Extremistas hindus no sul da Índia espancaram crianças cristãs durante um culto, antes de registrar um boletim de ocorrência com falsas acusações contra a congregação, de acordo com um membro da igreja.
No dia 19 de janeiro, cristãos na vila de Malasamudra, estado de Karnataka, haviam começado um culto, quando cerca de 20 hindus radicais subiram as escadas para o terraço e começaram a tirar fotos e filmar. Mary Bellary, que junto com seu marido Hanumanthappa Bellary estavam dirigindo o culto, relataram o ataque à agência cristã ‘Morning Star News’.
"Eles acenderam as luzes das câmeras sobre as crianças e pedimos a eles, que por favor, fossem embora e não perturbassem as nossas orações", disse ela. “Mas eles continuaram tirando fotos, nos filmando e fazendo comentários como: 'Olha! Os cristãos se reuniram aqui no terraço para realizar conversões'".
Bellary e outras mulheres tentaram impedir os extremistas hindus de gravar vídeos das 12 crianças presentes, mas foram afastadas. Quando os cristãos pediram que fossem embora, os invasores colocaram as mãos no peito das mulheres e puxaram seus saris (peça de pano tradicional da vestimenta indiana feminina), rasgando-os, disse Bellary.
"Eles deram um soco no estômago do meu filho, de 15 anos, e também também agrediram crianças", disse ela ao Morning Star News. “As crianças foram chutadas no chão e espancadas nas costas. Meu tio e marido tentaram proteger as mulheres e crianças, mas esses homens eram muito agressivos e fisicamente mais fortes do que nós”.
"As crianças continuaram nos olhando, chorando por ajuda", acrescentou.
Aterrorizados com os ataques, os cristãos não saíram de suas casas no distrito de Gadag pelo resto do dia, segundo Bellary.
"Se soubermos que vocês saíram de suas casas e contaram a alguém sobre isso, incendiaremos suas casas e os queimaremos vivos", disseram os agressores aos cristãos.
Invertendo para confundir
Mais tarde naquela noite, policiais da delegacia de Gadag disseram aos cristãos que os extremistas hindus haviam apresentado uma queixa contra eles.
"O policial nos disse que atacamos algumas pessoas durante as orações cristãs naquela manhã e que elas foram feridas e hospitalizadas", disse ela. "Depois de nos atacar na manhã de 19 de janeiro, os extremistas hindus deram entrada em um hospital e apresentaram uma queixa falsa contra nós".
"Nosso povo ficou ferido, mas não saímos de nossas casas, temendo por nossas vidas, e lá na delegacia nossos agressores estavam influenciando a polícia a nos enquadrar como agressores".
Na delegacia, um inspetor informou o conselho dos cristãos de que, uma vez que a polícia já havia recebido uma reclamação do presidente da vila - que liderou o ataque - no dia anterior, ele não teve opção a não ser registrar o boletim de ocorrência contra os cristãos.
O inspetor acrescentou que, devido à imensa pressão da multidão extremista hindu, ele deveria prender os cristãos que poderiam ser libertados sob fiança.
"Essa discussão com policiais e líderes extremistas hindus continuou até às 23h", disse Johnson David, voluntário da Alliance Defending Freedom na Índia, ao Morning Star News. "Por fim, os próprios líderes concordaram que a multidão extremista hindu havia atacado os cristãos, e a polícia prometeu que os casos não serão registrados contra nenhuma das partes".
Contexto
A Índia está classificada em 10º lugar na lista de observação mundial do Portas Abertas para 2020 sobre os países onde é mais difícil ser cristão. O país ficou em 31º em 2013, mas sua posição piorou desde que o primeiro-ministro Narendra Modi e seu partido nacionalista hindu Bharatiya Janata subiram ao poder em 2014.
Mais de 1.400 incidentes de perseguição contra cristãos no país foram relatados desde 2014, de acordo com uma iniciativa da ADF Índia.