Na noite de 4 de agosto de 2020, um homem mascarado entrou na loja de Bakhit Aziz Georgi, de 68 anos, no Egito. Ele foi sequestrado sob a mira de uma arma por ser membro da única família cristã em sua comunidade.
Quando Bakhit foi arrastado para a traseira de um veículo em frente à loja, a cena chamou a atenção de seu sobrinho, Youssef Samaan Girgis, de 35 anos. Ele se aproximou dos cinco homens armados, pensando que eram policiais. Um deles pediu o documento de Youssef — que também identificava sua religião.
Esta foi a última vez que Youssef viu a luz do dia em quase duas semanas.
“Quando ele viu minha carteira de identidade e percebeu que sou cristão, ele me perguntou se eu era parente de Bakhit”, disse Youssef à Portas Abertas. “Eu disse: ‘Ele é meu tio’. Foi quando eles apontaram uma arma para mim e me colocaram na traseira do caminhão com meu tio e fugiram”.
Youssef e seu tio permaneceram com os olhos vendados pelos próximos 13 dias e ficaram separados durante o cativeiro. Na escuridão, os terroristas lançaram insultos contra seus capturados, os chamando de “infiéis” e “contaminados”.
“Eu esperava que eles nos matassem a qualquer momento”, diz Youssef.
Esta não é a primeira vez que esta família lida com a violência. Em julho de 2016, o primo de Youssef, Osama (um dos filhos de Bakhit), também foi sequestrado e ainda não retornou para casa.
‘Eu senti as orações’
Youssef não dormiu naquela noite. Em vez disso, ele clamou a Deus.
“Eu orei a Deus com lágrimas para resgatar a mim e meu tio”, conta. “Fiquei acordado a noite toda chorando e orando a Deus”.
Os próximos 13 dias passaram como meses, diz Youssef. Ele recebia pouca comida e passava as noites dormindo no chão. “Cada dia era um pesadelo. Não conseguia distinguir o dia da noite”, lembra.
Assim como relataram outros ex-prisioneiros à Portas Abertas, a oração era seu conforto. Enquanto Youssef orava, Deus trazia à sua mente alguns versículos que o enchiam de esperança.
Youssef foi libertado e reencontrou seus três filhos. (Foto: Portas Abertas)
“Senti realmente um grande conforto de Deus, paz de espírito e tranquilidade ao declarar esses versículos”, lembra Youssef. “Eu sempre os repetia em minha mente. Muitas vezes, pedi a Deus que tivesse misericórdia de mim e me resgatasse desse tormento e dor. Quando orava, sentia conforto”.
Ele também sentiu outras pessoas orando por ele: “Senti as orações. Eu sabia que minha família, membros da minha igreja e muitos cristãos estavam orando por mim e por meu tio”, diz Youssef. “Todos nós somos um corpo em Cristo”.
As orações de Youssef foram atendidas em 17 de agosto. Ainda com os olhos vendados, ele ouviu a porta se abrir e suas mãos foram desamarradas. Em silêncio, ele foi colocado em um veículo. Após cerca de duas horas, o caminhão parou e ele foi empurrado para fora do veículo. Ouvindo o caminhão se afastar e percebendo que estava sozinho, Youssef removeu a venda e, pela primeira vez em 13 dias, abriu os olhos. Ele estava em um deserto perto de sua comunidade.
“Senti uma alegria muito grande”, diz ele. “Agradeci a Deus por me libertar. Toda a glória seja dada a Ele! Realmente pensei que nunca mais veria meus filhos. Agradeço a Deus por enviar este milagre”.
Cristãos como alvo
Cerca de 113 dias após a libertação de Youssef, Bakhit também voltou para casa em segurança. No dia 8 de dezembro de 2020, às 23h, ele viu sua família pela primeira vez em quatro meses.
“As orações fazem milagres”, diz Youssef. “Quando oramos juntos, sentimos que Deus estava conosco, nos guardando, e sentimos paz interior”.
De acordo com a Portas Abertas, a região do Egito onde eles moram já foi o lar de vários incidentes visando cristãos. “Esses homens escolheram Bakhit e Youssef porque são cristãos”, disse um especialista em perseguição local. “Isso acontece porque os extremistas muçulmanos pensam que os cristãos são seres humanos inferiores”.
No Egito, os terroristas também ficam impunes diante do sequestro de cristãos. Embora o sequestro de Osama tenha sido denunciado à polícia, as autoridades não investigaram o crime. Outro membro da família, que mantém anonimato por segurança, diz que essa pode ser a razão pela qual os sequestradores ousaram voltar.
“Não havia nada para detê-los”, disse este membro da família. “Se uma ação tivesse sido tomada contra os sequestradores no primeiro sequestro, o segundo sequestro não teria acontecido. E se a polícia também não fizer nada neste recente incidente, isso [acontecerá novamente] com outros cristãos”.