família e a influência cultural são fatores importantes na determinação do padrão do uso e consumo do álcool e outras drogas. Há várias evidências de que os padrões culturas têm papel significativo no desenvolvimento do alcoolismo”.
É impossível ignorar a importância da estrutura familiar no combate a dependência química, assim como a fé. A crença em Deus ocupa, também, o lugar vazio deixado pela ausência afetiva de um pai ou de uma mãe, da morte de um ente querido ou de qualquer trauma existente em decorrência da vida. O dependente encontra na sua fé a referência que não teve, muitas vezes, dentro da própria casa, e isso é um divisor de águas em sua luta contra o vício, porque é o que lhe permite ter força e motivação para lutar.
Assim, como cidadãos devemos valorizar a importância da família como ponto de equilíbrio na sociedade. E como igreja de Cristo devemos investir cada vez mais nas comunidades terapêuticas, auxiliando projetos de sucesso como a Cristolândia, oferecendo uma alternativa de visão e abordagem metodológicas que o meio secular, o Estado, não oferece. Nós somos, sim, o diferencial. Somos o olhar mais amplo, além da política e das questões burocráticas. Temos a visão humana, mas principalmente a espiritual, e isto significa uma grande responsabilidade que temos com Deus e com a sociedade.
Por Marisa Lobo - Psicóloga, especialista em Direitos Humanos e autora de livros, como "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
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