Religião, política e sociedade: Um chamado bíblico

Série: Política na Cosmovisão Cristã.

Fonte: Ricardo SoaresAtualizado: terça-feira, 30 de setembro de 2025 às 17:56
(Foto: Unsplash/Ben White)
(Foto: Unsplash/Ben White)

Introdução

“Religião, política e futebol não se discutem”. Essa máxima popular ecoa em conversas por todo o Brasil, servindo como uma espécie de escudo para evitar debates acalorados.

No ambiente cristão, ela frequentemente se transforma em outra regra não escrita: a de que o crente deve se manter distante da política, pois como dizem; “política e religião não se misturam”.

Mas... será que essa cautela - que muitas vezes beira a omissão - é realmente o que a Bíblia nos ensina? É uma pergunta que não podemos ignorar.

Por outro lado, essa hesitação em trazer o tema para a mesa, não é sem motivo. Muitas vezes – por falta de sabedoria – o tema gera divisões dolorosas em nossas igrejas, famílias, amizades, nos frustra com a corrupção sistêmica, e por fim, nos leva a crer numa separação radical entre o “sagrado” (a vida na igreja) e o “secular” (o resto do mundo).

E em meio a tanta confusão e descrédito, a apatia parece ser o caminho mais seguro e espiritual.

Contudo, a fé bíblica nos convoca para uma jornada exatamente oposta: a do engajamento corajoso, porém, criterioso.

1. A Fé Além das Paredes do Templo

A Palavra de Deus não é um manual restrito à vida devocional; ela é a “cosmovisão” (lente) através da qual interpretamos toda a realidade.

Nela encontramos as palavras de Jesus que disse: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra...” (Mateus 28:18).

Se cremos que Jesus é Deus, cremos em suas palavras. Se cremos em suas palavras, cremos que Ele é Senhor sobre todas as coisas. E todas as coisas, são todas coisas, incluindo as estruturas que governam nossa sociedade.

Além disso, em Mateus 22.39 Jesus nos exorta a amar ao próximo como amamos a nós mesmos. E esse mandamento não pode ser plenamente obedecido se ignorarmos as leis, políticas e sistemas que afetam diretamente a vida, a dignidade e a justiça para o nosso próximo — seja na qualidade da saúde pública, na educação que seus filhos recebem ou na segurança da sua rua.

Sendo assim, ser indiferente à política é, em muitos casos, ser indiferente ao sofrimento e às necessidades daqueles que nos cercam, portanto, uma desobediência ao mandato de Jesus.

2. O Exemplo dos Profetas: Voz contra a Injustiça

E esse ensino permeia toda a Escritura. Os profetas do Antigo Testamento, como Isaías, Amós e Miquéias, entendiam isso perfeitamente. Eles não se calaram diante da injustiça social, da corrupção dos governantes ou da opressão dos vulneráveis.

Muito pelo contrário, suas mensagens eram um chamado contundente para que a retidão (justiça) fluísse como um rio perene na vida pública da nação (Amós 5:24).

Eles nos mostram que a espiritualidade autêntica não se esconde ou ignora a realidade social, mas a confronta com a verdade de Deus.

3. O Propósito do Engajamento: Sal, Luz e o Bem Comum

Ao longo desta série de colunas, nosso objetivo não é defender um partido ou uma ideologia específica, mas redescobrir o chamado bíblico para sermos sal da terra e luz do mundo (Mateus 5:13-14).

Não se trata de buscar poder pelo poder, mas de influenciar positivamente, buscar a justiça, defender os vulneráveis e promover o bem comum, refletindo o caráter do Reino de Deus na esfera pública.

Conclusão

Prepare-se para questionar ideias pré-concebidas, mergulhar em reflexões bíblicas profundas e descobrir como a fé cristã pode e deve influenciar nossas decisões, ações e contribuições para a sociedade de forma ética, íntegra e transformadora.

Para começar, nosso primeiro mergulho será no livro de Jeremias, onde encontraremos uma lição surpreendente sobre como viver a fé sob intensa pressão política.

Não perca nosso próximo artigo: "O Cristão e a Política".

 

Ricardo Soares (@ricardosoarespr) é pastor batista, músico, terapeuta, professor de teologia e filosofia, palestrante e escritor. Autor do livro “Introdução à Filosofia Cristã: O Encontro da Fé com a Razão”, atua na área de aconselhamento e desenvolvimento pessoal, ministrando cursos e palestras voltados para saúde emocional, espiritualidade e formação cristã. É casado com Sarah e pai de duas filhas, Pâmela e Polyana.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Por que estudar filosofia?

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