O Amor ao Próximo é a Medida de Tudo

Podemos usar a parábola do Bom Samaritano como exemplo de amor absoluto e sem qualquer mácula, que foi nos deixado pela Bíblia.

Fonte: Guiame, Sergio Renato de MelloAtualizado: quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024 às 13:26
(Foto: Unsplash/Jack Sharp)
(Foto: Unsplash/Jack Sharp)

O amor de Cristo é absoluto, é a medida de tudo, e quem se justifica dizendo que ama como Ele não está falando a verdade se ama com algum interesse que não seja o do próximo.

A lei diz para amarmos o próximo como a nós mesmos, mas jamais conseguiremos esse intento porque temos o DNA do pecado e do egoísmo. Ou seja, é algo impossível. Logo, o Evangelho recomenda imitarmos Jesus amando o próximo pensando apenas no próximo e em mais ninguém. O amor de Cristo é desinteressado, “santo, inculpável, puro, separado dos pecadores” (Hebreus 7:26).

Falando em interesse, já perceberam o quanto está difícil de achar alguém totalmente desinteressado em algo que não beneficie diretamente a si próprio. Parece que temos apenas uma regra de tratamento que vale por todas: a utilidade. Se aquela determinada pessoa é útil ou vai me servir para alguma coisa, então vou tentar usá-la de alguma forma. Esse parece ser o mandamento categórico da modernidade e do amor secular.

Pelo fato de o ser humano ter sido transformado em mera utilidade, se formos perguntar para qualquer um o que é amor virão variadas respostas. Não duvido que escutarei que amor ou ser amoroso é: não ser preconceituoso, ser tolerante, fiel à esposa, ao marido, não fazer o mal, fazer o bem, amar a si próprio e os outros. Todas estas formas de amar são manifestações de amor, mas devemos conhecer o verdadeiro amor pelo que os antigos falavam o que ele era, pois eles não tinham nada por que amar senão, apenas, a busca do próprio conceito de amor. Platão não tinha carros, casas, campos, filhos, marido, esposa, partidos, ideais, deuses, etc., por isso o nosso maior filósofo considerava como amor a ideia do Belo em si, alcançada pela beleza das coisas concretas (Banquete).

Mas eis que a essência do amor ainda não tinha chegado ao mundo pela pessoa certa. O amor até então ainda tinha sido um mero ensaio.

Podemos usar a parábola do Bom Samaritano como exemplo de amor absoluto e sem qualquer mácula, que foi nos deixado pela Bíblia. Ela usou como exemplo um passante que resolveu na hora acolher um desconhecido, mas quem merece mesmo todos os louvores e toda a glória é Jesus, exemplo máximo de amor ao próximo e fé. O nome deste amor é caridade, que é agir espontaneamente. Ou seja, ajudar o próximo só vale se for de coração.

Jesus disse: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: “Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver.” (Lucas 10:30-35).

Não querendo comparar o incomparável, mas apenas a título de explicação do verdadeiro amor de Cristo, na internet circula uma fala do megaempresário e ateu Silvio Santos, que segue transcrita no próximo parágrafo. Não tenho certeza absoluta se é dele mesmo, se ela foi produzida com algum recurso digital com a sua voz, não sei. A mensagem é bem comovente e tem a sua lógica.

Silvio Santos fala: “Paredes de hospitais já ouviram mais preces honestas do que igrejas; já viram despedidas e beijos mais sinceros do que em aeroportos; é num hospital que você vê um homofóbico ser salvo por um médico gay; a médica patricinha salvando a vida de um mendigo; na UTI observamos um judeu cuidando de um racista; um paciente policial e outro presidiário na mesma enfermaria recebendo ambos os mesmos cuidados; um paciente rico na fila de transplante hepático pronto para receber o órgão de um doador pobre.”

Os personagens de Silvio Santos estão dentro de uma relação que ainda gera um certo interesse. Não que eles sejam ou estejam sendo insensíveis e interesseiros, forçados a agirem pela profissão. Não estou sendo generalista. Até porque nenhum profissional pega a ficha do seu paciente antes de atendê-lo. Mas é diferente com o Bom Samaritano, que encontrou um desconhecido jogado no chão, sem pensar que poderia estar até ressuscitando um inimigo, e, apesar de tudo, não só o acolheu como fez praticamente tudo que estava ao seu alcance para salvar-lhe a vida. E, agora o mais importante, sem ter qualquer relação prévia com ele, qualquer indicativo de que a ajuda dada seria em troca de uma paga por um cargo, uma carreira, um emprego, ou uma mera troca de favores, um pagamento de uma dívida, enfim, uma obrigação. E acredito que este tipo de coração puro, a chamada caridade pelos antigos, é que deve nortear a interpretação da parábola bíblica aqui analisada e toda a nossa conduta de vida.

Cada personagem da mensagem de Silvio ainda tem lá as suas motivações e suas superações. O religioso, a religião; o médico gay, o ressentimento; a patricinha, a desigualdade social; o judeu, o ressentimento; o doador pobre, a desigualdade social.

Ora, Santo Agostinho tinha explicado que o amor por um determinado bem (bens materiais, pessoas, ideais, etc.) só é amor quando é visado o Bem em si, que é Deus. É neste sentido que devemos entender a frase de Santo Agostinho: Dilige et quod vis fac, que quer dizer ama e faz o que quiseres. Nada mais perfeito: Deus deu liberdade, então, se amares a Deus tudo o que fizeres será para o bem, porque terá o amor como fim-último.

Num mundo como o de hoje, cultural e politicamente polarizado, de tanto ódio, rivalidade e disputa de ideias, de tanta gente se fazendo de virtuosa, dissimulando um bom coração, é esteticamente útil a si próprio mostrar-se desejoso de um mundo menos desigual, mais tolerante, amoroso, afetuoso. Mas o amor de Cristo vai além de tudo isso ainda, o qual independe de qualquer condição social ou pessoal de ser. Enfim, o amor de Cristo não pressupõe algo a ser superado em nós mesmos.

Quando Jesus falou para amarmos o próximo por amor a Ele não estava querendo que fôssemos interesseiros. Se avistarmos alguém que necessita de ajuda, o amor de Cristo deve ser tão automático em nosso coração a ponto de nem precisarmos pensar por que estamos agindo de uma forma caridosa. Até porque tem muita gente que não acredita em Jesus, nem conhece a parábola do Bom Samaritano, e ama mais o próximo do que muitos outros que se dizem crentes e amantes de Cristo.

Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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