Jornalistas, políticos, padres, bispos, pastores, filósofos, delegados, promotores de justiça, juízes de direito, enfim, todos com algum poder de convencer pelas ideias e pela palavra podem se considerar dignos de suas profissões. Eles têm algum conhecimento a mais do que outros, com isso a chance de fazer justiça com as próprias mãos e, no entanto, não o fazem. De fato, há uma passagem bíblica que diz: “dos mansos é o reino da terra”. Não significa que eles estarão ao lado do Pai, necessariamente, só que, por conseguirem dominar os próprios instintos aqui neste mundo, conseguem ter a proeza de deixar nas mãos da própria sorte ou de Deus o destino dos injustos.
Não necessariamente que as pessoas que vou mencionar agora gostam de sofrer, mas há uma pontinha de sadomasoquismo maquiavélico e vitimista em suas ações. Quantas mulheres não virtuosas se sentem na obrigação de atender a uma voz interior que manda deixar-se imolar, dar a cara ao tapa, para que o marido seja preso em flagrante imediatamente, num ato de retaliação por um conflito que aconteceu em dois segundos, dias, meses, anos atrás? Freud explicaria a barbárie masculina na falta de sexo (ou sexo reprimido), considerando o Pai da Psicanálise que a civilização é o que é hoje, contida e mansa, mas com este mal-estar de tanta violência e desgraça, graças ao controle das próprias pulsões sexuais. Se for assim, os homens teriam que ser elogiados por seus atos heróicos de contensão da libido. As mulheres, por sua vez, agora cada vez mais convencidas de seus direitos, estão podendo mais do que os homens. Os podcasts, entrevistas, vídeos rápidos nas redes sociais de cunho altamente sexual que se pretende artísticos estão a meio caminho de uma nova barbárie. Elas, as mulheres, agora é que triunfam sobre a castidade dos homens, imitando as sereias que assim enganavam Ulisses: “Vem, Ulisses, vem, tu tão digno de louvores, tu de quem mais se honra a Grégia” (Homero, Odisseia, XII, 81).
Que as mulheres talvez se sintam na obrigação de retaliar os homens por tudo que lhes fizeram e ainda lhes fazem de mal é fato ou uma condição humana, mas qualquer lisonja ou elogio que recebem não têm mais a generosidade, o cavalheirismo, o galanteio de antes, agora sendo crime de assédio sexual ou piadas criminosas (bullying e do cyberbullying).
Nas famílias, a mesma coisa. A família é obra de Deus e serve para o propósito divino. Além de misturar sangue dar problema, causando caos e desordem, uma outra barbárie, como seria a passagem nesta terra se cada um não tivesse um mais próximo com quem contar? Mas nem todos se lembram disso na hora do sangue quente, cada um querendo que a razão esteja ao seu lado, esquecendo da razão de Deus, que por vezes só se revela tempos depois, quando a poeira tenha baixado e tudo até tenha sido esquecido. Agora, de cabeça fria, a mensagem da fé é revelada aos corações (quem sabe…).
Temos exemplos marcantes de gente que soube esperar a glória depois de morto. Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, por exemplo. Sócrates tomou cicuta, um veneno da época, depois de ter sido condenado pela acusação de corromper a alma de jovens ensinamentos politicamente incorretos. Sua mensagem de lealdade ao saber, à sabedoria, uma certa imitação de Jesus só que pela filosofia, nos ensina até hoje.
Os guardas municipais, policiais militares, agentes prisionais, delegados de polícia não têm vontade de dar aquela surra bem dada naqueles que eles prendem em flagrante? Os promotores de justiça, os juízes de direito, os desembargadores dos tribunais de justiça, os ministros dos tribunais superiores não têm vontade de dar aquela canetada nos criminosos que cometeram atos cruéis, deixando-os apodrecendo na cadeia? Os credores de alguma dívida não paga não ficam se mordendo por não poderem ir atrás dos seus devedores com uma pistola na mão?
Os presos não conseguem se conter diante do colega de cela que cometeu estupro contra menor de idade, por isso o segredo e a separação são a alma da uma ressocialização em paz. A lei separa primários de reincidentes, criminosos hediondos dos comuns. Depois que as portas do ergástulo são abertas, aqueles que mais podem se privar e se esconder das facções criminosas, pois os seus devedores estão com os dias contados.
Não significa que os mansos terão alguma recompensa no agora por agirem assim. Os agentes da lei não se deixam dominar por aumento de salários, nem todos os outros que preferem sofrer dano a fazer justiça com as próprias mãos.
Mas, felizmente, por obra do Espírito Santo, não é a glória de Freud e suas teorias psicanalíticas, da mulher vingadora, dos homens que as subjugam, nem de todos os agentes da lei que até se arriscam cumprindo as regras técnicas dos direitos humanos para fazer tudo direitinho e lá no final dar tudo certo. A glória dos mansos é a paz no presente e a certeza futura de que tudo acontecerá de acordo com a vontade de um Deus justo. É a consciência cristã do justo. Como afirmou Michel de Montaigne em seus Ensaios, “Toda pessoa honrada prefere perder a honra a agir contra a própria consciência”.
Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
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