Sobre pornografia e negócios, qualquer semelhança não é mera coincidência

Sai a cultura comum, a nossa cultura de sempre, de valores, e entra o vazio tedioso, apressado por preencher lacunas, depressivo, niilista.

Fonte: Guiame, Sergio Renato de MelloAtualizado: terça-feira, 3 de setembro de 2024 às 18:02
(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Bom, se isso aqui cair em corações sujos, olhos maus, vou ser taxado de misógino. Mas vou em frente. Já fazendo minha autodefesa caso isso aconteça, explico que o meu foco aqui é falar sobre a cultura, como ela anda ultimamente, principalmente em tempos de internet, a necessária crítica a respeito dela, não a respeito de quem, homem ou mulher, tenha eventualmente a deixado com uma forma transfigurada, caricaturada, sem noção, sentido, cética, niilista.

Procurando explicações em causas naturais sobre o homem de negócios de hoje que pôs à venda o corpo e a alma só encontro palavras politicamente corretas que não representam nem um pouco a verdade que tem que ser representada e transcrita (“sem-vergonhice”, “vulgaridade”, “falta de vergonha na cara”). O homem de negócios a quem me refiro é a mulher que expõe e coloca à venda o seu corpo na internet sem qualquer pudor. Ela sabe do preço do serviço ou do produto que negocia, mas ignora o valor das coisas que está alienando.

Minha dificuldade de encontrar alguma coisa adequada seja por talvez não procurar em lugares mais propícios.

Pelo sim, pelo não, lendo A cultura moderna, de Roger Scruton, encontro na página 95 do livro do grande mestre conservador uma explicação natural bastante convincente por sua lógica com a Bíblia Sagrada. Ele não era cristão, ao menos no sentido religioso do que é ser cristão devoto e beato. Mas quem disse que precisamos ser religiosos para defender valores cristãos, que há necessidade de jejum, joelho no chão e oração para sairmos em defesa da civilização ocidental?

Scruton explica o que escrevo no próximo parágrafo de forma parafraseada.

Sai a cultura comum, a nossa cultura de sempre, de valores, e entra o vazio tedioso, apressado por preencher lacunas, depressivo, niilista. A elite pensante, dando conta deste vazio, tenta preenchê-lo com o que pode por meio da razão. Cansada de tanto procurar por respostas adequadas, acha o repúdio e passa a insultar a vida (Vide Pornografia e obscenidade, de Lawrence). A razão passa a atuar como sentimento. Surge o cinismo, um discurso maroto que sabe o que é e faz mas o esconde por meio de rótulos modernos. A arte assim surgida desdenha do que sobra da cultura comum do povo, originária, espontânea, e o pensamento ocupa-se de fantasias mórbidas.

Mas, depois de ler isso, ainda poderiam me perguntar: onde está a explicação encontrada? Está na paráfrase, na leitura intelectual ou filosófica que Scruton, o grande, senão o maior de todos os filósofos conservadores, talvez sem querer extraiu do seguinte texto:

“43 E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. 44 Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. 45 Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má.” (Mateus 12).

Já ouvi falar em ditados populares, e acho que eles dizem a verdade. Qualquer semelhança não é mera coincidência. A mentira tem pernas curtas. E por aí vai. São formas de falar bem conhecidas da cultura comum e da alta cultura que as ignoram. Por derradeiro, não há nada em oculto que não tenha sido revelado.

 

Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, membro da Igreja Universal do Reino de Deus e autor de obras jurídicas e dos seguintes livros: Fenomenologia de Jornal, O que não está na mídia está no mundo e Voltaram de Siracusa.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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