
Conversando com muitos jovens e muitos pais eu descubro que nestas ‘famílias certinhas’ a sexualidade é vivenciada de forma bastante dissociada, ou seja, embora afirmem algo, acabam praticando o contrário.
A sexualidade, conforme entendida na tradição hebraico-cristã, é resultado da livre e soberana criação de Deus e serve ao propósito último de gerar uma intimidade/unidade entre o casal, cumprindo a meta final de um companheirismo (Genesis 2: xx). Todavia a sociedade, em uma de suas muitas distorções pós queda (afastamento de Deus), reduz TODA a dimensão da intimidade ao intercurso sexual e, ainda mais, estabelece como meta final do exercício da sexualidade o prazer fisiológico (orgasmo).
Assim, muitos casais que professam a fé cristã, vivenciam a sexualidade neste padrão da sociedade que os cerca e ‘esquecem’ das outras dimensões da mesma. A sexualidade é vivenciada de forma dissociada da ternura, do carinho, da valorização do outro, do afeto e até mesmo do compromisso.
Não são poucos os casais que, embora não tenham brigas e conflitos, também não tem gestos de carinho como um abraço, um beijo no cônjuge; não tecem palavras de elogio reafirmando o valor do outro enquanto pessoa humana; não tem um tempo de qualidade de diálogo com o cônjuge para ouvir mesmo suas ‘bobagens’. Entretanto à noite quando vão para o quarto, tem um intercurso sexual, acreditando que esse ato em si é a ÚNICA forma de expressarem seu afeto pelo outro.
Todavia os filhos que observam esta conduta dos pais – embora os pais nem se deem conta que estão sendo observados – concluem que a relação sexual nada tem a ver com atitudes de carinho, abraços, beijos, elogios, conversas… Facilmente são levados à conclusão que sexo é somente para sentir uma modificação visceral prazerosa e o outro é apenas um ‘acessório’ complementar para se atingir essa sensação – equivalente a qualquer assessório que pode ser adquirido em um sex shop.
Acabam reproduzindo essa dissociação de forma potencializada com o favorecimento e incentivo do contexto social. Desenvolvem relacionamentos de USO do outro (como a versão moderna do ficar), sem sequer estarem interessados REALMENTE no outro como pessoa. O interesse é somente na busca de sensações fisiológicas, denotando extremo egocentrismo e uma coisificação do outro ser humano – que não é reconhecido como alguém portador da imagem de Deus!
Como as sensações fisiológicas são insaciáveis e ‘viciantes’, facilmente a busca pelas mesmas torna-se compulsiva e abrem caminho para fantasias de ‘perversão’ (experimentar tais sensações através de condutas extremamente disfuncionais – como pedofilia, por exemplo).
Urge se romper este ciclo de dissociação, iniciando pelos pais, que devem procurar expressar diante dos filhos uma sexualidade integral, na qual o filho reconheça que o intercurso sexual que os pais vivenciam a portas fechadas é tão somente uma expressão das muitas expressões da TERNURA que existe no relacionamento entre eles, tais como os abraços, beijos, elogios, etc., que se vivenciam a todos os momentos do convívio familiar. Fazendo isso os pais estarão contribuindo para a construção de uma identidade sexual sólida dos filhos, que verão no outro não um OBJETO de sua busca sensorial, mas um SUJEITO pelo qual pode se encantar e desfrutar um relacionamento de compromisso para a vida!
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